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Tesouros da Igreja


Um farol de virtude
 
AUTOR: CARLOS TONIOLO
 
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Não só os países, mas cada região e cada cidade tem o seu pequeno farol sobrenatural, tão mais caro aos corações quanto mais próximo a estes.

Quando os primeiros homens lançaram-se ao mar, há milhares de anos, não demoraram em darse conta de quanto risco teriam de enfrentar na maravilhosa, e ao mesmo tempo trágica, história das navegações.

Desde então, o engenho humano desdobra-se em artifícios para superar as ameaças do oceano indomável. Não falemos agora, porém, do esforço em tornar mais resistentes as naves ou mais precisas as cartas náuticas. Ao iniciar estas linhas, vamos relembrar uma criação humana que não somente é em extremo prática, mas também de uma evocativa beleza: o farol.

Não é difícil imaginar uma cena repetida centenas de vezes, em ocasiões e lugares os mais distantes e variados: um navio, açoitado por ondas furiosas, luta desesperadamente para manter-se na superfície. Brada ordens o capitão, pelejam os homens e rezam as mulheres. Todos buscam com aflição o porto seguro, a salvação de perecer no mar inclemente. Mas a aproximação do litoral é ao mesmo tempo esperança e ameaça. Pois sob as águas agitadas escondem- se os terríveis escolhos que num segundo podem selar para sempre o destino da embarcação.

Subitamente, um facho de luz brilha na costa, e aquele fulgor a fender a escuridão e a borrasca é o sinal do caminho livre de risco. Um farol! Ao cintilar sobre as temíveis rochas costeiras, a benfazeja luz parece dizer: “Vinde por aqui! Por esta via estareis a salvo!”

Seguindo o facho salvador, adentram por fim no porto e, abraçandose e rendendo graças a Deus, atingem a tão almejada terra.

Quantas vidas não terão sido poupadas pela luz salvadora dos faróis?

* * *

Trazendo em si tanto de confortador e benéfico, não causa surpresa o fato da figura do farol ter sido tomada pela literatura, ao referir-se a outras pessoas e objetos. Desta maneira, grandes filósofos já foram chamados de “faróis de sabedoria”, enquanto famosos reis e magistrados ficaram conhecidos por “faróis de justiça”, e assim por diante.

Mas passemos ao nosso campo, ou seja, o mundo e o universo das cogitações católicas. Não seria impróprio qualificar nossas igrejas em geral, e as principais em particular, como faróis, a atrair e guiar o bom povo de Deus no reto caminho da salvação.

Com efeito, em cada país cristão, a fé popular, guiada pelo influxo da graça, elegeu para si o seu próprio “farol”. Será Santiago de Compostela para os espanhóis, Fátima para os portugueses ou Lourdes para os franceses. Todos possuirão, a seu modo, seu ponto de referência espiritual, o farol de suas almas.

Não só países, mas cada região e cada cidade terá o seu pequeno farol sobrenatural, tão mais caro aos corações quanto mais próximo a estes. São milhares… Capelas, abadias, igrejas e santuários espalhados por todo o orbe cristão. Na verdade, haveria embaraço de escolha para citar um, devido à profusão de devoções e ao carinho quase ciumento com o qual os fiéis cercam esses templos queridos.

Mas falemos de um. Qual? A escolha caberá ao próprio Pontífice Romano. Em sua visita ao Brasil, S.S. Bento XVI elevou à honra dos altares um filho desta nação, Frei Antônio de Sant’Ana Galvão. Com esta canonização, a atenção de milhares de fiéis se voltará para o humilde convento onde este virtuoso personagem percorreu boa parte de seu caminho rumo à santidade: o Mosteiro da Luz.

Fundado no ano de 1774 por Frei Galvão, o mosteiro associou-se de modo profundo à história da própria cidade. Com ela atravessou revoluções e crises, acompanhou-a tanto em seus momentos de alegria como nos de tristeza. Ajoelhados em seus genuflexórios, os paulistanos pediam entre lágrimas o fim de suas dores, ou sorrindo agradeciam as vitórias obtidas. Por vezes, ali vinha uma simples dona de casa com seus problemas domésticos, ou então um sério bispo sobre cujos ombros pesavam as responsabilidades de alguma grande diocese.

Transpondo os séculos, São Paulo tornou-se imensa, uma das maiores cidades do mundo. Em verdade, veio a contar com uma esplêndida catedral, além de inúmeras e belas igrejas. No entanto, o coração dos filhos da enorme metrópole tem reservado um lugar todo especial para o antigo e venerável convento. Em meio à expansão industrial, às multidões que trabalham e se deslocam, encravado quase no centro da cidade, o impassível Mosteiro da Luz segue sereno sua missão, atraindo e iluminando as almas, qual autêntico e sobrenatural farol de virtude. (Revista Arautos do Evangelho, Maio/2007, n. 65, p. 50-51)

 
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