O nascimento do Menino Jesus será o objeto da nossa meditação de hoje.
Nós estamos dentro do período do Advento e vamos meditar sobre o mistério do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo e prepararmo-nos assim para a comemoração da vinda d’Ele.
Oração Inicial
Ó Maria Santíssima, Vós – Mãe de Deus e Mãe dos homens – tivestes a graça de ser eleita pelo Espírito Santo para ser sua Esposa, eleita por Deus Pai para ser a Mãe do seu Filho Unigênito;
Diante de Vós estamos para realizar esta meditação reparadora ao vosso Sapiencial e Imaculado Coração neste primeiro sábado do mês de dezembro.
Este é o mês em que se comemora o maior de todos os nascimentos. Acontecimento tal que dividiu a História em duas partes: antes e depois de Cristo.
Estamos aqui diante de Vós para pedir graças superabundantes, graças eficazes, graças místicas, graças que nos deem a possibilidade de participar da mesma atmosfera, tão extraordinária, que circundou o sagrado nascimento.
Pedimos luzes para interpretar todos os sinais que foram dados por ocasião deste acontecimento.
Que saibamos ver nele o espírito de pobreza, a humildade, a virgindade, as verdadeiras bênçãos de um matrimônio inteiramente de acordo com a Lei de Deus.
Portanto, que vejamos tudo o que ele significou, e que assim possamos de forma mais profunda reparar todos os pecados que são cometidos contra o vosso Sapiencial e Imaculado Coração.
Assim seja!
I – Situação histórica: os caminhos da Providência
Vamos nos lembrar do porquê da descrição feita por São Lucas.
O Evangelista era médico e, assim sendo, ele ressalta alguns detalhes que os outros Evangelistas não narram.
Ele sabia perfeitamente como se dava o parto de uma criança, como se dava a geração no claustro materno; como eram, portanto, as circunstâncias que cercavam um ato tão extraordinário que é o nascimento.
Nascimento de si extraordinário, e mais ainda, no que toca ao Menino Jesus, que é nada mais nada menos que o Verbo de Deus feito carne.
Para entendermos bem a razão da circunstância do Menino Jesus nascer em Belém, voltando-nos para as Sagradas Escrituras, vemos que o profeta Miqueias, muitos anos antes, tinha dito que o Messias nasceria em Belém, cidade de Davi.
Outras profecias também foram feitas, revelando que o Messias seria descendente de Davi.
As circunstâncias político-históricas levaram José e Maria a Belém, coincidindo com as circunstâncias proféticas.
Os judeus na Antiguidade guardavam muito estritamente as ligações familiares. Cada uma das doze tribos hebraicas dividia-se e subdividia-se em famílias, e guardavam uma relação muito marcante com o lugar do nascimento dos seus membros.
Havia também uma ligação social muito grande com o lugar onde nascia cada família.
E, assim, o povo de Deus se dividia em verdadeiras colmeias humanas, tendo como cabeça o chefe de cada tribo; eles se dividiam em famílias, famílias, famílias… todas elas muito entrelaçadas entre si e ligadas ao local de origem.
E nós temos então José, que é descendente de Davi, cuja cidade de origem era Belém.
Quirino, governador da Síria, decretou o recenseamento por ordem do imperador César Augusto, a fim de saber perfeitamente “quem era quem” dentro do povo judeu.
Esse recenseamento era para tê-los todos bem conhecidos, muito bem fichados segundo o sistema e método daquele tempo, quando não havia computadores nem departamento de polícia federal para controlar todas as pessoas.
Era, então, preciso que cada um se apresentasse à sua cidade de origem.
Uma contingência histórica, política e social
Essa contingência histórica, política e social impõe que José deixe Nazaré e vá fazer uma viagem a Belém.
De Nazaré a Belém, são cento e cinquenta quilômetros. Ele poderia ter deixado Maria em Nazaré, mas acontece que Ela já estava no nono mês, e deixá-La não seria conveniente.
José também não quis deixá-La tendo em vista às revelações proféticas, claríssimas, do Antigo Testamento, de que o Menino nasceria em Belém e que ocuparia o trono de seu pai, Davi.
