O meu apostolado sacerdotal desempenha-se em particular entre os jovens. […] A juventude sente-se ameaçada por muitos lados. São muitos os falsos profetas, os vendedores de ilusões. São demasiados os insinuadores de falsas verdades e de ideais ignóbeis. […] Então, que fazer? Como comportar-se?
O que dizer? Todos nós sabemos quanto é difícil para um jovem de hoje viver como cristão. O contexto cultural, o contexto mediático, oferece um caminho muito diferente do de Cristo.
Inclusive, parece que torna impossível ver a Cristo como centro da vida e vivê-la como Jesus no-la mostra. Não obstante, creio também que muitos percebem cada vez mais a insuficiência de todas essas propostas, desse estilo de vida que, no fim, sempre deixa vazios.
Neste sentido, parece-me que as leituras da liturgia de hoje – a do Deuteronômio (30, 15-20) e a passagem evangélica de São Lucas (9, 22-25) – respondem ao que, em substância, deveríamos sempre dizer aos jovens e sempre a nós mesmos.
Como o senhor disse, a sinceridade é fundamental. Os jovens devem perceber que não dizemos palavras não vividas por nós mesmos, mas falamos porque encontramos e procuramos encontrar, a cada novo dia, a verdade como verdade para nossa vida.
Só se seguimos esse caminho, se procuramos nos assemelhar a essa vida e assemelhar nossa vida à do Senhor, só então também as palavras podem ser críveis e ter uma lógica visível e convincente.
A regra fundamental: escolher a vida
Retorno ao Deuteronômio. A grande regra fundamental hoje, não somente para a Quaresma, mas também para toda a vida cristã, é: “Escolhe a vida. Tens diante de ti morte e vida: escolhe a vida”.
E parece-me que a resposta é natural. São poucos os que nutrem no mais profundo do seu ser uma vontade de destruição, de morte, os que já não querem o ser, a vida, porque para eles tudo é contraditório.
Infelizmente, porém, trata-se de um fenômeno que se alastra. Com todas as contradições e as falsas promessas, a própria vida parece contraditória; parece já não ser um dom, mas uma condenação, e assim há quem prefira a morte à vida.
Mas normalmente o homem responde: sim, quero a vida.
Contudo, permanece a questão de como encontrar a vida, o que escolher, como escolher a vida.
E já conhecemos as propostas que normalmente são feitas: ir à discoteca, agarrar tudo quanto é possível, considerar a liberdade como sendo o fazer o que se quer, tudo quanto venha à mente num momento determinado.
Pelo contrário, sabemos – e podemos demonstrar – que este é um caminho de mentira, porque no seu final não se encontra a vida, mas na realidade encontra-se o abismo do nada. Escolhe a vida!
Escolher a vida é escolher Jesus Cristo
A mesma leitura diz: Deus é a tua vida, tu escolheste a vida e fizeste a escolha: Deus. Isto me parece fundamental.
Só assim o nosso horizonte é suficientemente amplo e somente assim estamos na fonte da vida, que é mais forte do que a morte, do que todas as ameaças da morte.
Portanto, a escolha fundamental é esta aqui indicada: escolhe Deus. É preciso compreender que quem caminha sem Deus, no fim se encontra na escuridão, mesmo se passa por momentos nos quais parece ter encontrado a vida.
Depois, o passo ulterior é como encontrar Deus, como escolher Deus. Aqui chegamos ao Evangelho: Deus não é desconhecido, não é uma hipótese talvez do primeiro início da criação. Deus é de carne e osso. É um de nós.
Conhecemo-Lo com o seu rosto, com o seu nome. É Jesus Cristo quem nos fala no Evangelho. É homem e Deus. E sendo Deus, escolheu o homem para fazer com que tivéssemos a possibilidade de escolher Deus.
Portanto, é preciso entrar no conhecimento e depois na amizade de Jesus para caminhar com Ele.
Parece-me ser este o ponto fundamental em nossa dedicação pastoral aos jovens, a todos, e mais especialmente aos jovens: atrair a atenção para a escolha de Deus, que é a vida; para o fato de que Deus existe, e existe de um modo muito concreto. E ensinar a amizade com Jesus Cristo.
Cristo está presente na Sua Igreja
Há também um terceiro passo. A amizade com Jesus não é uma amizade com uma pessoa irreal, com alguém que pertence ao passado ou está longe dos homens, à direita de Deus.
Cristo está presente em seu Corpo, que ainda é de carne e osso: é a Igreja, a comunhão da Igreja. Devemos construir e tornar mais acessíveis comunidades que reflitam, que sejam o espelho da grande comunidade da Igreja vital.
