Fale conosco
 
 
Receba nossos boletins
 
 
 
Artigos


Jesus Cristo


O Santo Sudário da Catedral de Oviedo
 
AUTOR: PE. MANUEL FRANCISCO SANCHO, EP
 
Decrease Increase
Texto
Solo lectura
0
0
 
Venerável relíquia, empapada no Preciosíssimo Sangue de Jesus, o Santo Sudário de Oviedo atrai a multidão de fiéis nos dias em que é exposto ao culto. Um dos mais conceituados estudiosos do tema, o Cônego Enrique López Fernández, nos fala sobre este valioso tecido.

Entrevista com o Cônego Enrique López Fernández

AE: A Catedral de Oviedo guarda um tesouro, pouco conhecido. Pode falar-nos um pouco da Câmara Santa?

Efetivamente, guardam-se na Câmara Santa relíquias e objetos de um valor religioso e histórico excepcional. A mais importante é o Santo Sudário de Oviedo, mas ao longo dos tempos outras também receberam ali um culto extraordinário, como os espinhos da Coroa de Nosso Senhor e as relíquias de alguns santos.

No centro da Câmara encontra-se a Arca Santa, que foi trazida de Toledo para as Astúrias no ano 711, pouco depois da invasão muçulmana. Dentro dela veio o Santo Sudário e outras relíquias relacionadas com Nosso Senhor, a Virgem e os Apóstolos, todas de valor incalculável, como por exemplo, o Lignum Crucis de Nicodemos ou uma sandália de São Pedro.

Essas relíquias chegaram a Toledo, vindas de Jerusalém, pois esta foi conquistada em 614 pelos persas a mando de Cosroes II e, pouco depois, em 637, pelos primeiros seguidores de Maomé. Procurando um lugar seguro para as relíquias, os cristãos as transladaram para o Ocidente, fugindo da invasão maometana que não deixava de avançar pelo norte da África.

A arca permaneceu escondida até que – já consolidado o reino fundado por Dom Pelayo, depois da batalha de Covadonga (722) – decidiu-se transladá-la para a nova capital fundada pelo piedoso Rei Alfonso II, o Casto (760-842).

Tanto temor reverencial ela impunha, que ninguém ousou abri-la até o ano 1075, quando o Rei Alfonso VI, que passava a Quaresma em Oviedo, pediu para fazê-lo. Organizou-se uma grande cerimônia na presença do notário real, das autoridades religiosas e numerosas testemunhas, entre as quais figura o famoso Cid Campeador, que ainda não havia caído em desgraça.

A impressão foi tão grande que o rei mandou fazer importantes doações à Santa Igreja Catedral, para ela poder sustentar um culto digno de semelhantes relíquias. Também mandou construir uma nova arca coberta de belas placas de prata, que protege a anterior e serve inclusive de altar. É esta a que se conserva atualmente.

AE: Segundo a tradição, o Santo Sudário cobriu a cabeça de Jesus. O senhor, que é perito no Evangelho de São João, crê que há base nele para confirmar essa crença?

Sem dúvida. Em seu Evangelho, São João usa a palavra “sudário” em duas ocasiões. Uma para se referir à parte da mortalha de Lázaro: “Dito isto, exclamou (Jesus) em alta voz: ‘Lázaro, vem para fora’. E o morto saiu, tendo os pés e as mãos ligados com faixas e o rosto  coberto por um sudário ” (Jo 11, 43-44). Outra, quando vão ao sepulcro de Jesus e o encontram vazio: “Corriam juntos, mas aquele outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro. Inclinou-se e viu ali os panos no chão, mas não entrou. Chegou Simão Pedro que o seguia, entrou no sepulcro e viu os panos postos no chão. Viu também o sudário, que estava (ou melhor: estivera) sobre a cabeça de Jesus. Não estava, porém, com os panos, mas à parte, enrolado (ou também pode ser: dobrado) num lugar ” (Jo 20, 4-7).

Nesse caso, parece que o Sudário de Oviedo não faz parte da mortalha, pois se encontrava “à parte” dos “panos postos no chão” os quais eram propriamente a mortalha e corresponderiam ao que conhecemos como Santo Sudário de Turim e que ficaram “postos no chão”, aplicado a uma pessoa, significaria “jazendo”.

Então, que fazia ele no sepulcro? Qual tinha sido sua função? Todos os estudiosos concordam em que deve ter sido utilizado antes da sepultura, na manipulação ou preparação do cadáver. O primeiro a formular essa hipótese foi monsenhor Teodoro Ricci, benemérito estudioso do Santo Sudário de Turim: os judeus cobriam o rosto das vítimas de morte violenta, e o Sudário de Oviedo foi usado durante o traslado do cadáver da cruz até o sepulcro.

AE: As manchas que aparecem no tecido nos dão algum indício sobre o uso que ele teve?

É preciso distinguir o que se vê a olho nu, do que se “vê” no laboratório. A olho nu vemos uma série de manchas de

Entrevista con D Enrique Lopez - SANTO SUDARIO.jpg
Côn. Enrique López Fernández (à direita)
e Pe. Manuel Rodríguez, EP diante da
Câmara Santa. No fundo sepode apreciar
a Arca, coberta de prata, que contém o
Santo Sudário de Oviedo

diferentes intensidades, umas simétricas e outras não. Aparentemente seriam de sangue, e outras de sangue diluído em água.

Os estudiosos do EDICES (Equipo de Investigación Centro Español Sindonología) puderam determinar, a partir dessas manchas, que o tecido estava dobrado pela metade quando cobriu a cabeça, por isso as manchas são simétricas, umas se formaram por contato direto com o rosto, e outras, por infiltração de um lado para o outro. Pela maneira com que elas se estenderam, deduz- se que num primeiro momento o corpo estava ainda pendurado na cruz (na vertical) e que posteriormente esteve deitado de boca para baixo (na horizontal). Não foram produzidas por esfrega, mas por sucessivos fluxos do líquido. Não podemos entrar em detalhes, mas está provado que o Sudário cobriu o rosto de um defunto adulto, com barba cabelo longo, maltratado e morto violentamente.

AE: Quais são os atos de culto nos quais se pode venerá-lo?

O Santo Sudário de Oviedo é exposto ao público só em três dias do ano: Sexta-Feira Santa; 14 de setembro, festa da exaltação da Santa Cruz; e 21 de setembro, dia de São Mateus. No final da Missa, dá-se a bênção solene com ele.

No restante do ano ele fica depositado na Câmara Santa da Catedral de Oviedo, e só se pode ver a caixa que o contém. Pensou-se em expô-lo com um sistema especial de proteção, mas não existe uma garantia total de segurança.
Por isso, de momento, não se vai realizar. Antes de tudo, é preciso preservar a relíquia.

Cônego Enrique López Fernández nasceu em Vilabol de Suarna-Fonsagrada (Espanha), em 1929. É teólogo, professor e escritor, autor de numerosas obras. Licenciado em Teologia pela Universidade Pontifícia de Salamanca, em Ciências Bíblicas pelo PontifícioInstituto Bíblico de Roma e em Filologia Semítica pela Universidade de Barcelona.

(Revista Arautos do Evangelho, Maio/2008, n. 77, p. 36-37)

 
Comentários