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Palavra dos Pastores


Através da beleza chega-se a Deus
 
AUTOR: PE. FERNANDO NÉSTOR GIOIA OTERO, EP
 
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Retornar à contemplação estética da beleza e, a partir dessa contemplação, dar testemunho da verdade e da bondade, sem separá-las, é a proposta que faz nesta entrevista o Pe. Carlos Arboleda Mora, Coordenador Administrativo de Pós-Graduação em Teologia na Universidade Pontifícia Bolivariana.

Entrevista com o Pe. Carlos Arboleda Mora

Quais são as funções do senhor hoje na Universidade Pontifícia Bolivariana?

Neste momento, meus trabalhos se concentram todos na administração dos cursos de pós-graduação. Temos mestrado e doutorado em Filosofia e em Teologia, ambos com títulos canônicos e civis. Cabe-me toda a parte administrativa, ou seja: abertura de cursos, professores, currículos, programas e convênios.

Temos convênio atualmente com a Conferência Episcopal Latinoamericana – CELAM, para oferecer licenciaturas canônicas em nível latinoamericano. E também com o Instituto Teológico Pastoral para América Latina – INTEPAL, ao qual proporcionamos doutorado canônico em Teologia para toda a América Latina. Neste momento, temos cerca de vinte doutorandos em Teologia.

Nos nossos cursos de pós-graduação há hoje mais de 180 alunos, entre os quais 24 arautos que obtiveram recentemente o mestrado em Filosofia e outros que se encontram preparando a licenciatura canônica em Filosofia ou Teologia.

O senhor tem orientado vários desses arautos na preparação das respectivas teses. Poderia dizer algo sobre essa experiência?

Desde o início, quando começamos a conhecer o carisma dos arautos, nos demos conta de sua preocupação com a beleza, o pulchrum, a via pulchritudinis. Essa é uma via que não só tem suas raízes na Idade Média, mas que hoje deve ser redescoberta. E esse redescobrimento é fundamental para o mundo contemporâneo, porque o mundo contemporâneo é estético, mas de uma estética recortada, reduzida, posta muito no sensorial, no biológico.

Por isso, criar algo como um instituto de Estética Teológica seria prestar um grande serviço ao mundo de hoje. Mostrar como através da beleza chega-se a Deus, “vive-se” Deus, e isso se traduz numa vida bela. Se podemos dizer que Cristo é o Homem belo por excelência, nós cristãos temos obrigação de ser belos por testemunho. Eis aí uma importante tarefa para os Arautos do Evangelho.

Nesse hipotético Instituto de Estética Teológica, dever-se-ia considerar não só a reflexão filosófica e teológica sobre o pulchrum, mas também a aplicação prática do pulchrum. Por exemplo, fazer ali um estudo sobre a Liturgia, os lugares litúrgicos, a música litúrgica, os gestos, tudo isso a serviço da Igreja. E expandir-se para outras expressões artísticas, como a arquitetura. Vê-se que é uma tarefa importante.

A “proposta estética” seria, então, não apenas um elemento a mais na Teologia, mas também um instrumento de evangelização?

Procedemos de uma época de muito racionalismo. Nós que vivemos nas décadas de 60 e 70, fomos testemunhas de uma visão por demais racionalista – e racionalista em sentido muito liberal – e fomos, em certa medida, contagiados por ela, pondo excessiva ênfase na autonomia do espiritual e do temporal. Fomos também marcados pelos anelos da libertação dos povos, que conduziram à Teologia da Libertação, a qual logo se tornou muito sociológica, e esqueceu-se do verdadeiro fundamento da Teologia.

Talvez por querer-se pôr uma excessiva ênfase na verdade como conceito, ou na bondade como mero imperativo, a verdade e a bondade como que perderam força. Trata-se agora então de, pela beleza, visar a recuperação da verdade e da bondade. São três elementos, três transcendentais que estão unidos. Mas pondo ênfase no aspecto da beleza, creio que podemos recuperar a verdade e a bondade.

Observando os arautos, temos visto como há em seus trabalhos essa linha constante: o pulchrum como porta da mística, o pulchrum em relação ao bem, a Liturgia como experiência mística. São temas que não são novos, mas haviam sido relegados ao olvido e agora é preciso recuperá-los.

Nas teses de Filosofia dos arautos nota-se essa preocupação de fundo, e alguns trabalhos tratam especificamente disso: como a Igreja precisa retornar à mística, à contemplação estética da beleza e, a partir dessa contemplação, dar testemunho da beleza, dar testemunho da verdade e da bondade. Sem separá-las.

Quais as principais mudanças em relação às décadas de 60 e 70?

De um excessivo racionalismo, talvez tenhamos passado para um exagerado esteticismo, ou seja, nada de conceitos, mas simplesmente experiências sensoriais. De um violento compromisso social, passou-se para um indiferentismo social que é também muito grave, pois tão censurável é querer valer-se da violência para mudar o mundo, quanto desinteressar- se de mudar o mundo.

E creio ter havido na Igreja uma transformação muito perigosa. De um excessivo compromisso social – há 40 anos se dizia: “O dever de todo cristão é ser revolucionário” – passou-se para o extremo de uns sacerdotes ou de uns leigos demasiadamente desinteressados. E isso é também muito perigoso.

Daí vem a necessidade de uma renovação mística da Igreja, que leve a ter santos que deem testemunho daquilo que eles próprios experimentaram.

Poder-se-ia dizer que no século XX a universidade identificou-se como uma fonte de conhecimentos, não como uma escola também de formação integral do estudante. Seria este um desafio para as universidades em nossos dias?

É um desafio, e isso é o que a Bolivariana trata de fazer. Um modelo pedagógico que comporte não só a formação de profissionais muito competentes na respectiva área, mas que, além da competência profissional, sejam muito competentes no relativo ao aspecto humano. Ou seja, uma formação integral que leve a pessoa a comprometer-se com a transformação da sociedade, comprometer- se com os mais pobres, com uma sociedade justa, com uma sociedade pacífica.

A universidade precisa assumir esta tarefa: não só formar muito bons profissionais, mas formar também muito boas pessoas. Nisso consiste uma formação integral.

Nascido em 1949, Pe. Carlos Arboleda Mora era ainda diácono quando deu suas primeiras aulas, no Seminário Maior de Medellín, Colômbia. Após ser ordenado sacerdote, passou oito anos em missões na região do Madalena Médio, então Pe. Carlos Arboleda Mora.JPGperigosamente afetada pela violência dos guerrilheiros e dos grupos paramilitares.

Regressando a Medellín, em 1992, acumulou as funções de pároco e de professor na Pontifícia Universidade Bolivariana, onde lecionou Doutrina Social da Igreja, Sociologia da Religião, Ecumenismo e Metodologia da Investigação (para as teses de mestrado e doutorado).  Atualmente, é Coordenador Administrativo de Pós-Graduação da Escola de Teología, Filosofía y Humanidades, na mesma universidade e dirige o grupo de investigação Religión y Cultura.

Além de doutor em Filosofia pela UPB, Pe. Arboleda é licenciado em Ciências Sociais pela Universidade Gregoriana e mestre em História pela Universidade Nacional de Colômbia. Entre suas publicações mais recentes se encontram: El politeísmo católico; Guerra y Religión en Colombia; Diablo y posesión diabólica; Profundidad y cultura.

(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2009, n. 96, p. 26-27)

 
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