O Evangelista São Mateus explica o significado deste momento, esboçando também a maneira como José o viveu.

Todavia, para se compreender plenamente o seu conteúdo e o seu contexto, é importante ter presente a passagem paralela do Evangelho de São Lucas.

Com efeito, a origem da gravidez de Maria, por “obra do Espírito Santo”, posta em relação com o versículo que diz: “O nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua Mãe, desposada com José, antes de habitarem juntos, achou-Se que tinha concebido por virtude do Espírito Santo” (Mt 1, 18), encontra uma descrição mais ampla e mais explícita naquilo que lemos em São Lucas sobre a anunciação do nascimento de Jesus: “O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José, da casa de Davi. E o nome da virgem era Maria” (Lc 1, 26-27).

“Como se realizará isso, pois Eu não conheço homem?”

As palavras do Anjo: “Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1, 28), provocaram em Maria uma perturbação íntima e simultaneamente estimularam-Na a refletir. Então, o mensageiro tranquilizou a Virgem e, ao mesmo tempo, revelou-Lhe o desígnio especial de Deus a seu respeito:

Não tenhas receio, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um Filho, ao qual porás o nome de Jesus.

Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus dar-Lhe-á o trono de seu pai Davi (Lc 1, 30-32).

O Evangelista tinha afirmado, pouco antes, que, no momento da Anunciação, Maria estava desposada com um homem chamado José, da casa de Davi.

A natureza destes esponsais é explicitada, indiretamente, quando Maria, depois de ter ouvido aquilo que o mensageiro dissera do nascimento do Filho, pergunta: “Como se realizará isso, pois Eu não conheço homem?” (Lc 1, 34).

E então é-Lhe dada esta resposta:

O Espírito Santo descerá sobre Ti e a potência do Altíssimo estenderá sobre Ti a sua sombra. Por isso mesmo, aquele que vai nascer será santo e há de chamar-Se Filho de Deus (Lc 1, 35).

Maria, embora fosse já desposada com José, permanecerá virgem, pois o Menino, n’Ela concebido desde o momento da Anunciação, era concebido por obra do Espírito Santo.

Neste ponto o texto de São Lucas coincide com o texto de São Mateus (1, 18) e serve-nos para explicar o que lemos neste último.

Se, depois do desponsório com José, se verificou que Maria “tinha concebido por obra do Espírito Santo”, este fato corresponde a todo o conteúdo da Anunciação e, em particular, às últimas palavras pronunciadas por Maria: “Faça-se em Mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

O mensageiro divino introduz José no mistério da Maternidade de Maria

Correspondendo ao desígnio claro de Deus, Maria, com o passar dos dias e das semanas, manifesta-Se, diante das pessoas que contactava e diante de José, como estando grávida, como Mulher que deve dar à luz e que traz em Si o mistério da maternidade.

Nestas circunstâncias, “José, seu esposo, sendo justo e não A querendo expor à infâmia, resolveu desvincular-se d’Ela secretamente” (Mt 1, 19). Ele não sabia como comportar-se perante a surpreendente maternidade de Maria.

Buscava, certamente, uma resposta para essa interrogação inquietante; mas procurava, sobretudo, uma maneira airosa de sair daquela situação difícil para ele.

Enquanto andava a pensar nisto, apareceu-lhe, em sonho, um Anjo do Senhor, que lhe disse: “José, filho de Davi, não temas receber contigo Maria, tua esposa, pois o que n’Ela Se gerou é obra do Espírito Santo.

Ela dará à luz um Filho, a quem porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados (Mt 1, 20-21).

Existe uma estreita analogia entre a Anunciação do texto de São Mateus e a do texto de São Lucas. O mensageiro divino introduz José no mistério da maternidade de Maria.

Aquela que, segundo a lei, é a sua esposa, permanecendo Virgem, tornou-Se Mãe pela virtude do Espírito Santo. E quando o Filho que Maria traz no seio vier ao mundo, há de receber o nome de Jesus. Este nome era bem conhecido entre os israelitas; e, por vezes, era por eles posto aos filhos.

Neste caso, porém, trata-se de um Filho que – segundo a promessa divina – realizará plenamente o que este nome significa: Jesus-Yehosua, que quer dizer “Deus salva”.

O mensageiro dirige-se a José como “esposo de Maria”; dirige-se a quem, a seu tempo, deverá pôr tal nome ao Filho que vai nascer da Virgem de Nazaré, desposada com ele. Dirige-se a José, portanto, confiando-lhe os encargos de um pai terreno em relação ao Filho de Maria.

“Despertando do sono, José fez como lhe ordenara o Anjo do Senhor e recebeu a sua esposa” (Mt 1, 24).

Ele recebeu-A com todo o mistério da sua maternidade; recebeu-A com o Filho que havia de vir ao mundo, por obra do Espírito Santo. Demonstrou deste modo uma disponibilidade de vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem àquilo que Deus lhe pedia por meio do seu mensageiro.

(Exortação Apostólica Redemptoris Custos do Sumo Pontífice São João Paulo II sobre a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja.)