Um famoso pintor, conhecido pelo realismo e precisão de suas obras, pintou certa vez o quadro do qual reproduzimos a foto de uma cópia.
— Há um erro no seu quadro — observaram-lhe.
— Qual?
— A porta não tem fechadura…
— Então acertei. Não é erro; essa porta só abre por dentro: é a porta da alma, ou do coração, se quiser.
Com efeito, Jesus bate em inúmeras ocasiões à nossa porta: quando admiramos um belo pôr do Sol, ou recebermos um bom conselho, lemos uma palavra edificante, aproximamo-nos dos Sacramentos ou até mesmo quando nos visita o sofrimento.
“Eis que estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e Me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos, Eu com ele e ele comigo” (Ap 3, 20), diz a Sagrada Escritura. Nesses momentos Jesus está querendo entrar em nosso íntimo.
Contudo, não raras vezes ficamos surdos a seu toque… As correrias do dia a dia, as preocupações com as coisas materiais, o egoísmo e nosso imediatismo não nos deixam ouvir a chegada de tão sublime hóspede, fazendo-nos esquecer dos autênticos valores desta vida — os tesouros que acumulamos para a eternidade — e de que já nesta Terra podemos, de alguma forma, prelibar o convívio paradisíaco para o qual Ele nos convida.
E se acontecer que, depois de tanto bater, Lhe negarmos pousada, Nosso Senhor se vá? Como nos arranjaremos?
— Temo a Jesus que passa e não volta”, dizia Santo Agostinho… ⁽¹⁾
Ele, entretanto, em sua infinita bondade nos deu uma Mãe de Misericórdia, que vem junto com seu Divino Filho. Mas, ao notar que a porta não se abre, faz de vez em quando o papel de sacrossanta intrusa: entra pela janela, se aproxima de nós a fim de chamar a nossa atenção e nos predispor para recebê-Lo. Feito isto, retorna para o lado de fora para, com Ele, seguir tocando ⁽²⁾.
Peçamos a Maria Santíssima que nos ajude a abrir e manter escancarada esta porta a fim de que Eles penetrem em nossa morada e nela façam a sua. E que, tendo sido nossos hóspedes nesta Terra, abram para nós as portas da Pátria Celestial.
⁽¹⁾ SANTO AGOSTINHO,Obras Completas, Madrid,BAC, 1983, v.X, Sermo LXXXVIII, c.13, n.14., p.550.
⁽²⁾ CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio, Palestra, São Paulo, 5 jun.1974.
(Adaptado do artigo “Eis que estou à porta e bato”, da Ir. Juliane Campos, EP, na revista Arautos do Evangelho, nº 141, setembro de 2013, p. 50-51