A Bíblia tem particularidades que a tornam alvo de homens de mau espírito e – por que não dizer? – pouco estudados, como ateus que tentam provar a irrealidade da Religião através do que não entendem das Sagradas Escrituras.

Uma das diferenças que notam é a coleção variada dos quatro Evangelhos, com coisas em comum, mas também relatos bem divergentes entre si.

Para saber estudar melhor a Bíblia, precisamos responder a esta questão: quais são as diferenças entre os quatro Evangelhos?

E por que quis o Espírito Santo que estas quatro descrições estivessem entre os Livros Santos? Não seria melhor apenas uma versão?

Constituição dos quatro Evangelhos

Os quatro relatos que possuímos na Bíblia são de quatro homens diferentes: dois deles conheceram Jesus e O acompanharam bem de perto: Mateus e João.

E os outros são de discípulos, que tiveram um certo contato com o Mestre, mas a maior parte de seu Evangelho vem de interrogar e entrevistar outros:

São Lucas passou bastante tempo na comunidade inicial de Jerusalém, e São Marcos foi, primeiro, secretário de São Pedro e depois passou alguns meses com seu tio, Barnabé, e sua dupla apostólica, São Paulo, para mais tarde voltar a secretariar o primeiro Papa.

É de conhecimento da Tradição que São Lucas entrevistou Nossa Senhora, e por isso seu Evangelho é o único que apresenta o maior relato da Anunciação e nascimento de Cristo.

Também devemos levar em consideração que os relatos foram escritos em tempos diversos: o de João, por exemplo, foi escrito já quando a maioria dos Apóstolos tinha partido para a eternidade, e com um intuito especial: defender a natureza divina de Cristo contra a heresia que já começava a se infiltrar na Igreja.

A natureza da notícia

Todos os livros que compõem as Sagradas Escrituras são relatos pessoais, ou seja, contêm a perspectiva da pessoa que os escreve.

E, por isso, estão subjugados a diversas condições, como o ambiente social, a condição física (lembremos da agonia de Jó transposta em seus relatos), as esperanças e decepções do indivíduo e ainda a finalidade que se tinha ao escrever.

Os Livros de Neemias e Esdras, por exemplo, contêm toda uma carga motivacional na volta do exílio do povo de Israel, pois era o que os escritores buscavam na época.

Com os relatos evangélicos também não seria diferente.

A palavra “evangelho” significa “boa-nova”, ou seja, o relato evangélico nada mais é que uma cobertura, quase que uma notícia sobre a vida de Cristo. E, como tal, cada Evangelista tem sua própria maneira de narrar o que acompanhou, segundo as suas experiências e vivências.

Por isso, ao invés de provar que a Bíblia é falha, a diversidade dos quatro Evangelhos antes atesta a sua veracidade.

Se tivéssemos apenas um relato ou se todos os quatro fossem idênticos, suspeitaríamos de uma prévia combinação, de algo artificial.

Quem é cada Evangelista?

São Mateus, o primeiro Evangelista, foi Apóstolo de Cristo, chamado da coletoria de impostos para o corpo dos mais chegados ao Mestre. Por isso, seu Evangelho tem notas especiais que definem a missão de Jesus e o que o ligam às profecias dos hebreus.

Ele começa pela genealogia de Cristo, demonstrando de fato que Ele é a figura esperada, o Filho de Davi desejado.

Está em seu Evangelho o empenho em demonstrar aos judeus que o Messias já veio, pois, como eles, praticou desde muito novo a religião antiga. Aliás, o único Evangelho escrito na língua hebraica é o de Mateus.

Já São Marcos – escritor, poeta e discípulo – deixou-nos um legado de descrição quase que literária. Seu Evangelho tem essas características clássicas, o que é comprovado no idioma em que escreveu: grego koiné.

Seu relato é cronológico e sua pluma descreve a autoridade de Cristo perante a antiga Lei.

São Lucas foi médico. Seu Evangelho é minucioso, bem descritivo e cheio de detalhes que tornam a nossa experiência de leitura mais rica.

Como grande entrevistador da primeira comunidade, quase que poderíamos dizer que legou um relato educativo, pronto para a formação dos menores que já cresciam na Fé Cristã.

Foi um grande pintor também, tendo a graça de retratar Nossa Senhora.

É dele que temos as informações que lemos nas noites de Natal, frutos, com certeza, das conversas especiais que tinha com a Santíssima Virgem.

São João, por sua vez, tem um Evangelho completamente diferente dos três outros, sendo por isso considerado o Evangelho teológico, enquanto os outros três são chamados de sinópticos, ou seja, semelhantes.

Isto porque São João usa do idioma grego antigo em cada pequena passagem, carregando tudo com um simbolismo enorme, o que esperaríamos do grande autor do Apocalipse.

Por exemplo: quando os outros Evangelistas usam a palavra “milagre”, São João usa o termo “sinal”, já que cada milagre feito por Cristo atesta e aponta para sua divindade, tema que estava em debate por muitos hereges.

Como aprender mais sobre os Evangelistas?

Os Santos e Padres da Igreja têm compilado estudos sobre os quatro Evangelhos, como o Tratado do Evangelho de Mateus, de São João Crisóstomo, ou Comentários acerca do Evangelho de São João, de Santo Agostinho.

Mas, por serem compostos de muita sabedoria, Filosofia e Teologia, podem ser pouco acessíveis. O mais indicado, por isso, é ler comentários variados de padres em seus sermões.

Mons. João tem sete volumes denominados O Inédito sobre os Evangelhos. Nesta sua obra, muitas vezes relembra os antigos tesouros da Tradição e soma com novos valores que vêm sendo explicitados com o tempo.

Além disso, como cristãos, sendo nosso dever guardar domingos e dias de festas para a Santa Celebração, podemos acompanhar, pelas homilias dos sacerdotes, comentários ricos de lições e simbolismos.

Basta que prestemos mais atenção e nos dediquemos nesta hora tão santa dentro da Liturgia dos domingos.