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Contos Infantis


Poderosíssima oração
 
AUTOR: IR. GABRIELLI RAMOS DE SIQUEIRA, EP
 
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Ao se deparar com Louise, de joelhos, diante de uma imagem de Nossa Senhora, o jacobino deu largas à sua cólera: “Ei, tu não sabes que essas devoções fanáticas são proibidas por lei?”…

Estamos no ano de 1789. Às margens do Rio Loire, destacando-se sobre o bosque, ergue-se um esplêndido castelo onde habita uma nobre família: o Duque Jean de La Touche, sua esposa Marguerite e a filha Louise, de apenas dez anos.

Havia já vários dias que a duquesa, ajudada por Louise e algumas criadas, se esmerava em adornar a capela para a solene cerimônia que em breve ali teria lugar. Aproximava-se a comemoração de Nossa Senhora do Rosário, padroeira da família. E se tornara tradição a visita do Bispo ao castelo para presidir a Santa Missa, da qual participariam tanto amigos da família vindos de longe, quanto os habitantes da região.

Chegada a festa tão esperada, a alegria não podia ser maior! Depois da Celebração Eucarística, todos foram conduzidos ao salão principal a fim de saborearem um grande banquete oferecido pelo duque. E como coroamento de tudo, terminada a lauta refeição regressaram à capela para rezarem juntos o Santo Rosário, cujas dezenas eram intercaladas por músicas e piedosos atos de louvor à Santíssima Virgem.

As graças derramadas pela Santa Mãe de Deus naquele dia encontraram particular abertura na alma de Louise. Desde muito pequenina sua mãe recitava com ela o Terço todos os dias, ensinando-lhe que esta linda oração, tão singela na aparência, nos une estreitamente a Nossa Senhora. Maria é nossa Mãe e nunca abandona a quem se põe sob sua poderosa intercessão, sobretudo os que o fazem rezando o Santo Rosário, assegurava a duquesa.

Quem visse a bela cena desenrolada na capela do castelo jamais poderia imaginar o que haveria de acontecer apenas alguns anos depois, quando, em 1792, o terror se espalhou pela França: o Duque de La Touche e sua esposa foram capturados e presos num antigo mosteiro, transformado em cárcere pelos jacobinos.

E Louise? O que aconteceu com ela? Uma fiel ama conseguiu fugir com a nobre menina e ambas se refugiaram na casa do padeiro, disfarçadas de simples camponesas. Ali passavam o dia, ocultando-se dos olhares que podiam denunciá-las. E se Louise precisava sair de seu refúgio, sempre acompanhada pela ama, mais do que ser presa temia ela cruzar pelas ruas com a carroça do sanguinário tribunal que conduziria seus amados pais à guilhotina.

Sentindo-se fraca e isolada, incapaz de qualquer tentativa para salvá-los, refugiou-se n’Aquela que era sua única consoladora: a Virgem do Rosário. Cheia de ardor, passou a recitar o Terço em toda as suas horas vagas, chegando a completar cinco, num dia só!

Que admirável ver a fervorosa duquesinha rezando aos pés de Maria, com inteira confiança! Enquanto a pequena louvava Nossa Senhora com a Saudação Angélica, um Anjo retirava-lhe dos lábios magníficas pedras preciosas e pérolas com que ia confeccionando uma coroa para ornar a fronte da Rainha do Céu e da terra. E sendo Ela Mãe de Misericórdia, não podia ficar insensível a tão sincera oração, nem às lágrimas de dor que lhe rolavam pela face, as quais o Anjo recolhia e transformava em radiantes safiras.

Numa tarde, estava Louise rezando e eis que um jacobino entrou sorrateiramente em seu esconderijo. Ao se deparar com a menina, de joelhos, diante de uma imagem de Nossa Senhora, deu largas à sua cólera. Agarrando-lhe pelo braço, gritou de maneira assustadora:

— Ei, tu não sabes que essas devoções fanáticas são proibidas pela lei? O que estás fazendo?

Longe de estremecer diante do violento personagem, Louise respondeu com firmeza e convicção:

— Estou rezando o Rosário, bem certa de que a Rainha do universo me concederá o que tanto anseio.

— Mas o que estás pedindo?

— A libertação de meus pais…

— Quem são seus pais?

— Os Duques de La Touche.

Naquele momento o jacobino sentiu em sua alma uma grande nostalgia de algo que há muito desprezara. Também ele havia rezado o Santo Rosário quando criança. Contudo, as más companhias o levaram, na adolescência, a abandonar esta entranhada devoção.

“Sei que Nossa Senhora é poderosíssima e nunca
desampara quem a Ela recorre”
Nossa Senhora entrega o Santo Rosário a
São Domingos de Gusmão Santuário de Lourdes (França)

Apesar dos pesares, as saudades dos tempos em que rezava o Terço ajoelhado na igrejinha da paróquia embargava-lhe o coração. Por isso perguntou, já sem a agressividade de antes:

— E tu crês que a Senhora a quem te diriges é capaz de salvá-los?

— Sim, porque sei que é poderosíssima e nunca desampara quem a Ela recorre com plena confiança.

— Pois vamos ver o que será capaz de fazer…

Comovido pela fé da menina, tão inocente e pura, a dura alma do jacobino sentia um ardente desejo de ajudá-la. Tanta certeza no poder de impetração da Virgem Maria não podia ser defraudada. E como era um comissário de influência no tribunal, decidiu fazer o que estivesse a seu alcance, a fim de que os pais de Louise voltassem para junto dela.

Depois de conversar com alguns ministros do comitê, obteve a ansiada libertação e, como garantia de que tudo transcorreria sem incidentes, fez com que alguns amigos de sua confiança acompanhassem os duques até a casa do padeiro, onde ele mesmo assistiria ao reencontro.

Valeu a pena esperar! Logo que os duques atravessaram os umbrais da porta, Louise se lançou nos braços dos pais e os três, fortemente abraçados, choravam de emoção, com a alma transbordante de gratidão a Maria Santíssima. Difícil imaginar cena mais jubilosa e pungente.

O coração do jacobino, então, estava completamente transformado! Tocado pela graça, reconhecia o poder do Santo Rosário que, além de ter salvado a vida dos duques, regenerara sua própria alma. Sentindo forças para abandonar o mau caminho que havia abraçado, fez o firme propósito de uma mudança radical no rumo de sua vida, que agora queria empregar no serviço do bem.

Enfrentando mil peripécias, conseguiu chegar até um sacerdote camuflado numa granja das redondezas, com quem pôde se confessar, assistiu clandestinamente à Santa Missa e recebeu a Sagrada Comunhão.

A partir daquele dia tornou- -se um apóstolo do Santo Rosário, terminando seus dias como um herói. (Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2018, n. 202, p. 46-47)

 
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