Como eram encantadores aqueles maravilhosos dias iniciais da criação!
Nosso pai Adão caminhava deslumbrado pelo Paraíso, inebriado pelos dons que Deus onipotente lhe havia gratuitamente concedido.
O primeiro homem havia sido colocado como senhor do Jardim do Éden. E logo percebeu que todos os animais lhe obedeciam, acorrendo com alegria a seu chamado, aguardando suas ordens ou pedidos.
Talvez em seus misteriosos instintos, percebessem como Deus queria bem a Adão, pois passeava todas as tardes com ele, e os dois Se entretinham em longas e amistosas conversas.
Com reverência, dezenas de mamíferos, répteis e anfíbios observavam à distância e em silêncio aqueles divinos passeios.
Certo dia, Adão perguntou a si mesmo se também as plantas lhe obedeceriam. Se a fauna contente o fazia, por que também não a flora?
Dirigiu-se até uma das árvores mais belas, que possuía folhas de cor semelhante às nossas esmeraldas e frutos de um dourado capaz de ofuscar qualquer ouro de fora do Paraíso. No entanto, aquelas frutas de tão bela aparência encontravam-se em galhos muitos altos, e Adão, levantando um pouco a voz, disse:
— Macieira, dá-me um de teus frutos.
Ela, contentíssima por ter sido a primeira planta a ser chamada por Adão, curvou um de seus galhos como se fosse um braço humano e gentilmente ofereceu-lhe sua melhor maçã.
Ele a provou e apreciou sobremaneira o seu sabor. E desde então ela passou a ser sua fruta favorita.
Não devemos nos espantar pelo fato de serem douradas as maçãs do Éden. Lembremo-nos de que no Paraíso tudo, absolutamente tudo, era melhor, mais belo e, de longe, superior às pobres coisas existentes em nossa terra.
A parte seguinte desta história é bem conhecida…
Adão e Eva deram ouvidos às insinuantes palavras da serpente e desobedeceram às ordens divinas, conforme nos é narrado no Gênesis.
Entretanto, nada nos impede de imaginar a cena com alguns detalhes que não estão na Sagrada Escritura.
A árvore do fruto proibido era justamente a maior e a mais bela de todas as macieiras, colocada bem no centro do Jardim do Éden. O primeiro casal aproximou-se dela, e a serpente, temendo que eles pudessem vacilar, os instigou:
— Vamos!
Adão, então, dirigiu-se à macieira:
— Dá-me um de teus frutos.
A árvore sofreu uma dúvida cruel, uma verdadeira comoção interna: por um lado, sabia que Adão estava proibido de comer de seus frutos. Por outro, sentia uma grande tristeza, pois era a única árvore cujos frutos jamais seriam saboreados pelos homens.
Assim, algo relutante e algo satisfeita, abaixou um galho e entregou-lhe a fatídica maçã. Vendo isso, a serpente silvava, com pérfida alegria.
O pecado de Adão não passou despercebido por Deus. Confusos e cheios de dor, nossos primeiros pais foram expulsos do Paraíso.
Quando os condenava, Deus olhou por um instante para a grande macieira, a qual encolheu suas folhas, enquanto todos os seus frutos coravam de vergonha.
Ao sair, Adão levou nas dobras de seu traje de peles algumas sementes de plantas, pois não sabia o que ia encontrar no cruel mundo fora do Éden.
Elas, de fato, foram úteis. Os primeiros pães, Eva os fez do trigo oriundo dessas sementes. E também delas provieram outros cereais, legumes e frutas.
No entanto, uma das maiores esperanças do sofrido Adão eram as sementes de maçã.
Após alguns anos, as primeiras macieiras por ele plantadas atingiram sua maturidade; cheio de saudades do Paraíso, ele ansioso aguardava seus frutos. E teve uma grande decepção quando viu que as maçãs já não eram douradas, mas vermelhas, como no dia de seu triste pecado. Contemplando a árvore carregada de frutos rubros, lembrou-se do Paraíso perdido.
Teria Deus permitido que ainda lhe restasse algum poder sobre a natureza? Hesitante, colocou-se diante da árvore e pediu:
— Por favor… dá-me um de teus frutos.
Ela, porém, permaneceu imóvel.
Suspirando, Adão e seus filhos buscaram algumas toscas escadas, e com resignação começaram a colher as maçãs, arranhando os braços nos troncos ásperos e arfando sob o peso dos cestos cheios.
Mas Adão e seus descendentes não foram os únicos a padecer com as consequências do grande e primeiro pecado, pois tanto os animais como as plantas, por uma misteriosa hereditariedade, sabiam que houvera tempos melhores.
Assim, também aquela macieira sofreu, por não ter podido entregar seu fruto a quem fora o senhor dos seres criados.
Passaram-se os séculos, e cada nova geração de macieiras trazia na cor de seus frutos a lembrança da vergonha daquele triste acontecimento e a esperança de que um dia Deus as perdoaria e restauraria na terra aquela harmonia perdida no Paraíso.
Milhares de anos mais tarde, um grupo de cansados e sedentos viajantes palmilhava as poeirentas estradas que transpunham as fronteiras do antigo Reino de Israel. O sol ardente os castigava, e suas gargantas ressequidas ansiavam por algo para amainar a sede.
Após uma curva no caminho, encontraram uma árvore sob cuja sombra decidiram descansar um pouco, por se encontrarem muito distantes ainda de seu destino, a terra dos faraós.
Enquanto recobravam as forças, perceberam que se tratava de uma árvore frutífera. Mais precisamente uma macieira. E estava carregada de maçãs, pois, embora numerosos viajantes por ali passassem, elas pendiam de galhos muito altos e não podiam ser colhidas com facilidade.
Também a árvore, em sua muda percepção, sentiu a presença dos viajantes – um respeitável ancião e uma bela Senhora com um inocente Menino nos braços – e, como fizeram suas ancestrais, condoeu-se de não poder entregar-Lhes suas suculentas maçãs. Como ela se sentiria feliz se pudesse saciar a sede que Eles sentiam!
Nesse momento, o Menino fixou o olhar na macieira. Ela toda estremeceu, da raiz até as últimas folhas. Embora o pequeno ainda não falasse, ela sentiu no íntimo de seu ser como se a doce criança lhe dissesse:
— Dá-Me um de teus frutos, pois tenho sede!
Então, para assombro dos que por ali passavam, e também da própria árvore, seus galhos readquiriram a antiga flexibilidade; curvando-os, ela entregou suas melhores frutas àquela pequena família.
Quando o Menino mordeu com prazer sua maçã, ela miraculosamente tornou-se dourada!
Uma após outra, também ficaram douradas aquelas que sua Mãe e seu pai comiam. E, logo em seguida, o mesmo aconteceu com todas as outras maçãs.
Cheia de alegria, a macieira se deu conta de que os dias de tristeza do pecado original logo seriam consolados e uma nova era estava por se abrir para toda a criação.
Espantado com aquelas maravilhas, um dos viajantes exclamou:
— Quem é esse Menino, a cuja presença a natureza obedece e se transforma?
Sorrindo suavemente, a Senhora olhou-o com bondade e respondeu:
— Ele Se chama Jesus.