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Catecismo


Falsos deuses e falsos profetas
 
AUTOR: SANTIAGO VIETO RODRÍGUEZ
 
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Os homens hodiernos já não se prostram mais ante estátuas de madeira, pedra ou metal, mas sim perante as divindades de carne e osso exaltadas pela moda do momento. E nessa nova forma de religião idolátrica, não faltam falsos oráculos, sacerdotes e profetas.

À primeira vista, a idolatria pode parecer coisa do passado, uma recordação folclórica de povos antigos, ainda afundados na noite dos tempos. E, de modo semelhante, falar hoje de falso profetismo trará, para muitos, ressonâncias de épocas arcaicas ou o sabor de algo enigmático e esotérico cujo significado se desconhece. Pois poucos lembram que o verdadeiro profetismo consiste em um carisma concedido pelo Espírito para guiar os homens pelas vias dos desígnios divinos.

Ora, acontece que tanto a idolatria quanto o falso profetismo, aparentemente tão antiquados, talvez nunca tenham existido com a variedade, influência e penetração que alcançam nos nossos dias.

Uma “religião” sem Santos, heróis ou sábios

“Ó Deus, Vós nos criastes para Vós, e nosso coração vagueará inquieto enquanto não repousar em Vós”, exclamou Santo Agostinho.

Esta conhecida afirmação de um dos mais brilhantes luminares da nossa Fé põe em realce o quanto o homem é naturalmente religioso. Tendo sido feito à imagem e semelhança do Altíssimo, sente necessidade d’Ele para sua inteira realização, pois o Deus absoluto e infinito é o único Ser que pode tornar o homem plenamente feliz.

Por esse motivo, neste mundo cada vez mais materialista, cético e pragmático, acaba por surgir uma nova forma de idolatria que visa preencher o vazio produzido pela falta do verdadeiro Deus. Substitui-se a Religião por um culto à la carte, no qual se apresenta à humanidade um cardápio sempre cambiante de ídolos adaptáveis aos gostos, tendências e vícios de cada indivíduo, época ou nação.

Os homens hodiernos já não se prostram mais ante estátuas de madeira, pedra ou metal, mas sim perante divindades de carne e osso que materializam suas aspirações e ideais. Idolatrando-os idolatram-se a si próprios, seguindo um ritual ao mesmo tempo variado, unânime e uniforme.

Nessa nova religião não há mais Santos, e nem sequer heróis, homens idealistas ou sábios. Esse tipo de personagens pertence ao passado… Na louca inversão de valores do mundo atual, as massas não cultuam os detentores de cargos político-sociais, nem as grandes figuras do mundo científico e cultural. Prosternam-se, pelo contrário, ante as estrelas vazias e muitas vezes nefastas apresentadas nos espetáculos veiculados pela TV, pela internet ou pela imprensa.

Culto idolátrico ao bezerro de ouro
Paróquia de São Tomé Apóstolo, Haro (Espanha)

Despótica e poderosa como um Zeus

O grande mandamento dessa religião humanista é a obrigação de seguir a moda do momento, despótica e poderosa como um Zeus. Através dela regem-se os ambientes e costumes da humanidade criando escolas “artísticas” e modos de ser, agir e vestir, às vezes tão sujos e indecentes que fariam enrubescer até mesmo os deuses do paganismo greco-romano.

A moda se apresenta como uma atitude exterior a ser tomada por quem quer estar em consonância com os outros. Exerce seu despotismo comunicando as delícias da aceitação social a quem segue seus preceitos, e flagelando com os tormentos do isolamento e da perseguição quem a ela se opõe.

Aproveita-se da falta de personalidade de muitos jovens e da necessidade que eles sentem de se afirmarem na sua fraqueza interior assumindo estados de espírito bem aceitos no seu entorno. Mas cada uma dessas modas efêmeras alinha-se com a seguinte compondo um inexorável processo de degradação moral que raramente retrocede, e quando o faz é quase sempre por motivos táticos.

Que uma nova moda seja irracional ou grotescamente feia é coisa que pouco preocupa aos que a seguem, pois, como bem reza um conhecido aforismo, ocasionalmente atribuído a La Fontaine, “toda a inteligência do mundo é impotente contra qualquer idiotice que esteja em moda”.

A pregação dos falsos profetas

Como acontecia na Antiguidade pagã, todo ídolo atual tem seus oráculos, seus sacerdotes e seus profetas.

Os meios de comunicação, especialmente a internet, transbordam de púlpitos especializados em doutrinar os homens para melhor servir a esses ídolos. Pregam neles os sacerdotes da moda do momento, que convidam a seguir as diretrizes por ela marcadas usando táticas de medo e simpatia. Ameaçam-nos de serem mal vistos pelos outros, intimidam-nos com a alcunha de “antigo”, prometem a felicidade para quem se deixe imergir sem resistência no consenso.

Mas não faltam também homens e mulheres que, ocultos sob uma capa de bonomia, se apresentam como pregadores do verdadeiro Deus, quando são na realidade fervorosos apóstolos da idolatria. Percebem e conhecem o perigo que se aproxima, a ruína que pode sobrevir para a humanidade se continuar a avançar pelas escorregadias sendas da decadência. Porém, em vez de alertar os bons e prepará-los para a batalha espiritual – “A vida do homem sobre a terra é uma luta, seus dias são como os dias de um mercenário” (Jó 7, 1) –, deixam-nos indefesos perante o inimigo.

Anestesiam as consciências e tranquilizam os medíocres tentando convencê-los de que tudo está em ordem, embora hoje se afronte o Criador com a maior insolência. Ainda que sejam cometidos diante desses falsos profetas os mais graves pecados, eles continuarão proclamando que os povos podem alcançar a felicidade de Deus enquanto contradizem impunemente seus Mandamentos.

Estejamos atentos e vigilantes

Mas o Altíssimo estenderá sua mão no momento oportuno “contra esses profetas de visões ineptas e de oráculos enganadores” (Ez 13, 9), que abusam do povo dizendo: “Tudo vai bem”, quando tudo vai mal.

“Eis o que diz o Senhor Javé: em minha indignação, desencadearei um furacão, em minha cólera, vou mandar uma tempestade, em meu furor de destruição, farei cair granizo. Abaterei assim o muro que emboçastes, pô-lo-ei abaixo, desnudá- -lo-ei até as suas fundações. Ele desmoronará e perecereis no meio dos escombros. Sabereis assim que sou o Senhor. Quando houver saciado o meu furor contra o muro e contra aqueles que o tiverem rebocado de gesso, direi: nada de muro! Desapareceram aqueles que o rebocaram, esses profetas israelitas que profetizavam sobre Jerusalém e tinham para ela visões de bem-estar quando tudo ia mal! – oráculo do Senhor Javé” (Ez 13, 13-16).

Estejamos, pois, atentos e vigilantes para não sermos enganados por esses guias perversos. Deus nunca abandona seu povo; nunca permitirá que se extinga na Igreja o carisma da verdadeira profecia. Cabe a nós pedir a graça de saber encontrar essa luz e as forças para segui-la. (Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2018, n. 202, p. 24-25)

1 SANTO AGOSTINHO. Confissões. L.I, c.1, n.1. 2 Para melhor conhecer esse processo, aconselha-se a leitura de: CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra- -Revolução. 5.ed. São Paulo: Retornarei, 2002.

 
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