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Contos Infantis


Terrível e misericordiosa justiça
 
AUTOR: IR. JEAN MURILO DE OLIVEIRA, EP
 
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Ao analisar sua ímpia atitude e recordar-se do infinito amor divino, o jovem soldado pediu  perdão a Deus de seu pecado. Foi quando começaram os estrondos dos aviões inimigos...

Tiros, estampidos de bombas e gritos aterradores… Encontramo- nos em uma das guerras do início do último século. Em meio aos confrontos está um pelotão, esforçando-se por proteger suas próprias vidas.

Em certo momento, roncos estrondosos de motores se fazem ouvir, parecendo aproximar-se a cada segundo.

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— O que é isso? — perguntam-se os jovens combatentes.

Era uma das armas de guerra mais temidas daquela época: os terríveis caças-bombardeiros. Ao escutarem cada vez  mais perto o estrondo causado por estas  máquinas mortíferas, o pelotão se dispersou em todas as direções. Não tardou para o avião despejar suas bombas e, junto com o barulho das explosões, ecoou pelos ares o brado lancinante de um dos soldados, atingido pelo ataque do inimigo.

A Cruz Vermelha foi acionada de imediato e os enfermeiros entraram em ação, transportando com rapidez a vítima para o hospital de campanha. Aplicados os primeiros socorros, cobriram o corpo dilacerado do combatente com um lençol, enquanto uma das enfermeiras saía agilmente para buscar o capelão. O estado do infeliz soldado era muito grave. Parecia restar-lhe pouco tempo de vida.

O sacerdote acorreu ao chamado com diligência e chegou junto ao leito do ferido. Ao aproximar-se, ficou surpreso por encontrá-lo inteiramente lúcido e tranquilo, atitude pouco comum nessas circunstâncias… O capelão começou a conversar com o jovem, para saber quais eram suas disposições de alma, ante a morte iminente.

Logo no inicio do diálogo, o militar pediu ao ministro de Deus para retirar a parte superior do lençol que o cobria. Este assim o fez, e constatou com assombro que o rapaz havia perdido os dois braços! Contudo, o moribundo lhe rogou que retirasse a cobertura por completo e, apesar de temeroso pelo que poderia encontrar, o padre atendeu a seu anseio.

Deparou-se ele com uma terrível cena: ali estava um homem com os braços e as pernas amputadas! Diante de tal tragédia, não conteve uma exclamação:

— Coitado!

O jovem, entretanto, replicou-lhe:

— Padre, o senhor não deveria chamar-me de coitado, mas sim de bem-aventurado. E vou lhe contar o motivo. Quando estava dirigindo-me para guerra com meus colegas, encontramos em uma encruzilhada um Crucifixo, e todos começamos a blasfemar. Todavia, para demonstrar que minha impiedade era maior em comparação à dos outros, adiantei-me e, retirando meu sabre, cortei os braços e as pernas do Crucificado, causando horror inclusive entre os meus companheiros.

O capelão o cobriu de novo e abriu mais os olhos, imaginando o espantoso acontecimento.

— Ao ouvir os zumbidos de balas indicando o primeiro confronto de nosso batalhão — continuou o combatente —, fui fortemente atormentado pela minha consciência, por ter cometido tão horrendo sacrilégio. E não me saía da lembrança tudo o que aprendera em minha família, a qual sempre foi muito católica, sobretudo nas aulas de catecismo: Nosso Senhor Jesus Cristo nos ama tanto, que se um só homem houvesse cometido um único pecado, Ele estaria disposto a passar pela morte na Cruz para salvá-lo…

Emocionado, o sacerdote sorriu, por testemunhar a ação da graça na alma daquele pobre soldado.

— Porém — seguia dizendo o ferido —, quantas vezes os homens O renegam em face de alguma dificuldade ou até mesmo para se prestigiarem diante de falsos amigos? E eu, além de blasfemar contra o Homem- Deus, atentei contra sua Sagrada Imagem. Consequentemente, um só pensamento me vinha à mente: estou em pleno campo de batalha, com tiros por todos os lados… Se morrer agora, para onde irei? Não mereço ser objeto da justiça divina, por mais misericordioso que seja Cristo Jesus?

Sentindo-se exaurido, o moribundo se calou e duas grossas lágrimas de arrependimento lhe caíram dos olhos. Recobrando um tanto as forças e respirando com dificuldade, prosseguiu seu relato:

— Então, analisando minha ímpia atitude e recordando-me do infinito amor divino, disposto a enfrentar as atrocidades da Paixão para salvar apenas um pecador, pedi a Nosso Senhor, por intercessão de Maria, sua Mãe Santíssima e Auxiliadora dos Cristãos, a graça do perdão de tão grave pecado. E reconhecendo-me merecedor de um grande castigo, pedi-Lhe que me punisse nesta vida e não após minha morte…

Aproximava–se a hora derradeira… O alento parecia abandoná- lo definitivamente, mas ele ainda conseguiu dizer:

— Assim que terminei minha oração, senti no fundo da alma um ânimo novo, com a confiança de que Maria me obtivera o perdão de seu Divino Filho. Foi quando começaram os estrondos dos aviões inimigos… e Deus ouviu meu apelo, pois aqui me encontro tal qual deixei o Crucificado daquela Cruz que encontrei no caminho! Estou morrendo, padre, e apesar de confiar que estou perdoado, peço-lhe a absolvição sacramental e os Santos Óleos.

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“Assim que terminei minha oração, senti no fundo da alma um ânimo novo”

O capelão o absolveu, administrou-lhe a Unção dos Enfermos e disse:

— Vamos agradecer à Virgem Santíssima que o fez compreender tantas coisas, como ensina o Livro dos Provérbios: “não desprezes a correção do Senhor, nem te espantes de que Ele te repreenda, porque o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima” (3, 11-12). Meu filho, agora pode morrer em paz!

Pouco depois, o jovem militar entregou sua alma ao Criador, levando no coração a alegria de haver sido objeto da misericordiosa justiça de Deus, como seu verdadeiro filho.

(Rivista Araldi del Vangelo, Marzo/2015, n. 143, p. 46 – 47)

 
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