Ela, evidentemente movida por essas razões e, mais ainda, pelo próprio sopro do Espírito Santo, resolveu ir junto.
A viagem deve ter sido muito incômoda, pois nas circunstâncias em que Ela Se encontrava, fazer uma viagem de três a quatro dias não era fácil. Ainda mais tendo que acompanhar uma caravana…
Nos dias de hoje, cento e cinquenta quilômetros fazemos em uma hora e meia, duas horas quando muito; mas naquele tempo era uma viagem longa, os caminhos eram terríveis. Belém ficava a caminho do Egito, e assim mesmo era uma estrada ruim.
E temos Nossa Senhora com São José indo por esses caminhos regurgitando de gente, e estes estavam muito tomados porque todo mundo precisava cumprir com a lei do recenseamento.
II – Santa Maria, Mãe de Deus e sempre Virgem Imaculada!
“E, estando ali, aconteceu de se completaram os dias em que devia dar à luz. E deu à luz o seu Filho primogênito, e O enfaixou e reclinou numa manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2, 1-7).
São Lucas, que é muito delicado, nos diz – está no texto do Evangelho de hoje que faz parte de nossa meditação – que Maria deu à luz e envolveu o Menino em panos e O colocou no presépio.
Ora, nós sabemos perfeitamente que um parto necessita sempre do auxílio de outros.
São Lucas, para deixar patente que é um parto miraculoso, não diz em nenhum momento que sequer São José estivesse presente, e não estava presente. Nossa Senhora dá à luz a sós porque São José se retira.
Ela fica a sós, e esse fato se faz miraculosamente.
Como? Jesus, a partir do momento em que Maria disse “sim” ao anúncio do Arcanjo, teve sua alma criada por Deus. O Espírito Santo foi quem uniu essa Alma ao Corpo no momento da concepção.
A Alma de Nosso Senhor foi criada na visão beatífica. Ela contemplava a divindade face a face.
Ora, nós sabemos pela Teologia tão bem explicada, especialmente por Santo Tomás de Aquino, que uma alma, na visão beatífica, deve ter o seu corpo no estado de glória. É uma lei.
Quem entende compreende perfeitamente isso, porque se a alma tem a Deus como visão, o corpo deve ser espiritualizado.
É o que vai acontecer no dia do Juízo com todos aqueles que estiverem à direita de Deus, quando retomarem seus corpos; estes estarão gloriosos e, sendo corpos gloriosos, se deslocarão com a velocidade de um pensamento, não sofrerão mais, vestir-se-ão como quiserem.
Não será preciso nem costureira, nem alfaiate, o próprio pensamento revestirá o corpo; cada um terá, segundo a sua imaginação, sua veste instantânea, bastará somente imaginar a roupa com a qual quer aparecer…
E assim foi Nosso Senhor quando nasceu: corpo glorioso. E Ele, entretanto, teve durante toda a sua vida o corpo padecente como o nosso, porque Ele queria sofrer como nós.
Quem é mãe, é mãe da pessoa, e não mãe só do corpo
Nosso Senhor, para manter a virgindade de Nossa Senhora antes, durante e depois do parto, assumiu o que Lhe competia, ou seja, o corpo glorioso.
Portanto, sem tocar em Nossa Senhora, Ele deixou o claustro materno, aparecendo diretamente nos braços d’Ela.
Imaginem a alegria que deve ter tido Nossa Senhora a sós, esperando o momento em que o Menino devia nascer, sentir em seus próprios braços seu Filho; e Filho inteiramente Filho.
Devemos nos lembrar de que, quem é mãe, é mãe da pessoa, e não mãe só do corpo.
Ninguém diz: “Quem é mãe desse corpo?” Ela é mãe do corpo? Não. Mãe da pessoa, pois se diz “mãe de fulano de tal”, “mãe de fulana de tal”.
Ora, Ela tem nas mãos um Filho que é Deus. Ela é Mãe de Deus. Que alegria! A alegria que enchia o Coração d’Ela era ver diante de Si o Menino Jesus.
Envolve-O e O põe no presépio.
III – A pobreza extrema na gruta e o luxo de vida nos palácios!
E nós temos diante de nós esta cena magnífica: pobreza a mais não poder.
