Vosso curso se realiza, providencialmente, durante o Ano Sacerdotal, que convoquei por ocasião do 150° aniversário do nascimento para o Céu de São João Maria Vianney, que exerceu de modo heroico e fecundo o ministério da Reconciliação.
Como afirmei na carta de proclamação:
Todos os sacerdotes devemos considerar como dirigidas pessoalmente a nós as palavras que ele punha na boca de Jesus: “Encarregarei meus ministros de anunciar aos pecadores que estou sempre disposto a recebê-los, que minha misericórdia é infinita”.
Uma intensa dimensão penitencial pessoal
Nós, sacerdotes, podemos aprender do Santo Cura de Ars não só uma confiança infinita no Sacramento da Penitência, que nos impulsione a pô-lo no centro de nossas preocupações pastorais, mas também o método do “diálogo da salvação” que deve se estabelecer nele.[1]
Onde se fixam as raízes da heroicidade e fecundidade com as quais São João Maria Vianney viveu seu ministério de confessor? Antes de tudo numa intensa dimensão penitencial pessoal.
A consciência de sua própria limitação e a necessidade de recorrer à Misericórdia divina para pedir perdão, para converter o coração e para ser sustentado no caminho da santidade são fundamentais na vida do sacerdote: só quem já experimentou pessoalmente sua grandeza pode ser anunciador e administrador convencido da Misericórdia de Deus.
Todo sacerdote se torna ministro da Penitência por sua configuração ontológica a Cristo, sumo e eterno Sacerdote, que reconcilia a humanidade com o Pai; entretanto, a fidelidade na administração do Sacramento da Reconciliação é confiada à responsabilidade do presbítero.
É preciso voltar ao confessionário
Vivemos num contexto cultural marcado pela mentalidade hedonista e relativista, que tende a eliminar Deus do horizonte da vida, não favorece a aquisição de um quadro claro de valores de referência e não ajuda a discernir o bem do mal e a amadurecer um senso correto do pecado.
Essa situação torna ainda mais urgente o serviço de administradores da Misericórdia divina. […]
Queridos irmãos, é preciso voltar ao confessionário, como lugar no qual se celebra o Sacramento da Reconciliação, mas também como lugar no qual se “habita” com maior frequência, para que o fiel possa encontrar misericórdia, conselho e consolo, sentir-se amado e compreendido por Deus e experimentar a presença da Misericórdia divina, junto com a presença real na Eucaristia.
A “crise” do Sacramento da Penitência, da qual se fala tantas vezes, interpela, sobretudo, os sacerdotes e sua grande responsabilidade de educar o povo de Deus nas radicais exigências do Evangelho.
Em particular, pede-lhes que se dediquem generosamente a escutar as confissões sacramentais; que guiem o rebanho com valentia, para que não se acomode à mentalidade deste mundo (cf. Rm 12, 2), mas que também saiba tomar decisões contra a opinião geral, evitando acomodamentos ou acordos.
Por isso é importante que o sacerdote viva uma tensão ascética permanente, alimentada pela comunhão com Deus, e se dedique a uma atualização constante no estudo da teologia moral e das ciências humanas.
“Como é grande o amor de nosso Deus”
São João Maria Vianney sabia instaurar um verdadeiro “diálogo de salvação” com os penitentes, mostrando a beleza e a grandeza da bondade do Senhor e suscitando o desejo de Deus e do Céu, do qual os santos são os primeiros portadores.
Afirmava:
Nosso Deus sabe tudo. Antes mesmo de você confessar, já sabe que vai pecar novamente e, porém, lhe perdoa. Como é grande o amor de nosso Deus, que chega até a esquecer voluntariamente o futuro, para nos perdoar![2]
O sacerdote tem a tarefa de favorecer a experiência do “diálogo de salvação” que, nascendo da certeza de ser amados por Deus, ajuda o homem a reconhecer seu pecado e a introduzir-se, progressivamente, na dinâmica estável de conversão do coração que leva à renúncia radical ao mal e a uma vida segundo Deus. [3]
Queridos sacerdotes, que ministério extraordinário o Senhor nos confiou!
Assim como, na Celebração Eucarística, Ele Se põe nas mãos do sacerdote para continuar presente no meio de Seu povo, de modo análogo, no Sacramento da Reconciliação.
Ele Se confia ao sacerdote para que os homens experimentem o abraço com o qual o pai acolhe o filho pródigo, restituindo-lhe a dignidade filial e a herança (cf. Lc 15, 11-32).
Que a Virgem Maria e o Santo Cura d’Ars nos ajudem a experimentar em nossa vida a largueza, a extensão, a altura e a profundidade do amor de Deus (cf. Ef 3, 18-19), para que sejamos administradores fiéis e generosos desse amor.