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Contos Infantis


Uma “proeza” de Frei Junípero
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 14/10/2009
 
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Armado de uma grande faca de cozinha, frei Junípero saiu para o bosque vizinho, procurando aliviar os sofrimentos de um irmão doente. Horas depois, um lavrador embravecido golpeava a porta do convento.

Frei Junípero, um dos primeiros discípulos e companheiros de São Francisco de Assis, não conseguia manter-se em silêncio quando era repreendido ou quando alguém lhe fazia uma observação desagradável. Para se corrigir desse defeito, fez o propósito de, durante seis meses, não dar réplica nem mesmo às mais pesadas injúrias que lhe fossem eventualmente feitas.

Essa luta contra si mesmo lhe custou grandes sacrifícios. Certa vez, ao ser insultado de forma brutal, ele fez um tal esforço para se conter que sentiu subir-lhe aos lábios uma golfada de sangue que jorrava de seu peito.

Nesse dia, muito aflito, o bom frade entrou numa igreja, prostrou-se diante de um crucifixo e exclamou:

– Vede, meu Senhor, o que suporto por amor a Vós!

Então, cheio de temor e encanto, viu o divino Crucificado despregar do madeiro a mão direita e colocá-la sobre a chaga aberta pela lança do centurião, ao mesmo tempo que lhe dizia:

– E Eu, o que suporto por amor a ti? Profundamente emocionado, Junípero era outro homem ao se levantar. Ele, que antes não conseguia aturar sem sofrimento qualquer pequena injúria, passou a receber com alegria as mais graves ofensas, como se fossem pedras preciosas para ornar sua alma.

* * *

Nessa situação encontrava-se ele quando adoeceu um frade do Convento de Santa Maria da Porciúncula. Vendo esse seu irmão enlanguescer no leito de enfermo, Frei Junípero lhe fazia freqüentes visitas, ajudando-o a vencer esse período de provação. Pôsse também à sua disposição como improvisado enfermeiro.

– Meu irmão, posso ajudar-te de alguma forma? Gostarias de algo para comer?

– Bem, gostaria muito de comer um pé de porco cozido, se for possível… – respondeu o doente.

Em sua ingenuidade e bom humor, Frei Junípero tomou com toda naturalidade esse estranho pedido.

– Deixa comigo! Logo trarei um pé de porco e o prepararei da maneira que quiseres!

Armado com uma grande faca de cozinha, Junípero foi para o bosque vizinho, onde encontrou uma manada de porcos se alimentando sob a vigilância atenta de um camponês. Sem qualquer hesitação, correu atrás de um, pegou-o e cortou uma de suas patas.

Retornando alegre, mandou o cozinheiro prepará-la e a serviu com bondade ao seu irmão doente. Enquanto este comia com grande apetite, Frei Junípero o entretinha com um divertido relato de como havia “capturado” o suíno e lhe cortado a pata.

* * *

Entrementes, o guardador dos porcos partiu correndo, para contar a seu patrão o ocorrido. Este, muito irritado, foi insultar os frades, chamando-os de hipócritas, ladrões, bandidos e outros epítetos do gênero, por terem cortado uma pata de um de seus porcos. E afirmava que eles haviam feito isso “com deliberada malícia”.

À vista do alvoroço levantado pelo dono do animal amputado, São Francisco procurou humildemente acalmá-lo, prometendo que lhe ressarciria o prejuízo. Ele, porém, longe de se tranqüilizar, proferiu muitas maldições e ameaças, repetindo sempre que o pé do porco havia sido cortado com “deliberada malícia”…

Enquanto os bons religiosos permaneciam em um silencioso assombro, São Francisco começou a desconfiar de que talvez o Irmão Junípero tivesse, por indiscreto zelo, sido o autor da censurável ação de que estavam sendo acusados os frades. Mandou chamar imediatamente o suspeito e lhe perguntou:

– Tu cortaste o pé de um porco no bosque vizinho?

Este, sem nada saber da comoção que tinha causado, contou com toda simplicidade a história inteira e acrescentou:

– Caro pai, saborear esse pé de porco fez tanto bem ao nosso irmão enfermo que eu não teria remorsos em cortar os pés de cem outros! São Francisco ficou triste e, com zelo pela justiça, exclamou:

– Oh, Irmão Junípero! Por que trouxeste esta desgraça sobre nós? Aquele homem talvez agora esteja reclamando de nós e destruindo nossa reputação pela cidade afora, tendo boas razões para tal! Portanto, eu te ordeno, em nome da santa obediência, que corras atrás dele até alcançá-lo. Jogar-te-ás aos seus pés, reconhecendo tua culpa, e prometerás ressarcir o prejuízo. Faze-o de tal maneira que ele não tenha mais razão para reclamar de nós, porque este foi certamente um erro muito sério.

– Meu pai, estai certo de que darei a este homem grande consolação.

* * *

Com a mesma energia com a qual havia cortado o pé do porco, Frei Junípero saiu correndo, alcançou o lavrador e, comFREI JUNIPERO.JPG grande manifestação de alegria, lhe contou o motivo de sua ação, enfatizando o quanto o frade doente havia ficado contente ao comê-lo.

Para sua surpresa, o homem, em vez de aprovar essa “bela ação”, mostrou-se muito mais enraivecido do que antes e o cobriu de insultos, chamando-o de ladrão, malfeitor, idiota e cabeça de burro!

Sereno e tranqüilo, Frei Junípero não conseguia compreender o motivo de uma tão grande ira. “Este homem não entendeu minha explicação”, pensou ele. E contou-lhe de novo, com mais minúcias, o motivo pelo qual esperava que ele, em vez de se irar, aprovaria a amputação feita no seu suíno. Depois atirou-se ao pescoço do lavrador e acrescentou:

– Veja, meu bom senhor, fiz isso para atender um pobre doente. E o senhor, por meio do seu porquinho, ajudou- me a lhe dar saúde. E, por conseqüência, não ficará mais triste nem zangado, mas vamos alegrar-nos juntos e agradecer ao bom Deus que nos dá os frutos da terra e os animais dos campos, e quer que todos sejamos seus filhos e nos socorramos uns aos outros como bons irmãos. Não tenho razão? Diga, meu caro e excelente irmão!

Finalmente vencido por tanta simplicidade, sinceridade e boa vontade, o homem recobrou a calma, reconheceu que havia errado em insultar Frei Junípero e os outros frades, e pediu perdão a Deus e a eles. Tal foi sua mudança de sentimentos, que foi ao bosque, matou o porco, mandou assá-lo e o levou pessoalmente ao convento como presente para aqueles santos religiosos.

Desenho: Joaquín Matus
(Revista Arautos do Evangelho, Jul/2005, n. 43, p. 52-53)

 
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