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Virgem Maria


Jesus formado de Maria
 
AUTOR: PE. ANTONIO JAKOŠ ILIJA, EP
 
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Cada vez que na Santa Missa se opera a Transubstanciação, cada vez que recebemos a Sagrada Comunhão, ali está presente o mesmo Deus-Homem que há mais de dois mil anos foi formado no seio virginal de Maria Santíssima.

Incontáveis pessoas gastam fortunas hoje em viagens para conhecer panoramas maravilhosos, e se julgam afortunadas por terem tal possibilidade. Poucas, entretanto, se detêm para considerar que nenhuma beleza do universo material se compara com os arrebatadores horizontes do mundo sobrenatural. Basta pensar na felicidade eterna dos habitantes do Céu, onde todos participam, em medida maior ou menor, das extasiantes realidades da visão beatífica.

A Eucaristia vista pelo prisma de Maria Santíssima

   A famosa frase de São Bernardo, “De Maria nunquam satis – Nunca se dirá o bastante a respeito de Maria”, aplica-se com toda propriedade à Sagrada Eucaristia: por mais que a exaltemos, ficaremos sempre irremediavelmente aquém da realidade.

   Uma forma excelente, embora não muito usual, de tratar da Eucaristia é fazê-lo em função de Nossa Senhora. Foi a Virgem Maria criada por Deus para ser a Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e, portanto, o decreto divino estabelecendo a Encarnação do Verbo já considerava Aquela que seria sua Mãe.

   Como ensina São Luís Maria Grignion de Montfort, Deus A criou como paraíso para acolher seu Filho nesta terra de exílio: “A divina Maria é o Paraíso Terrestre do novo Adão, onde Ele Se encarnou por obra do Espírito Santo, para aí operar maravilhas incompreensíveis”.1

   Tendo sido Ela concebida sem o pecado original, possuía desde menina o dom da ciência infusa, e suas elevadíssimas meditações não eram embaçadas por raciocínios deturpados, fruto do pecado. Com isso, bem podemos conjecturar quais seriam as suas sublimes cogitações sobre o Messias.

Anunciação – Mosteiro de Nossa Senhora do
Monte Carmelo e São José, Brooklyn (EUA)

Maria construiu em sua mente uma imagem perfeita do Messias

   Desde criança, Ela ardia em desejos do advento do Messias, e este deveria ser um dos seus temas prediletos ao conversar com suas companheiras no Templo. À medida que tomava conhecimento das profecias anunciando a vinda do Salvador, penetrava no seu significado mais elevado e profundo. “Desse modo, ia constituindo uma ideia sempre mais perfeita a respeito do Esperado das Nações. Seu Coração Imaculado ansiava por conhecê- -Lo e servi-Lo com dedicação total”.2

   Toda a sua vida, mesmo antes da Encarnação, foi uma incessante contemplação das virtudes naturais e sobrenaturais do Messias. Assim, ao longo dos anos foi elaborando em sua mente uma imagem do Redentor, de sua personalidade, suas qualidades, sua psicologia, suas perfeições, seu porte, seus gestos, tudo isso configurando uma Pessoa régia, grandiosa, divina.

   E pode-se considerar que tendo Ela completado a formação dessa imagem em todos os seus pormenores, veio o Arcanjo Gabriel anunciar-Lhe que seria Ela a Mãe desse Messias esperado durante tantos séculos pelo povo eleito, e pedir-Lhe vênia para o Espírito Santo engendrar Jesus Cristo em seu seio virginal.

A carne e o sangue de Maria passam a ser Corpo e Sangue de Jesus

   A criação de todo o universo, das incontáveis estrelas que brilham no firmamento, da terra com suas maravilhas minerais, vegetais e animais, foi muito menos portentosa do que o prodígio sucedido na humilde casa de Nazaré: a Encarnação do Verbo. Para criar o universo, bastou um ato de vontade do Onipotente; para assumir nossa humana natureza, quis Ele depender do consentimento da Virgem Maria.