O Menino Jesus com um trono que é uma manjedoura, umas roupas que são uns panos simples; os cortesãos são Maria e José – que não têm teto – um boi e um burro; o incenso certamente é uma névoa fria que entra e penetra no recinto; o palácio é uma gruta.
A nove quilômetros dali estava um palácio onde havia ouro, superabundância, luxo e gozo de vida.
Na gruta temos alguém que é Mãe e Virgem, e nisso temos uma lição que Deus nos dá: o quanto Ele ama a virgindade e o quanto Ele ama o matrimônio perfeito, o matrimônio bem levado.
Nós vemos uma Virgem, um pai que é pobre, mas é inteiramente cumpridor da palavra de Deus e da vontade de Deus, e nós temos um Bebê que é a própria Inocência.
Então, nós temos a virgindade, o matrimônio, a inocência.
A nove quilômetros dali, nós temos a podridão moral, o incesto, nós temos – oh! – os horrores morais, nós temos o horror à virgindade e à virtude; nós temos o que há de pior, e tudo isto encaixado dentro do Império Romano, império que São Paulo recriminará em sua Epístola aos Romanos logo no capítulo primeiro.
IV – Quem estará junto ao presépio?
Nasce o Menino, e ali estão aqueles que foram chamados. Alguns ouviram e correram ao presépio.
Estamos no século XXI, no ano 2009. E daqui a pouco vai nascer misticamente, liturgicamente, o Menino Jesus.
Quais os que estarão junto ao presépio? Quais os que compreenderão a mensagem sobre a virgindade, sobre a castidade?
Quais os que compreenderão a mensagem sobre o casamento; e quais os que compreenderão a mensagem sobre o desprendimento das riquezas deste mundo e terão os olhos postos no Céu?
Quais os que compreenderão as palavras do Papa, quando recebeu as credenciais da embaixadora da África?
Dizia ele: “Quarenta milhões, segundo recenseamento recente, são atingidos por essa terrível doença chamada AIDS”, e acrescentava que o melhor remédio para essa doença é a castidade, é o matrimônio bem concebido, é a vida familiar.
Entretanto, quais são os que entendem a mensagem trazida por Nosso Senhor; quais são os que vão lucrar com esse nascimento místico de Nosso Senhor?
Somente aqueles que de fato têm o coração aberto para ouvir a palavra desse Inocente que estará no presépio.
Este Inocente vai nos dizer: “Sejam inocentes como Eu, Eu quero lhes dar essa inocência, Eu quero protegê-los, fazer com que cheguem à máxima perfeição dentro das vias da santidade. Aceitem esta mensagem de inocência que Eu venho trazendo”.
Ali está Maria dizendo: “Se constituírem matrimônio, que seja um matrimônio como o meu. Se mantiverem a virgindade, sejam virgens como Eu”.
E aqui está São José dizendo: “Não se apeguem às riquezas. Não quer isso dizer que não se deva possuir nada; mas, possuindo, não se apeguem”.
Oração final
Ó Virgem Santíssima, dai-nos a graça para que nosso coração, mais do que a Gruta de Belém, mais do que a própria cidade de Belém, esteja preparado para receber o vosso Divino Filho.
Que Ele nasça não só na gruta, mas também no fundo de nossos corações.
Ó Mãe, que Vós, com São José, estejais presente em nossos corações, para que assim possamos ter no mais íntimo de nosso ser a vossa presença, a de São José, e sobretudo, a do Menino Jesus.
Que a inocência seja dentro de nossos corações uma tocha como eram as tochas na Gruta de Belém para iluminar a Inocência substancial.
Que nossos corações amem a virgindade, compreendam o verdadeiro sentido do matrimônio; que os nossos corações sejam verdadeiramente desprendidos das riquezas e dos bens materiais.
Nós Vos pedimos, ó Mãe, que aceiteis esta meditação em desagravo de vosso Sapiencial e Imaculado Coração, neste primeiro sábado de dezembro.
Assim seja!
Leitura Bíblica:
E, naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto, para que se fizesse o recenseamento de todo o mundo.
Este primeiro recenseamento foi feito por Cirino, governador da Síria.
