Redação (Segunda-feira, 15-04-2019, Gaudium Press) Há 75 anos, o então jovem líder católico Professor Plinio Corrêa de Oliveira escrevia uma Via Sacra para o jornal “Legionário”, órgão pertencente à Arquidiocese de São Paulo.
Todos esses anos que se passaram só fizeram salientar a oportunidade das considerações morais e sócio religiosas feitas pelo jovem intelectual católico para 1943 e que podem ser aplicadas para 2019.
Vejamos:
-Conspiraram contra Vós, Senhor, os vossos inimigos.
Sem grande esforço, amotinaram o populacho ingrato, que agora ferve de ódio contra Vós.
O ódio. É o que de toda parte Vos circunda, Vos envolve como uma nuvem densa, se atira contra Vós como um escuro e frio vendaval. Ódio gratuito, ódio furioso, ódio implacável: ele não se sacia em Vos humilhar, em Vos saturar de opróbrios, em Vos encher de amargura; vossos inimigos Vos odeiam tanto, que já não suportam vossa presença entre os viventes, e querem a vossa morte.
Querem que desapareçais para sempre, que emudeça a linguagem de vossos exemplos e a sabedoria de vossos ensinamentos.
Querem-Vos morto, aniquilado, destruído. Só assim terão aplacado o turbilhão de ódio que em seus corações se levanta.
Séculos mesmo antes que nascêsseis, já o Profeta previa esse ódio que suscitaria a luz das verdades que anunciaríeis, o brilho divino das virtudes que teríeis:
“Meu povo, que te fiz Eu, em que porventura te contristei?” (Miq. VI, 3).
E interpretando vossos sentimentos a Sagrada Liturgia exclama aos infiéis de então e de hoje:
“Que mais devia Eu ter feito por ti, e não fiz? Eu te plantei como vinha escolhida e preciosa: e tu te converteste em excessiva amargura para Mim; vinagre Me deste a beber em minha sede, e transpassaste com uma lança o lado de teu Salvador” (Impropérios).
Tão forte foi o ódio que contra Vós se levantou, que a própria autoridade de Roma, que julgava o mundo inteiro, abateu-se acovardada, recuou e cedeu ante o ódio dos que sem causa alguma Vos queriam matar.
A altivez romana, vitoriosa no Reno, no Danúbio, no Nilo e no Mediterrâneo, afogou-se na bacia de Pilatos.
“Christianus alter Christus”, o cristão é um outro Cristo. Se formos realmente cristãos, isto é, realmente católicos, seremos outros Cristos. E, inevitavelmente, o turbilhão de ódio que contra Vós se levantou, também contra nós há de soprar furiosamente.
O Ódio sopra: Dai forças, Senhor
E ele sopra, Senhor!
Compadecei-Vos, ó meu Deus, e dai forças ao pobre menino de colégio, que sofre o ódio de seus companheiros porque professa Vosso nome e se recusa a profanar a inocência de seus lábios com palavras de impureza.
O ódio, sim. Talvez não o ódio sob a forma de uma invectiva desabrida e feroz, mas sob a forma terrível do escárnio, do isolamento, do desprezo.
Dai forças, ó meu Deus, ao estudante que vacila em proclamar vosso nome em plena aula à vista de um professor ímpio e de uma turma de colegas que moteja.
Dai forças, ó meu Deus, à moça que deve proclamar Vosso nome, recusando-se a vestir os trajes que a moda impõe, desde que por sua extravagância ou imoralidade destoem da dignidade de uma verdadeira católica.
Dai forças, ó meu Deus, ao intelectual que vê fecharem-se diante de si as portas da notoriedade e da glória, porque prega a Vossa doutrina e professa o Vosso nome.
Dai forças, ó meu Deus, ao apóstolo que sofre a investida inclemente dos adversários de vossa Igreja, e a hostilidade mil vezes mais penosa de muitos que são filhos da luz, só porque não consente nas diluições, nas mutilações, nas unilateralidades com que os “prudentes” compram a tolerância do mundo para seu apostolado.
Ah, meu Deus, como são sábios vossos inimigos! Eles sentem que na linguagem desses “prudentes”, o que se diz nas entrelinhas é que Vós não odiais o mal, nem o erro, nem as trevas. E então aplaudem os prudentes, segundo a carne, como Vos aplaudiriam em Jerusalém, em lugar de Vos matar, se tivésseis dirigido aos do Sinédrio a mesma linguagem.
Senhor, dai-nos forças: não queremos nem pactuar, nem recuar, nem transigir, nem diluir, nem permitir que se desbotem em nossos lábios a divina integridade de vossa doutrina.
E se um dilúvio de impopularidade sobre nós desabar, seja sempre nossa oração a da Sagrada Escritura:
“Preferi ser abjeto na casa de meu Deus, a morar na intimidade dos pecadores” (Sl. LXXXIII, 11).