   Deixando claro que Nossa Senhora não é nem poderia ser sacerdote, pois o munus sacerdotal é reservado apenas para os varões,3 pode-se dizer que o milagre da Encarnação do Verbo tem muita semelhança com o da Transubstanciação, operado no Santo Sacrifício do altar. Nesse caso, a matéria não seria o pão nem o vinho, mas sim o corpo da Santa Virgem das Virgens que, com o seu fiat, permitiu a realização do milagre.

   Nesse sentido, afirma Santo Ambrósio: “Evidentemente, a Virgem engendrou fora da ordem natural. E o Corpo que produzimos (mediante a Consagração) é o Corpo nascido da Virgem. Por que procurar na ordem da natureza o Corpo de Cristo quando o próprio Senhor Jesus foi dado à luz por uma Virgem? O Corpo de Cristo no Sacramento é verdadeiramente a carne de Cristo, aquela que foi crucificada e sepultada. Portanto, este Sacramento é deveras o Sacramento de sua carne”.4

   Ao longo de nove meses, o organismo de Nossa Senhora foi fornecendo o necessário para formar o corpinho do Menino Jesus. Seu virginalíssimo sangue se divinizava ao passar a fazer parte do Corpo de Jesus, o próprio Deus feito Homem. Não poderia o Pai Eterno desejar ou excogitar uma criatura mais preciosa do que Maria para a formação da humanidade de seu Filho Unigênito.

A “Primeira Comunhão” da História

   Como se maravilharam os Anjos, primeiras testemunhas da Encarnação, vendo aquele Menino! “Como Ele Se parece com Ela!”, devem ter exclamado. Com efeito, jamais houve nem haverá um filho tão parecido com sua mãe!

   Desde a Anunciação até o Natal, passaram-se nove meses de singular “presença eucarística” em Nossa Senhora.5 Pode-se afirmar que, sob certo ponto de vista, a Encarnação foi a primeira “Primeira Comunhão” da História.

   Em nossas Comunhões, a espécie pão permanece apenas durante alguns minutos, cessando depois a presença divina; a “Primeira Comunhão” de Nossa Senhora durou nove meses e culminou com o nascimento do Messias. E cada vez que na Santa Missa se faz a Consagração e depois se distribui aos fiéis a Comunhão, se trata daquele mesmo Corpo de Cristo formado há mais de dois mil anos no seio puríssimo da Mãe de Deus.

   Eis, portanto, um belo incentivo para a piedade eucarística: considerar que o Corpo, Sangue, Alma e Divindade que comungamos se formou da carne de Nossa Senhora. E tanto o sacerdote que consagra quanto os fiéis que comungam, todos encontramos um exemplo a seguir: receber a Eucaristia com a adoração com a qual a recebeu a Santíssima Virgem Maria. (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2018, n. 197, p. 30-31)

1 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Traité de la vraie dévotion à la Sainte Vierge, n.6. In: Œuvres Complètes. Paris: Du Seuil, 1966, p.490. 2 CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. São José: quem o conhece? São Paulo: Lumen Sapientiæ, 2017, p.79. 3 Cf. SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Declaração Inter Insigniores, 15/10/1976. 4 SANTO AMBRÓSIO. Sobre os mistérios, n.53: PL 16, 407. 5 “De certo modo, Maria praticou a sua fé eucarística ainda antes de ser instituída a Eucaristia, quando ofereceu o seu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. A Eucaristia, ao mesmo tempo que evoca a Paixão e a Ressurreição, coloca-se no prolongamento da Encarnação. E Maria, na Anunciação, concebeu o Filho Divino também na realidade física do corpo e do sangue, em certa medida antecipando n’Ela o que se realiza sacramentalmente em cada crente quando recebe, no sinal do pão e do vinho, o Corpo e o Sangue do Senhor” (SÃO JOÃO PAULO II. Ecclesia de Eucharistia, n.55).

 
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