E iam todos recensear-se, cada um à sua cidade.
José foi também da Galileia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi, que se chamava Belém, porque era da casa da família de Davi, para se recensear juntamente com Maria, sua esposa, que estava grávida.
E estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz. E deu à luz o seu Filho primogênito, e O enfaixou e reclinou numa manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem (Lc 2, 1-7).
V – “Hoje vos nasceu um Salvador”
Em meio à penumbra, causa uma certa pena considerar a pobreza na qual repousa um belíssimo Menino.
Seu berço não é senão uma simples e rústica manjedoura, desgastada pelo longo uso de incontáveis animais.
Meras palhas fazem às vezes de seu colchão, um complemento da humilde faixa que O envolve.
É noite de inverno e ali estão também um boi e um burro para O aquecerem, pois o recinto, constituído de pedras brutas, mantém o frio e a umidade próprios à estação do ano.
Se, ao visitarmos um palácio, nos deparássemos com semelhante cena, ela nos pareceria aberrante; entretanto, a realidade é ainda mais chocante, pois ela se passa numa agreste, inóspita e isolada gruta.
Mas quem é esse Menino nascido, assim, em condições tão miseráveis?
Para bem sabê-lo, bastaria nos afastarmos dessa gruta e percorrermos um pouco as colinas de Belém, onde encontraríamos alguns pastores exultantes de alegria, justamente à procura desse mesmo Menino.
Entre múltiplas e emocionadas exclamações, eles nos diriam:
“Apareceu-nos um Anjo todo refulgente de glória; ao se aproximar de nós, essa refulgência também nos cercou.
“Tivemos um grande medo, mas ele nos tranquilizou afirmando-nos que nos visitava para transmitir-nos uma notícia inédita.
“Na noite de hoje, nasceu aqui próximo, na cidade de Davi, um Salvador. Ele é o Cristo Senhor.
“O Anjo nos disse que o sinal para reconhecermos bem o Menino será encontrá-Lo envolto em faixas e posto numa manjedoura.
“E logo depois esse Anjo subiu e se juntou a muitos e muitos outros, cantando num magnífico coro: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens, objeto da boa vontade de Deus’.
“Por isso, estamos indo a caminho de Belém para ver o que aconteceu”.
Uma fisionomia toda feita de paz, serenidade e brilho
E assim poderíamos retornar à gruta para adorar o Senhor, o Rei, o Cristo Jesus.
Ali reveríamos Maria e José, silenciosos e penetrados de indizível piedade, devoção, enlevo e ternura.
Em imaginação, ajoelhemo-nos também e deixemo-nos penetrar por essa atmosfera de graças e bênçãos oriundas do Divino Infante. Contemplemos sua fisionomia toda feita de paz, serenidade e brilho.
Seu sorriso é cativante e seu olhar cheio de sabedoria. Ele é absolutamente incomum. Sua pele é incomparavelmente superior ao marfim e mais suave que o arminho.
Sua constituição física é perfeita: as mãos, os bracinhos, as pernas, os pezinhos configuram a mais bela obra de arte jamais vista.
Tudo n’Ele é tão bem distribuído, que nem sequer a inteligência angélica seria capaz de imaginá-Lo.
Ele move seus membros com tanta elegância, distinção e nobreza que, por vezes, esquecemos tratar-se de um bebê.
Chama-nos a atenção sua enorme semelhança com a Mãe…
A essa altura de nossa contemplação admirativa, todos os aspectos de pobreza e miséria se evanesceram de nosso horizonte.
Vemos agora o esperado dos patriarcas, dos profetas e dos reis; quem, muito antes de nascer, já havia sido anunciado como Emanuel, “Deus conosco” (Is 7, 14), “Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz” (Is 9, 5).
N’Ele se concentra um altíssimo mistério de sabedoria e misericórdia, conjugado com a mais alta e inesperada glorificação da natureza humana.
E nós nos recordamos das palavras de Isaías: “Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho…” (Is 7, 14).
Séculos mais tarde, sobre esse nascimento, comentaria São Bernardo: “Convinha a um Deus nascer de uma Virgem, e uma Virgem só poderia conceber um Deus”.