O sacrifício cristão é mais fecundo

São Lourenço diácono é celebrado no dia 10 de agosto como mártir e padroeiro de todos os diáconos, aqueles que ajudam no serviço do altar. No seu dia de comemoração, é bom que façamos uma comparação entre a sua morte e o ato de um famoso romano, Muscius Scaevola, que tem algo de similar com seu sacrifício, mas possui uma diferença profunda que muda todo o cenário.São Lourenço diácono

História do soldado e fiel romano

Muscius Scaevola foi um soldado das legiões romanas que viveu no século V e VI, e que foi imortalizado, entre outros grandes escritores, por Dante em sua Divina Comédia. Tendo sido preso pelo comandante dos bárbaros com quem Roma guerreava, no ano de 508 d.C., Muscius foi levado à sala de guerra inimiga para contar sobre os planos e estratégias dos generais romanos. Embora se negasse veementemente, os seus contundentes continuavam tentando arrancar alguma confidência.

Quando perceberam que Muscius não falaria, começaram a contar as desgraças que fariam quando derrubassem as muralhas romanas, na multidão que dobrariam a seus pés, nas jovens que seriam suas escravas, na nobreza que os serviria de joelhos, no exército romano que seria deles para desfrutarem como quisessem. Scaevola, então, olha com vigor para seus inimigos ali reunidos no conclave nojento e se pronuncia: “vejam do que a juventude romana é capaz”, e colocou sua mão sobre o fogo que estava acesso em uma pira.

As chamas lamberam sua mão com vigor, e a consumiram inteira. Nenhum suspiro por parte de Muscio, e silêncio completo por parte dos bárbaros. Pensavam eles: “quem é capaz de suportar tal agonia em silêncio, é possível de tudo. E se tiver mais deles, se todos os jovens soldados como ele têm força para aguentar a dor assim, estamos perdidos". Apressadamente, combinaram de Muscius levar uma proposta de paz para o Senado e o imperador. Desta vez, neste ano, Roma continuaria de pé. Infelizmente, menos de 70 anos depois, toda aquela glória seria dobrada aos pés de Teodorico.

São Lourenço Diácono é martirizado no fogo

De São Lourenço diácono já conhecemos seu martírio: sendo preso por ter mostrado ao imperador que o tesouro da Santa Igreja eram os pobres e as viúvas, foi conduzido a uma grelha que estava superaquecida. Foi amarrado a ela, enquanto sua carne cozinhava.

De repente, do meio das labaredas, os carrascos ouvem sua voz: “Por favor, virem-me do outro lado, pois este aqui já assou”. Assim, consternados de tamanha resignação, e vendo que o mártir não iria renegar seu Deus, muitos senadores e outros potentados que estavam assistindo a São Lourenço se converteram, mas já era tarde para o mártir. Tendo falecido, foi levado com honra e penitência por seus próprios algozes, que perceberam seu pecado. Lourenço, assim, sobe às glórias do Céu e conquista o trono prometido, depois de demonstrar, não só por palavras, mas por exemplos, o poder de sua fé.

Conclusão: Muscius ou Lourenço?

Lourenço mártirAmbos os sacrifícios foram extremamente valorosos, tanto o do soldado romano quanto o do soldado cristão. Também foram os dois provados pelo fogo: Scaevola não se mexeu quando sua mão queimava, e São Lourenço diácono pediu que o virassem, numa forma de significar que nada lhe importavam as chamas, quando ele tinha uma promessa maior à vista.

E talvez seja esse o motor dos grandes heroísmos: um propósito. Muscius queria preservar a glória de Roma; Lourenço, a glória da fé. Mas aqui entram as diferenças: enquanto o soldado romano lutava por um reino terrestre, o diácono lutava pelo celeste. Roma passou; foi devastada e hoje, do regime da antiga cidade, só temos os monumentos e o nome; da Igreja, porém, temos uma expansão cada vez mais profunda, cada vez mais numerosa.

Este é o heroísmo cristão: ele não luta apenas pela ordem na terra, mas pelos desígnios do Céu. É por isso que o sacrifício católico é muito mais fecundo, muito mais profundo e inspirador. Lembremos que São Lourenço diácono, com sua morte, arrastou atrás de si muitos do Senado Romano para se converterem. Muscius, infelizmente, mesmo tendo sua história contada por todos os becos de Roma, não foi seguido por outros jovens capazes de fazer o mesmo sacrifício que ele, e por isso a Grande Cidade cai.