É um conjunto: a experiência vital da comunidade, com todas as debilidades humanas, mas, apesar disso, real, com um caminho claro e uma sólida vida sacramental, na qual podemos tocar também aquilo que nos possa parecer muito distante: a presença do Senhor.
Deste modo – para voltar ao Deuteronômio, do qual parti – podemos aprender também os Mandamentos, porque a leitura diz: escolher Deus significa escolher segundo a sua Palavra, viver segundo a Palavra.
Num primeiro momento, isto parece um pouco positivista: são imperativos. Mas o mais importante é o dom, sua amizade. Em seguida, podemos compreender que os indicadores de estrada são explicações da realidade dessa nossa amizade.
Formemos comunidades nas quais se reflita a Igreja
Esta – podemos dizer – é uma visão geral, tal como se desprende do contato com a Sagrada Escritura e da vida diária da Igreja.
Depois se traduz, passo a passo, nos encontros concretos com os jovens: guiá-los ao diálogo com Jesus na oração, na leitura da Sagrada Escritura – sobretudo a leitura em comum, mas também a pessoal – e na vida sacramental.
São todos passos para tornar presentes essas experiências na vida profissional, mesmo se frequentemente o contexto estiver marcado por uma total ausência de Deus e pela aparente impossibilidade de vê-Lo presente.
Mas precisamente por isso devemos – com nossa vida e experiência de Deus – tentar fazer entrar até neste mundo afastado de Deus a presença de Cristo.
Há uma sede de Deus. Faz pouco tempo recebi, em visita ad limina, os bispos de um país onde mais da metade da população se declara atéia ou agnóstica. Contudo, disseram-me: na realidade, todos têm sede de Deus. Ocultamente, existe esta sede.
Por isso, comecemos primeiro nós, com os jovens que possamos encontrar. Formemos comunidades nas quais se reflita a Igreja, aprendamos a amizade com Jesus. Assim, cheios dessa alegria e dessa experiência, também hoje poderemos tornar Deus presente neste nosso mundo.
Infelizmente hoje também nós, sacerdotes, quando no Evangelho se fala de Inferno, tergiversamos o próprio Evangelho. Não se fala dele, ou não sabemos falar do Paraíso.
Não sabemos falar de vida eterna. Arriscamos dar à Fé uma dimensão apenas horizontal ou demasiado afastada a dimensão horizontal da vertical.
Com razão o senhor abordou temas fundamentais da Fé que infelizmente aparecem raramente em nossa pregação. Na Encíclia Spe salvi, eu quis falar precisamente também do Juízo Final, do juízo em geral e, nesse contexto, também do Purgatório, do Inferno e do Paraíso.
Penso que todos nós estamos ainda influenciados pelas objeções dos marxistas, segundo as quais os cristãos só falaram do além e descuidaram-se da Terra. Assim, queremos demonstrar que nos comprometemos de fato pela Terra e não somos pessoas que falam de realidades distantes, que não a ajudam.
A reconstrução da Terra só pode ser feita reencontrando Deus na alma
Embora seja justo mostrar que os cristãos trabalham pela Terra – e todos são chamados a trabalhar para que ela seja realmente uma cidade para Deus e de Deus – não devemos esquecer a outra dimensão, sem a qual não trabalharemos bem pela Terra.
Uma das minhas finalidades fundamentais, ao escrever a Encíclia, foi a de mostrar isso.
Quando não se conhece o juízo de Deus, não se conhece a possibilidade do Inferno, do fracasso radical e definitivo da vida, não se conhece a possibilidade e a necessidade da purificação.
Então o homem não trabalha bem pela Terra porque no fim perde os critérios, não conhece mais a si mesmo, nem a Deus, e destrói a Terra.
Todas as grandes ideologias prometeram: nós cuidaremos das coisas, não mais negligenciaremos a Terra, criaremos um mundo novo, justo, correto, fraterno.
Pelo contrário, destruíram o mundo. Vemos isso com o nazismo, vemo-lo também com o comunismo: eles prometeram construir o mundo como este deveria ter sido e, ao contrário, o destruíram.
Nas visitas ad limina dos Bispos dos países ex-comunistas sempre vejo como nessas terras ficaram destruídos não só o Planeta, a ecologia, mas, sobretudo, e mais gravemente, as almas.
Reencontrar a consciência verdadeiramente humana, iluminada pela presença de Deus, é a primeira tarefa de reconstrução da Terra. Essa é a experiência comum daqueles países.
A reconstrução da Terra, respeitando o grito de sofrimento desse Planeta, só pode ser realizada reencontrando Deus na alma, com os olhos abertos para Ele.

