Leitura do Livro dos Reis (I Rs 3, 5-12)
“Em Gibeon, o Senhor apareceu a Salomão num sonho, à noite, e lhe disse:
— Peça-Me o que quiser, e eu lhe darei.
Salomão respondeu:
— Tu foste muito bondoso para com o teu servo, o meu pai, Davi, pois ele foi fiel a Ti, e foi justo e reto de coração. Tu mantiveste grande bondade para com ele e lhe deste um filho que hoje se assenta no seu trono. Agora, Senhor, meu Deus, fizeste o teu servo reinar em lugar de meu pai, Davi. Mas eu não passo de um jovem e não sei o que fazer. Dá, pois, ao teu servo um coração cheio de discernimento para governar o teu povo e capaz de distinguir entre o bem e o mal. Pois quem pode governar este teu grande povo?
Salomão surpreende ao Senhor com seu pedido
O pedido que Salomão fez agradou ao Senhor. Por isso, Deus lhe disse:
— Já que você pediu isso e não uma vida longa nem riqueza, nem pediu a morte dos seus inimigos, mas discernimento para ministrar a justiça, farei o que você pediu. Eu darei a você um coração sábio e capaz de discernir, de modo que nunca houve nem haverá ninguém como você.
Ainda muito jovem, sem a experiência de um rei passado em anos, Salomão se dirige a Deus com oferendas e tributos.
Como o Senhor lhe dirigiu a palavra, com humildade ele reconheceu que não chegava aos pés de seu pai, Davi. Ao pedir sabedoria, porém, não o pede para ser melhor que os outros, mas sim para governar melhor o povo de Israel.
Quando nos colocamos nesta perspectiva, o Senhor se agrada de nossa oração. Quando pedimos força e fé para melhor educar os filhos, quando imploramos pela perseverança do esposo ou esposa, quando, diante dos poderosos do mundo, precisamos reafirmar a fé na Igreja, Deus fica atento à nossa oração. Pois o Senhor vê com bons olhos quando pedimos pelos outros, ou pedimos algo para nós, mas que vai retornar para a comunidade.
Esta é a “agradável surpresa” que o Senhor dos Exércitos toma ao ouvir a prece de Salomão. É por isso que, nos versículos seguintes, não só lhe concede sabedoria, mas ouro, prata, riquezas todas, prestígio e fama. E, ainda hoje, a glória de Salomão chega a nós pelas atas históricas.
O sábio pode pecar?
Salomão pediu sabedoria para bem governar o povo de Deus, exercendo a função de rei com honra. Ser sábio fez de Salomão uma lenda, que resolvia inextrincáveis mistérios, julgava as contendas de seu reino com justiça e era implacável contra os maus que falseavam as acusações.
O dom da sabedoria concede ao homem uma visão acurada da História, tal qual o próprio Deus vê.
Ele não se aflige pelas reviravoltas do tempo e do luto, sabe esperar a época propícia de cada acontecimento e põe-se como um farol, fixo e imutável, que orienta e guia.
Este é um dom do Espírito Santo, o maior deles. A sabedoria está baseada no próprio esplendor de Deus.
Mas o sábio não está imune ao pecado. Ele também é tentado como qualquer outro mortal, e, por mais sábio que seja, o demônio tem articulações e sussurros planejados à altura da sabedoria.
Por que Salomão pecou e desprezou o dom da sabedoria?
O motivo exato da queda de Salomão nos permanece velado. As Sagradas Escrituras apenas abrem o próximo capítulo dizendo que o Rei Salomão, mesmo com todas as dádivas concedidas, pleno do dom de sabedoria, prevaricou contra o Senhor.
Ao final de sua vida, já sem discernimento, aquele que antes fora sábio, agora adorava deuses pagãos, representações grotescas de madeira e pedra.
Apenas podemos conjecturar algumas razões: a primeira foi o enorme número de esposas que possuía. Faltou temperança ao rei, que não poderia gastar todo o seu tempo com prazeres. Também podem ter sido as inúmeras alianças políticas que Salomão fez, pois sua grandeza se espalhara muito. Assim, ao invés de manter a fé intacta, foi fazendo concessões aos reis pagãos que se ajoelhavam diante dele.
Infelizmente, Salomão morreu com essa disposição à idolatria.
A lição que precisamos aprender é que nunca estamos 100% garantidos enquanto ainda vivos.
Mesmo São Paulo, que passou três anos no deserto com Cristo, dizia que havia um espinho em sua carne que lhe fazia praticar o mal que não queria.
Peçamos a Nossa Senhora – Ela sim, o trono da Sabedoria Encarnada – mais do que Salomão pediu: não só sabedoria, mas, sobretudo, perseverança.