Os veneráveis restos mortais de Jacinta e Francisco estão sepultados atualmente na Basílica de Fátima, junto ao local onde por seis vezes Nossa Senhora lhes apareceu, transmitindo-lhes uma das mais importantes mensagens que os homens já receberam do Céu. Ali entraram para a História de nosso tempo. Ali ingressam na História da eternidade, beatificados por João Paulo II.
Durante a Missa de Beatificação, celebrada diante do Santuário de Fátima, o Papa pronunciou uma expressiva homilia, tão rica em considerações sobre os dois novos heróis da Fé, e tão cheia de valiosos ensinamentos para a juventude, que a transcrição de alguns de seus trechos é o melhor epílogo para a presente narrativa:
“Ao beato Francisco, o que mais impressionava e absorvia era Deus naquela luz imensa que penetrara no íntimo dos três. Só a ele, porém, Deus Se dera a conhecer ‘tão triste’, como ele dizia. Certa noite, seu pai ouviu-o soluçar e perguntou-lhe porque chorava; o filho respondeu: ‘Pensava em Jesus que está tão triste por causa dos pecados que se cometem contra Ele’. Vive movido pelo único desejo – tão expressivo do modo de pensar das crianças – de consolar e dar alegria a Jesus’.
Na sua vida, dá-se uma transformação que poderíamos chamar radical; uma transformação certamente não comum em crianças da sua idade. Entrega-se a uma vida espiritual intensa, que se traduz em oração assídua e fervorosa, chegando a uma verdadeira forma de união mística com o Senhor. Isto mesmo o leva a uma progressiva purificação do espírito, através da renúncia aos próprios gostos e até às brincadeiras inocentes de criança.
Suportou os grandes sofrimentos da doença que o levou à morte, sem nunca se lamentar. Tudo lhe parecia pouco para consolar Jesus; morreu com um sorriso nos lábios. Grande era, no pequeno Francisco, o desejo de reparar as ofensas dos pecadores, esforçando-se por ser bom e oferecendo sacrifícios e oração. […]
Deus não quer que ninguém se perca; por isso, há dois mil anos mandou à terra o seu Filho ‘procurar e salvar o que estava perdido’ (Lc 19, 10). E Ele salvou-nos com a sua morte na cruz; ninguém torne vã aquela Cruz! Jesus morreu e ressuscitou para ser ‘o primogênito de muitos irmãos’ (Rm 8, 29).
Na sua solicitude materna, a Santíssima Virgem veio aqui, a Fátima, pedir aos homens para ‘não ofenderem mais a Deus nosso Senhor, que já está muito ofendido’. É a dor de mãe que a faz falar; está em jogo a sorte de seus filhos. Por isso, dizia aos pastorinhos: ‘Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas’.
A pequena Jacinta sentiu e viveu como própria esta aflição de Nossa Senhora, oferecendo-se heroicamente como vítima pelos pecadores. Certo dia, já ela e Francisco tinham contraído a doença que os obrigava a estarem na cama, a Virgem Maria veio visitá-los em casa, como conta a pequenina: ‘Nossa Senhora veio ver-nos e diz que vem buscar o Francisco muito breve para o Céu. E a mim perguntou-me se queria ainda converter mais pecadores. Disse-lhe que sim’. E, ao aproximar-se o momento da partida do Francisco, Jacinta recomenda-lhe: ‘Dê muitas saudades minhas a nosso Senhor e a Nossa Senhora, e diga-lhes que sofro tudo quanto Eles quiserem para converter os pecadores’. Jacinta ficara tão impressionada com a visão do inferno durante a aparição de 13 de Julho, que nenhuma mortificação e penitência era demais para salvar os pecadores. […]
A minha última palavra é para as crianças: queridos meninos e meninas, vejo muitos de vós vestidos como Francisco e Jacinta. Fica-vos muito bem! Mas, logo ou amanhã, deixareis essa roupa e… acabarão os pastorinhos. Não deveriam acabar, não é?! É que Nossa Senhora precisa muito de todos vós, para consolar Jesus, triste com as asneiras que se fazem; precisa das vossas orações e sacrifícios pelos pecadores.
Pedi aos vossos pais e educadores que vos ponham na ‘escola’ de Nossa Senhora, para que Ela vos ensine a ser como os pastorinhos, que procuravam fazer tudo o que lhes pedia. Digo-vos que ‘se avança mais em pouco tempo de submissão e dependência de Maria, que durante anos inteiros de iniciativas pessoais, apoiados apenas em si mesmos’ (São Luís de Montfort, Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, n. 155). Foi assim que os pastorinhos se tornaram santos depressa. Uma mulher que acolhera a Jacinta em Lisboa, ao ouvir conselhos tão bons e acertados que a pequenina dava, perguntou quem os ensinava a ela. ‘Foi Nossa Senhora’ respondeu. Entregando-se com total generosidade à direção de tão boa Mestra, Jacinta e Francisco subiram em pouco tempo aos cumes da perfeição. […]
Eu Te bendigo, ó Pai, por todos os teus pequeninos, a começar pela Virgem Maria, tua humilde Serva, até os pastorinhos Francisco e Jacinta.
Que a mensagem das suas vidas permaneça sempre viva para iluminar o caminho da humanidade!” (Trechos da Homilia do dia 13 de maio de 2000, em Fátima)
Jovem leitor, ouça estas palavras do Papa, e deixe que o brilhante exemplo de Jacinta e Francisco guie seus passos ao longo dos caminhos da vida, sobretudo quando encontrar pela frente os que riem do bem e convidam para o mal. Procure imitar aquelas benditas crianças, escolhendo sempre a virtude e jamais o pecado.
Assim como os pastorinhos, possa você nunca desanimar nos momentos difíceis, nas horas de sofrimento, nos dias em que a fidelidade à Lei de Deus lhe parecer demasiado pesada. Lembre-se, como eles, daquela bondosa Senhora, que é a Auxiliadora dos Cristãos e Mãe de inesgotáveis misericórdias: Ela sempre o socorrerá, sempre estará ao seu lado, sempre o perdoará e o sustentará nas vias do bem. Pois nunca se ouviu dizer que alguém que tenha, com confiança e humildade, implorado a assistência de Maria, fosse por Ela desamparado. E, esteja seguro, não será você o primeiro…
Espelhe-se, portanto, nos modelos cuja história foi aqui narrada; torne-se igualmente um fervoroso devoto de Nossa Senhora e, por meio d’Ela, do Sagrado Coração de Jesus, rezando o Terço e procurando, na medida de suas forças, repará-Los pelos incontáveis pecados que se cometem no mundo.
Desse modo, querido leitor, assim como para as benditas crianças de Fátima, estarão reservadas para você as consoladoras promessas de Maria Santíssima, cujo Imaculado Coração será sua recompensa demasiadamente grande, quando, ao término de seus dias nesta terra, Ela também o vier buscar para levá-lo ao Céu!
(Livro Jacinta e Francisco Prediletos de Maria – Monsenhor João Clá)