
Deus quis Se fazer íntimo de nós
O Evangelho do V Domingo da Páscoa nos mostra como, em Jesus, Deus quis Se fazer íntimo de nós.
No Novo Testamento, desde que “o Verbo Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14), aquele mesmo Deus que fez tremer o Sinai e deu grandes poderes ao braço de Sansão e à voz de Elias, pôde ser adorado enquanto bebê na manjedoura, em Belém, e esteve nos braços de Maria, José, Simeão e dos Reis Magos.
Ele continuou sendo o mesmo Iahweh, mas atribuindo-Se títulos diferentes: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10, 11), “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6), “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8, 12), “Eu sou a Porta das ovelhas” (Jo 10, 7), “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu” (Jo 6, 51).
Fazendo menção a estas criaturas todas — inclusive comparando-Se à galinha com seus pintainhos, ao chorar sobre Jerusalém (cf. Mt 23, 37) —, Ele mostra bem qual é o seu incomensurável desejo — desejo eterno — de nos fazer participar de sua vida.
“Meu Pai é o agricultor”
Jesus afirmou neste Evangelho do V Domingo da Páscoa que o Pai é o agricultor e, em consequência, é Ele quem assume a tarefa da poda, da limpeza, dos cuidados.
Deus criou a videira, entre outras razões, para servir de exemplo a esses procedimentos próprios ao Pai.
A videira, entre os vegetais, é o mais adequado para se entender a necessidade do corte ou a da poda. São Paulo é bem explícito em sua apreciação sobre o Agricultor: “Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá a sua recompensa, segundo o seu trabalho. Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus” (I Cor 3, 7-9).
Videira e ramos, a imagem do Corpo Místico de Cristo
Estes ensinamentos de Jesus nos mostram o quanto é pleno de vitalidade seu Corpo Místico. Os “ramos” improdutivos, o Pai os arranca; e os que prometem frutos futuros, Ele os desponta e os acondiciona para se beneficiarem da seiva de modo mais excelente.
Não seria diminuto o elenco dos “ramos” infrutíferos, pois muitos são os vícios, más inclinações e pecados que bloqueiam o fluxo normal da “seiva” da graça. Em síntese, todos eles têm sua origem no egoísmo humano.
O estar voltado sobre si mesmo, submerso em suas próprias conveniências, traz como consequência inevitável um corte com as graças de Deus, pois estas nos são dadas com vistas à caminhada rumo ao Reino.
Por outro lado, como afirma São João Crisóstomo, ninguém pode ser verdadeiro cristão sem as boas obras. Ora, o egoísmo não as produz jamais.
A "poda" para a purificação dos bons "ramos"
Quanto à “poda” dos ramos frutuosos, além das tentações e provações permitidas por Deus, há dons, consolações e estímulos sobrenaturais, ações divinas que visam multiplicar a fertilidade deles. Por este dito de Jesus, vê-se quanto as tentações são úteis para conferir mais virtude e mérito aos bons “ramos”.

Condição para permanecer em Cristo
Uma vez que se esteja limpo, é preciso perseverar neste estado. Para tal, é indispensável cumprir os Mandamentos. “Nem todo aquele que Me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus” (Mt 7, 21).
O padre Manuel de Tuya diz, a respeito deste versículo, algo digno de nota: “O verbo que emprega — permanecer — é um termo técnico próprio de João. Ele o usa 40 vezes em seu Evangelho e 23 em sua primeira Epístola. E aqui, com este verbo, formula a íntima, permanente e vital união dos fiéis com Cristo”.
Com sua habitual clareza, Maldonado explica que essa permanência nossa em Jesus é como se Ele dissesse: “‘Se quiserdes dar frutos e evitar que o Pai os arranque, permanecei em Mim. De minha parte, já fiz o que devia — comenta Teofilato —, ao limpar-vos com minha doutrina; agora fazei o que deveis. Permanecei, perseverai nessa limpeza que Eu vos obtive.
A permanência de Deus em nós
Nossa vida em Cristo é um tema muito comentado e conhecido, porém, fala-se menos da permanência d’Ele em nós. Ora, esta é uma realidade sobrenatural de fundamental importância e sobre ela devemos nos deter para bem compreendê-la.
Segundo os teólogos, esta permanência é o primeiro e o maior de todos os dons que possamos receber. Este dom nos dá a real e verdadeira posse de Deus. E do mesmo modo como uma criança em gestação se alimenta permanentemente da vida da mãe, esta permanência de Deus na alma confere-lhe de forma ininterrupta a própria vida divina.
É por esta razão que a Igreja denomina o Espírito Santo o Doce “Hóspede da alma — Hospes animæ”. Ele não entra em nossas almas para uma rápida visita, pelo contrário, nela permanece.
Esta maravilhosa permanência da Santíssima Trindade em nós proporciona a nossas almas a plena posse e o gozo fruitivo d’Ela! Conforme nos ensina o próprio São Tomás: "O dom da graça santificante aperfeiçoa a criatura racional para que com liberdade não somente use o dom criado, mas ainda frua da própria Pessoa Divina”.
Em síntese, esta permanência de Deus em nós, prometida por Jesus, transforma-nos em Deus, guardadas as devidas proporções entre Criador e criatura.
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