O Juízo Final de Deus garante a justiça
Por isso, o senhor tem razão: devemos falar de tudo isso precisamente por responsabilidade para com a Terra, com os homens que vivem hoje.
Devemos falar também do pecado como possibilidade de destruírem-se a si mesmos, e assim de destruir também outras partes da Terra. Na Encíclia, tratei de demonstrar que precisamente o Juízo Final de Deus garante a justiça.
Queremos um mundo justo. Mas não podemos reparar todas as destruições do passado, todas as pessoas injustamente torturadas e assassinadas. Só mesmo Deus pode criar a justiça, que deve ser justiça para todos, também para os mortos.
Como diz Adorno, um grande marxista, somente a ressurreição da carne – que ele considera irreal – poderia criar justiça. Nós cremos nessa ressurreição da carne, na qual não serão todos iguais.
Costuma-se pensar hoje: “O que é o pecado? Deus é grande e nos conhece; portanto, o pecado não conta; no final Deus será bom para com todos”.
É uma bela esperança, mas existem a justiça e a verdadeira culpa. Aqueles que destruíram o homem e a Terra não poderão sentar-se imediatamente à mesa de Deus, junto com suas vítimas. Deus cria justiça. Devemos ter isso presente.
Por isso pareceu-me importante escrever também esse texto sobre o Purgatório, que para mim é uma verdade tão óbvia, tão evidente e tão necessária e consoladora, que não pode faltar.
Procurei dizer: talvez não sejam muitos os que se destruíram assim, que são para sempre incuráveis, que não têm elemento algum sobre o qual possa se basear o amor de Deus, que já não têm em si mesmos um mínimo de capacidade de amar. Isso seria o Inferno.
Por outro lado, são certamente poucos – ou, pelo menos, não demasiados – os que são tão puros que possam entrar imediatamente na comunhão de Deus.
Muitíssimos de nós esperamos que haja algo sanável em nós, que haja uma vontade final de servir a Deus e aos homens, de viver segundo Deus.
Mas há numerosas feridas, muita imundície. Temos necessidade de ser preparados, purificados. Esta é nossa esperança: mesmo com muitas imundícies em nossa alma, no final o Senhor nos dará a possibilidade, nos lavará finalmente com sua bondade, que vem de sua Cruz.
Assim nos torna capazes de ser eternamente para Ele. Deste modo, o Paraíso é a esperança, é a justiça finalmente realizada.
Onde os homens vivem segundo Deus, aparece um pouco de Paraíso
E dá-nos também os critérios para viver, para que este tempo seja de algum modo um paraíso, para que seja uma primeira luz do Paraíso. Onde os homens vivem segundo esses critérios, aparece um pouco de Paraíso no mundo, e isso é visível.
Parece-me também uma demonstração da verdade da Fé, da necessidade de seguir a via dos Mandamentos, da qual devemos falar mais. Estes são realmente indicadores de estrada e nos mostram como viver bem, como escolher a vida.
Por isso, devemos falar também do pecado e do Sacramento do perdão e da reconciliação. Um homem sincero sabe que é culpável, que deveria recomeçar, que deveria ser purificado.
E é esta a maravilhosa realidade que o Senhor nos oferece: há uma possibilidade de renovação, de sermos novos. O Senhor recomeça conosco e podemos, assim, recomeçar também com os demais, em nossa vida.
Esse aspecto da renovação, da restituição de nosso ser depois de tantas coisas equivocadas, depois de tantos pecados, é a grande promessa, o grande dom que a Igreja oferece. E que, por exemplo, a psicoterapia não pode oferecer.
A psicoterapia está hoje muito difundida e é muito necessária, tendo em conta tantas psiques destruídas ou gravemente feridas. Mas as possibilidades da psicoterapia são muito limitadas: ela pode apenas tratar de reequilibrar um pouco uma alma desequilibrada.
Não pode dar uma verdadeira renovação, uma superação dessas graves enfermidades da alma. Por isso, é sempre provisória, nunca definitiva.
O Sacramento da Penitência nos oferece a ocasião de nos renovarmos até o fundo, com o poder de Deus – Ego te absolvo –, que é possível porque Cristo tomou sobre Si esses pecados, essas culpas.
Parece-me que precisamente hoje seja essa uma grande necessidade. Podemos ser sanados novamente.
As almas que estão feridas e enfermas, como é a experiência de todos, precisam não só de conselhos, mas também de uma autêntica renovação, a qual pode vir exclusivamente do poder de Deus, do poder do Amor crucificado.
Parece-me ser este o grande nexo dos mistérios que, por fim, incidem realmente em nossa vida. Devemos nós mesmos meditá-los outras vezes e assim fazê-los chegar de novo à nossa vida.