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Espiritualidade


Modelo de fortaleza e restituição
 
AUTOR: LORENA MELLO DA VEIGA LIMA
 
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À primeira vista, poderíamos julgar que Débora foi pré-figura de Maria Santíssima no tocante ao comando e à força de alma. No entanto, não é esse o traço de alma que mais a aproxima da Mãe de Deus.

No Livro dos Juízes, há uma figura muito diferente das que costumamos encontrar dentro das Sagradas Escrituras: a profetisa Débora. Embora tivesse a natureza fraca e vulnerável de uma mulher, ela foi revestida da força do Senhor, recebendo a capacidade de comandar os exércitos de Israel.

Pré-figura de Maria Santíssima

   Assim, ela acedeu ao pedido de Barac, general de dez mil homens, quando este lhe rogou que o acompanhasse no campo de batalha, no enfrentamento contra as tropas inimigas lideradas por Sísara. “Sim”, disse ela, “irei contigo, mas a glória da expedição não será tua, porque o Senhor entregará Sísara nas mãos de uma mulher” (Jz 4, 9).

Jael mata Sísara – Bíblia de São Luís IX (séc. XIII),
Biblioteca Pierpont Morgan, Nova York

   Decerto os que ouviram este prognóstico julgaram que a dama à qual Débora se referia era ela própria, pois ninguém duvidava da predileção divina que pairava sobre a profetisa e da sabedoria que a guiava em todos os seus atos.

   Contudo, como sói suceder às almas muito chamadas, não seria ela – por mais paradoxal que pareça – quem derrotaria Sísara, inimigo de Deus e do seu povo, mas uma estrangeira: Jael, esposa de Heber, o quenita.

   Ao contemplarmos a figura de Débora à luz deste traço de sua história, vemo-la adquirir maior fulgor. Porque ela não foi escolhida para dar o golpe decisivo daquela batalha, mas sim para admirar a mulher eleita para tal missão. Seu enlevo se manifesta nas palavras fogosas de seu cântico, transcrito no capítulo 5 do Livro dos Juízes: “Bendita seja entre as mulheres Jael, mulher de Heber, o quenita! Entre as mulheres da tenda seja bendita!” (5, 24).

   À primeira vista, poderíamos julgar que Débora foi pré-figura de Maria Santíssima no tocante ao comando e à força de alma. No entanto, sua admiração jubilosa é um brilhantíssimo reflexo da que teve, em grau ápice, a Mãe de Deus, enquanto conhecia os desígnios divinos para com sua prima Isabel, e para lá “partiu apressadamente” (Lc 1, 39) a fim de auxiliá-la.

Os prodígios nela realizados eram obra de Deus

   A santa profetisa constitui-se, assim, num modelo exímio da virtude da restituição. Ela reconhecia que todos os prodígios realizados por meio dela não eram obra própria, mas de Deus; portanto, a força do Altíssimo não deveria se manifestar somente nela, mas em todos aqueles que Ele quisesse designar para realizar também feitos de grande valor.

Débora comanda o exército de Barac

   Seu coração, livre de pretensões, pulsava de ardor pela glória de Deus, e por isso exultou de felicidade quando viu que Ele mostrava o vigor de seu braço através de outro instrumento. Longe de sentir-se eclipsada pela façanha da corajosa Jael, Débora se alegra e manifesta seu desejo de que tal heroísmo se verifique mais vezes na história de Israel: “Assim pereçam, Senhor, todos os vossos inimigos! E os que Vos amam sejam como o sol quando nasce resplendente” (Jz 5, 31).

   Será esse o nosso movimento interior quando nos deparamos com as maravilhas realizadas por Deus naqueles que nos são mais próximos, ou quando vemos que Ele escolhe alguém para uma missão especial? Como teria sido a história do povo judeu se Débora houvesse cedido à inveja e à comparação, ou se considerado mais capaz do que a humilde Jael? Será que a profetisa teria a mesma retidão de alma se julgasse que as riquezas de sua personalidade provinham de si mesma e não de Deus? As páginas das Sagradas Escrituras não ficariam, por assim dizer, manchadas por tal egoísmo e soberba? Não teria um ato de orgulho como esse provocado, quiçá, a vitória de Sísara sobre o povo do Senhor?

   Saibamos, pois, compreender que uma luta aparentemente insignificante e limitada ao crescimento de uma alma na vida espiritual pode ter grandes consequências para a causa de Deus e de Nossa Senhora, repercutindo, portanto, no próprio curso da História. (Revista Arautos do Evangelho, Outubro/2017, n. 190, pp. 34 à 35)

 
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