Como é triste ver aqueles que caminham na vida sem um objetivo!

Um propósito é que torna os seres humanos grandes, e todos os feitos impressionantes são realizados tendo em vista uma meta. Mesmo um inventor que, acidentalmente, descubra alguma nova propriedade da matéria, no fundo, tinha em vista um objetivo.

Para o cristão, a meta de sua vida já estava traçada antes mesmo de ser concebido no útero materno: salvar a sua alma no serviço a Deus. Este é o mérito mais elevado, a glória mais certa.

Confiai no Senhor porque Ele é bom, compassivo e clemente

Porém, apenas com nossas forças, sabemos que não somos capazes, e é por isso que o Senhor estimula especialmente a virtude da esperança em seus filhos: os versículos e Salmos aclamam o homem que põe sua confiança em Deus.

Porém, nesse contexto, qual a diferença entre a esperança, que é uma das virtudes teologais, e a virtude da confiança, narrada nas Sagradas Escrituras?

Seriam, por acaso, uma só e mesma ação? Ou teriam um significado distinto?

É o que nos propomos a esclarecer neste artigo.

O que é a esperança?

Sendo um componente das virtudes teologais – fé, esperança e amor –, compreende-se que a esperança é um primeiro e obrigatório degrau na vida do ser humano.

A esperança é tão forte que nem mesmo o pecado mortal a corrompe: sempre resta uma chama de fé e esperança, nas quais atuam as graças do arrependimento.

Ser esperançoso é, pois, aguardar o cumprimento das promessas de Nosso Senhor: se Ele mesmo disse que seria nossa recompensa demasiadamente grande, quem de nós poderia duvidar? Por acaso mentiria ou exageraria aquele que é a Verdade?

Portanto, nosso papel é aguardar, com a ajuda da fé, esse prêmio imerecido, mas que Ele nos concedeu em sua agonia na Cruz.

Em primeiro lugar, a virtude da esperança nos dá forças contra a nossa própria fraqueza.

Os maus pensamentos que nos assaltam, a fragilidade de nossa condição ao corresponder às graças, as tentações que irrompem pelo trabalho do maligno, contra todos continua forte a esperança.

Em um segundo momento, a esperança também nos auxilia contra a maré desfavorável da vida. Quem nunca perdeu um ente querido ou sofreu um revés doloroso e foi consolado pela esperança?

Ela nos narra um mundo perfeito, o Paraíso, onde não haverá mais sofrimento ou privação, e onde todos nos encontraremos e conviveremos com a felicidade eterna, caso tenhamos sido fiéis à promessa.

Definição da virtude da confiança

Qual seria o conceito de confiança então?

É o próprio São Tomás de Aquino quem nos responde: “Uma esperança fortificada por uma sólida convicção” (Summa Theologiæ, II-II, q. 129, art. 6 ad 3).

Isto quer dizer que a confiança é um segundo passo na vida espiritual, uma forma de evolução da esperança em grau e intensidade; aquela é o desenvolvimento pleno desta.

De modo prático, a confiança toma um ar ativo, enquanto a esperança é mais passiva; não apenas aguardamos a promessa se realizar, mas lutamos pela sua realização.

E em momentos nos quais parece que a própria esperança se acaba, a confiança continua a se afirmar. Podemos dizer que a confiança é, sim, a esperança multiplicada pela esperança.

Ela se manifesta na obra de muitos Santos, exímios praticantes da virtude.

Santo Afonso, por exemplo, disse: “Quem reza, se salva; quem não reza, se condena”. Percebemos que ele não fala sobre rezar mal ou rezar pouco; ele é claro em sua confiança: pediu, o Senhor atenderá e cumprirá sua promessa.

Outro Santo que se apoia na confiança é São Bernardo, em sua oração “Lembrai-vos”, em que ele afirma: “Lembrai-vos, minha Mãe, que nunca se ouviu dizer que alguém tenha reclamado o vosso socorro e fosse por Vós desamparado. Animado eu, com igual confiança…” Ou seja, para ele não há possibilidade de Maria Santíssima não atender.

A própria Virgem praticou esta confiança no Evangelho. Nas Bodas de Caná, ao avisar seu Divino Filho que o casal já não possuía vinho, recebeu a resposta: “Ainda não é chegada minha hora”.

Qual foi sua atitude, então? Chamou os serventes e avisou: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Ela não parou para Se perguntar se haveria o milagre; foi direto instruir como deveriam operar.

Como ser mais confiante na divina misericórdia?

Quando tudo parece desordenado, perdido ou impossível, é aí que nossa esperança está sendo testada para transformar-se em confiança.

É muito fácil confiar quando está tudo bem, mas, como dizia um famoso escritor: “Só é belo crer na luz na mais profunda noite”.

É só na aparente desordem, na aparente confusão, na aparente quebra de tudo aquilo que para nós é sinal de vitória, que a verdadeira confiança nasce.

E dramas há de todos os tipos: não é porque a consequência na vida não seja tão drástica, que um sofrimento é menos doloroso de ser vivido.

Lembremos que as perspectivas podem transformar uma pequena dor em uma grande desolação, e, em sentido contrário, uma grande desolação pode se reduzir a uma pequena dor, graças à virtude da confiança.

Portanto, hoje é dia de pedirmos a Nossa Senhora, Ela que é a Mãe da Confiança, a imperturbabilidade nos acontecimentos, fruto de uma crença que não duvida nunca.

Isso não significa desprezar suas próprias dores; pelo contrário, é entender ainda mais que o sofrimento é passageiro e que, por detrás das nuvens, o Céu é sempre azul.

No Livro da Confiança, do Pe. Thomas de Saint-Laurent, encontramos esta bela introdução: “Voz de Cristo, voz misteriosa da graça que ressoais no silêncio dos corações, vós murmurais no fundo de nossa consciência palavras de doçura e paz”.

Façamo-las nossas a partir de agora.