O Evangelho deste 1º Domingo nos fala sobre a tentação. Reporta-nos ao momento no qual Se dispunha Cristo a iniciar sua missão de pregar a Boa-nova. Ao sair das águas do Jordão, logo após ser batizado pelo Precursor, o Céu se abriu, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de uma pomba e ouviu-se uma voz vinda do alto: “Tu és o meu Filho bem-amado; em Ti ponho minha afeição” (Lc 3, 22).
Nesse instante, comenta Bento XVI, deu-se uma como que investidura do encargo messiânico do Filho do Homem. Foram- Lhe conferidas ali, para a História e perante Israel, a dignidade real e a sacerdotal. A partir de então a vida de Jesus está subordinada à missão para a qual Ele Se havia encarnado.
Após o Batismo, a primeira disposição do Espírito Santo foi de conduzir Jesus ao deserto, onde Ele permaneceu quarenta dias em regime de penitência, isolamento e oração.
Mostra-nos o Divino Mestre que, antes de lançar-se a santas e grandes empresas, é indispensável preparar-se pela oração e pela contemplação, pois a vida interior é a alma de toda ação missionária. Se o próprio Deus humanado deu esse sublime exemplo, qual lição devem dele tirar todos quantos, em nossos dias, consagram a vida ao apostolado?
Nesse período, quis o Redentor contemplar o panorama completo da sua missão e como a Santa Igreja haveria de manter os efeitos da Redenção até os últimos tempos, através dos Sacramentos.
Um mero ato da vontade divina teria bastado para a fundação da Igreja. Não obstante, ao longo de sua peregrinação terrena, o Filho do Homem queria conquistar forças superabundantes para todos quantos haveriam de segui-Lo até o fim dos tempos. Por isso Ele nada comeu nem bebeu nesses quarenta dias. Viveu sustentado pela ação angélica e por uma força sobrenatural que não O impedia, contudo, de sentir fome e sede. Patenteia- se, uma vez mais, até que extremos de amor Ele estava disposto a chegar, para nossa salvação.
Cristo era Deus e, enquanto tal, não foi ao deserto visando preparar-Se na solidão para a luta que estava por vir, e sim para iniciá-la. Longe de buscar refúgio contra o mal, começava sua vida pública enfrentando e vencendo os ataques do inimigo.
Entretanto, não tinha o demônio ainda consciência da divindade de Jesus. Julgando-O passível de pecar, quis de todas as maneiras induzi-Lo a cometer diversas faltas.
O Divino Mestre ter querido assumir sobre Si as nossas tentações para vencê-las. Com a derrota infligida ao demônio no deserto, Cristo, Cabeça do Corpo Místico, obteve a vitória para todos os seus membros, conforme afirma São Gregório Magno: “Não é indigno de nosso Redentor querer ser tentado, Ele que veio para ser morto; antes, era justo Ele vencer com as suas as nossas tentações, como venceu com a sua a nossa morte”.
Ora, ainda segundo São Tomás, não foi esta a única razão pela qual quis Cristo ser tentado; ele acrescenta mais três:
1. para ninguém, por mais santo que seja, sentir-se seguro e imune à tentação;
2. para nos mostrar como vencer as tentações;
3. e para incutir-nos a confiança em sua misericórdia.
Por tal motivo, explica o mesmo Doutor Angélico: “Deve-se notar que Cristo não nos ensina a pedir para não sermos tentados, mas para não cairmos em tentação. Pois se o homem vence a tentação, merece a coroa”. Deus permite ao demônio atuar, deixa as más inclinações de nossa natureza decaída nos atormentarem, para dessa forma podermos obter méritos.
Assim como não se pode premiar um corredor que nem sequer saiu da cama, ou um intelectual que nada escreveu nem disse, assim também na vida espiritual: para receber a recompensa na eternidade, precisamos ser provados nesta vida.
Portanto, a tentação não nos deve entristecer, pois representa a hora do heroísmo e da alegria: é quando mostramos nosso amor a Deus. Cristo nos deu o exemplo!
Deste modo, quando chegar a tentação, não podemos tolerar nenhum desânimo, pois quem resiste e quem já venceu é Cristo, Cabeça do Corpo Místico do qual somos membros.
O demônio, quando nos tenta, tem por objetivo primordial tirar-nos o ânimo, porque, se conseguir isso, nos prenderá em suas garras. O ânimo, pelo contrário, nos mantém nas mãos de Deus e de Nossa Senhora.
Na Liturgia deste domingo, a Igreja quer nos transmitir uma mensagem: Deus nos ama e deseja nos perdoar. Ele está disposto a reconciliar-Se conosco, a fazer conosco uma aliança inquebrantável. Mas é preciso reavivar a fé e mudar de vida, como nos exorta Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho!”.
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