Que seria a Igreja sem a Eucaristia?

Seria um museu dotado de coisas antigas e preciosas, mas sem vida. […] Por isso Jesus Cristo na Eucaristia é o coração da Igreja.

[…] A Eucaristia é o mais alto ícone da Beleza de Deus revelada em Cristo, porque é a presença real do “mais belo entre os filhos dos homens”, a verdadeira Beleza em Pessoa.

Foi com este encanto do coração pelo mistério da Eucaristia que compus estes três textos que fui divulgando, em conferências, ao longo do ano eucarístico e que agora tenho o prazer de oferecer aos leitores na esperança de que o encanto se contagie…

“Por que ir à Missa ao domingo?”

Entre os chamados católicos não-praticantes, esta questão é seguida, normalmente, de uma autojustificação:

“Para rezar, não preciso ir à igreja, rezo melhor em casa ou em contato com a natureza”. Ou então: “A Missa é sempre a mesma coisa”.

[…] Penso que só se irá à Missa com gosto, espontaneidade e alegria quando se descobrir a beleza do dom específico e especial que nela nos é oferecido para dar sabor e beleza aos nossos dias e a toda a nossa vida.

A via da beleza

Hoje, é necessária para todos, mesmo para os cristãos, uma nova evangelização da Eucaristia através da via da beleza (via pulchritudinis) que nos permita descobri-la como mistério de beleza.

Neste tempo de desencanto e de pensamento efêmero […], a “via da beleza” adquire uma capacidade nova para falar aos olhos e ao coração do homem e para lhe anunciar a alegria e a beleza da salvação, que em Cristo nos é dada como algo capaz de vencer a dor e a morte, dando sentido e esperança à vida.

A beleza de que aqui falamos não é, pois, a beleza exterior, sedutora e efêmera. É, antes, aquela beleza “tão antiga e tão nova” que Santo Agostinho confessa como objeto do seu amor purificado pela conversão, ao exclamar: “Tarde te amei, ó Beleza sempre antiga e sempre nova, tarde te amei!”

Desejaria sublinhar que tudo isto não é só um problema de teologia, mas também da pastoral que deve voltar a oferecer ao homem o encontro com a beleza da fé.

O encontro com a beleza pode tornar-se no golpe do dardo que fere a alma, abrindo-lhe os olhos, isto é, dando-lhe uma nova capacidade de ver a realidade profunda: o esplendor da beleza de Deus no rosto de Cristo, e da nossa vida com Deus em Cristo.

Dará origem a uma nova cultura da beleza que se oponha e supere a cultura do feio, a qual procura convencer que toda a beleza é engano e que só a representação da crueldade, da baixeza e da vulgaridade é verdade e iluminação.

Eucaristia: contemplação da Beleza

O belo é para contemplar. É da ordem do olhar, e não do tato. Uma cultura sem beleza é uma cultura sem contemplação, e uma cultura sem contemplação é uma cultura sem beleza.

Tal como a beleza de um quadro requer contemplação prolongada, assim, e ainda mais, a beleza de Deus na Eucaristia.

Perante a beleza do rosto transfigurado de Cristo no Tabor, eis a reação espontânea de Pedro: “Mestre, como é belo estarmos aqui. Façamos três tendas!”

É belo pertencer a Cristo, estar com Ele, contemplar o seu rosto na Eucaristia! Esta beleza, deve senti-la no seu coração cada crente, cada cristão.

A contemplação é o meio pelo qual interiorizamos o mistério e nos abrimos à sua ação e irradiação. É o modo de permitir à graça, recebida no Sacramento, plasmar o nosso universo interior, os pensamentos, os afetos, a vontade, a memória.

A via da perfeição (santidade) vai do mistério à contemplação e da contemplação à ação.

Na Eucaristia, podemos realizar esta contemplação na escuta da Palavra ou na ação de graças da Comunhão.

Mas a forma privilegiada de contemplação eucarística, na Tradição católica, é a adoração do Santíssimo Sacramento. É o dom de prolongar e continuar o contato de coração a coração com Jesus que permanece presente no Sacramento do Altar.

A qualidade da Celebração Eucarística

Promover e assegurar a alta qualidade celebrativa da Eucaristia, ou a qualidade de excelência da celebração, é um caminho exigente, empenhativo, mas também fascinante.

O desafio é grande e não pode ser reduzido a uma questão de puro “ritualismo litúrgico”. Seria algo empobrecedor e falsificaria a questão. O que está em jogo é muito mais e maior.

É o sentido mais verdadeiro da Liturgia cristã, o mistério de Cristo que por amor gratuito Se dá a nós e que de nós espera ser livre e condignamente acolhido através de uma fé professada, celebrada, vivida e testemunhada.

Se é assim, cada Eucaristia deve ser celebrada e vivida na sua verdade mais profunda, como manifestação do mistério da salvação e como encontro pessoal e comunitário com Cristo Salvador.

Isto exige que a celebração, no respeito das normas litúrgicas, seja guiada pela “sabedoria celebrativa” a fim de que se realize com a devida dignidade e beleza e abra o coração à contemplação e ao deslumbramento do mistério celebrado.

Na Igreja, ninguém é dono da Liturgia, todos são chamados a pôr-se ao seu serviço para que nela se manifeste o mistério de Cristo e sua salvação, e Cristo seja anunciado, conhecido, recebido e amado.

“Vive aquilo que fazes”, poderia ser o lema que acompanha o exercício de cada ministério.

A arte requerida para desempenhar todas as funções ligadas ao ministério não é uma questão de competência técnica, mas uma questão de verdade espiritual.

O rito litúrgico é uma constelação de linguagens expressivas que estão ao serviço da beleza do mistério da Morte e Ressurreição de Cristo.

Sem pretensão exaustiva, podemos elencar as várias linguagens que usamos na celebração: a palavra e o silêncio vocal, o gesto e a imobilidade, o canto e o silêncio, a luz e a escuridão, as imagens e sua ausência, o perfume e sua ausência, etc.

Em síntese: dignidade e beleza, harmonia, proporção e elegância em tudo o que se diz, faz e canta, tendo como base uma espiritualidade de adoração do mistério, são os requisitos de fundo para uma celebração de qualidade.