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Contos Infantis


De onde vem tanta força?
 
AUTOR: IR. PATRÍCIA VICTORIA JORGE VILLEGAS, EP
 
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A madre conduziu os rudes militares até o fim de um longo corredor. Parou diante de uma grande porta feita de vitral e, abrindo-a, convidou-os a entrar...

Tremenda estava a guerra! Todos os dias amargas notícias chegavam do front de batalha, provocando copiosas lágrimas em muitos, pela perda de seus familiares e amigos. Caravanas de feridos chegavam até as cidades ainda não atingidas pelo fragor dos combates, e até o próprio exército semeava o terror, ao irromper subitamente nas casas em busca de espiões inimigos.

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Então a superiora foi ao encontro do pelotão,
encabeçado por um mal-encarado comandante

Em meio a tão terríveis acontecimentos, apenas uma instituição mantinha a calma naquela vila: o hospital das Irmãs da Caridade. A ele acudiam muitos dos atingidos nos campos de batalha ou doentes que, atacados por enfermidades contagiosas e não encontrando quem os atendesse, recorriam à ajuda das generosas freiras. Elas os acolhiam e cercavam de todos os cuidados possíveis. Além de oferecer remédios  para o corpo, ensinavam-lhes as verdades da Fé e, quando necessário, preparavam-nos para uma boa morte. Deus recompensava a coragem destas enfermeiras-religiosas, não permitindo que moléstia alguma as contaminasse.

Certo dia ouviu-se tocar com força a campainha do hospital, seguida de violentas batidas à porta. Ato contínuo viu-se a irmã porteira correndo por todos os lados em busca da madre superiora. Parecia estar muito aflita! Que teria acontecido? Um grande suspense criou-se entre as demais religiosas…

– Madre, há um pelotão de militares à entrada, exigindo fazer uma inspeção! Cada vez batem com mais força e fico com receio de que nossa velha porta não resista a tantos golpes.

– Deixe-os entrar! Eu mesma irei atendê-los.

– Não, madre! Eles podem fazer-lhe algum mal. É melhor chamarmos o prefeito ou pedirmos auxílio ao sogro da nossa vizinha, que é coronel…

– Minha filha, somos virgens consagradas a Cristo e não temos nada a temer. Se Ele Se entregou por nós até o último hausto, que mal pode nos fazer um punhado de soldados enfurecidos?

Então a superiora, junto com a irmã porteira, foi ao encontro do pelotão, encabeçado por um mal-encarado comandante. Atendeu-os na sala de visitas, mas eles não estavam interessados em conversar… Queriam percorrer, uma por uma, todas as dependências do edifício, pois haviam recebido denúncias certas de que vários espiões inimigos estavam escondidos no prédio.

Gentil e solícita, a madre os conduziu à grande enfermaria, onde muitos doentes jaziam com rostos desfigurados por chagas e úlceras. Impressionados e expressando em suas fisionomias a repugnância que sentiam, os militares passaram rapidamente para o aposento seguinte. Neste lugar, porém, achavam-se aqueles cujas doenças já estavam muito avançadas. Um odor insuportável impregnava o ambiente, e os rudes soldados cobriram o rosto com seus lenços.

Entretanto, enquanto eles procuravam fugir de lugar tão malcheiroso, uma jovem irmã permanecia tranquila ao lado de uma das camas, limpando cuidadosamente as feridas de um dos infelizes, animando-o e sem demonstrar sequer um pouco de aversão.

Depois de terem percorrido todos os cômodos – a passos apressados, pois o espetáculo de tantos males os deixava horrorizados! -, o comandante perguntou à madre superiora:

– Há quanto tempo a senhora trabalha aqui?

– Ah, senhor, já completaram quarenta anos.

– Quarenta anos?! – exclamaram com ele os demais soldados, a uma só voz.

– Que ousadia! – disse o capitão.

Depois de alguns segundos de respeitoso silêncio, ele continuou:

– Quando visitamos as enfermarias, vi uma jovem religiosa que serenamente cuidava de um dos enfermos, limpando suas chagas, e me perguntava: de onde lhe vem tanta força?

A superiora lhe respondeu:

– Venham, já lhes mostrarei…

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Aqueles soldados duros e grosseiros,
que há tanto tempo nem pensavam em
Religião, caíram de joelhos

Conduziu-os até o fim de um longo corredor e parou diante de uma grande porta feita de vitral, que filtrava a tênue
luminosidade do recinto que guardava. Abrindo-a, a madre convidou-os a entrar. A seguir, fez uma solene genuflexão, ajoelhou-se um instante em adoração a Jesus presente no sacrário e, levantando-se, disse em voz baixa e cheia de veneração:

– Aqui está, senhores, o segredo da nossa força!

Apontando para o tabernáculo, continuou:

– Ela vem da Sagrada Eucaristia que recebemos diariamente! E posso lhes garantir: no dia em que o Santíssimo Sacramento cessar de estar presente aqui, ninguém mais terá coragem de permanecer nesta casa!…

Aqueles soldados duros e grosseiros, que há tanto tempo nem pensavam em Religião, caíram de joelhos como que transpassados pelos imponderáveis da capela. Envolvidos pelo colorido dos vitrais que tamisavam suavemente a luz das janelas, pareciam sentir ali a presença física de Jesus Sacramentado convidando-os, com sua graça, à conversão.

Refletindo sobre o amor com que as freiras tratavam os afetados pelas mais repugnantes doenças, compreenderam que só mesmo Aquele que disse “amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo” (Jo 15, 12), poderia torná-las capazes de tão árduo ofício, executado na mais perfeita caridade. E quão longe estavam eles deste mesmo Jesus que agora os chamava!…

Com os olhos úmidos pela emoção, o capitão disse à superiora:

– Fique em paz, madre, e perdoe nossa indelicadeza. Nunca mais a incomodaremos com inspeções como esta. Mas permita-nos, por caridade, que venhamos aqui e nos encomendemos a Jesus Sacramentado, quando formos chamados para a frente de batalha.

Uma semana depois, o mesmo pelotão visitava devotamente a capela do hospital e partia para seu destino. Sua fé se espalhou pelo exército inteiro e todos passaram a rezar com empenho, para que Deus lhes alcançasse a vitória. E não tardaram a ser atendidos: logo nos primeiros lances do combate supremo os inimigos fugiram, deixando o terreno desimpedido. A paz ficara definitivamente restabelecida no país e os soldados, agradecidos, foram rezar um Te Deum na Catedral, reconhecendo que a força jamais vem do homem ou do poder das armas. Quaisquer que sejam as circunstâncias, o nosso socorro vem sempre do Senhor, “Criador do Céu e a Terra” (Sl 120, 2). (Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2014, n. 155, p. 46-47)

 
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