Introdução
Vamos realizar a nossa meditação que, seguindo o conselho de Nossa Senhora em Fátima: Ela, em Fátima, disse que nós, nos primeiros sábados, deveríamos primeiro rezar o Rosário, segundo, fazer uma meditação reparadora, meditação de um dos Mistérios do Rosário, terceiro: devemos assistir à Missa, comungar neste dia. E isto durante cinco sábados seguidos. Ademais, a confissão reparadora. Ela também coloca como condição que nos confessemos ou no dia, de preferência, ou então na própria oitava, ou numa oportunidade próxima, imediata.
Iniciemos nossa reflexão sobre o mistério da Anunciação. Vamos nos recolher e pedir graças especiais para bem fazer esta meditação.
Oração inicial
Ó Virgem Santíssima, Mãe de todos os Anjos, Mãe de todos os homens, Rainha do Céu e da Terra, neste momento contemplaremos a Anunciação do Anjo São Gabriel a Vós, propondo-Vos que sejais Mãe de Deus.
Que terá havido para que Deus ficasse enternecido com vossa alma? Foi especialmente vossa humildade e vossa virgindade. Assim, atraístes à Terra a Encarnação do Verbo.
Ó Mãe, ensinai-me, nesta meditação, a praticar a virtude da pureza e a virtude da castidade, tão pouco, hoje em dia, consideradas, e tão necessárias para as grandes obras, tão necessárias para entrar no Céu, tão necessárias para viver com Deus já aqui na Terra e, sobretudo, na eternidade.
Vos oferecemos de antemão e pedimos, nesta meditação, que nos assistais a cada passo com graças especiais, para podermos contemplar os mistérios nela contidos e, assim, unirmo-nos ainda mais a Vós e a Deus por vosso intermédio.
Assim seja.
I- A história de Maria inicia na Anunciação
A história do Verbo é eterna! O Verbo é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho Unigênito do Pai. O Verbo, portanto, não possui origem no tempo, pois o tempo foi criado por Deus para benefício do homem. No entanto, quis Ele assumir uma nova “origem”: entrar na história humana, revestir-Se de nossa natureza e assumir uma missão. Qual? A Redenção, isto é, a reparação do pecado cometido pelo homem contra Deus.
Esse ingresso do Verbo no tempo, está unido à vida de Nossa Senhora. Até o momento em que Maria Santíssima não é visitada pelo Anjo, Ela permanece oculta, não aparecendo nos relatos evangélicos. É precisamente no momento da Anunciação que a história da Mãe de Deus se inicia, a Encarnação e a vida de Nossa Senhora começam a ser narradas ao mesmo tempo.
II - O “impasse” dentro da Santíssima Trindade
O Verbo é consubstancial ao Pai. O Pai e o Filho são idênticos, e de ambos procede o Espírito Santo, igualmente idêntico: mistério sublime da Trindade Santíssima, que ultrapassa a capacidade da razão humana. Contudo, justamente por serem iguais, apresenta-se, por assim dizer, um dilema: como poderia o Filho manifestar ao Pai uma veneração que correspondesse plenamente ao Seu infinito amor?
É neste ponto que, segundo um grande Patriarca do Oriente, a Santíssima Virgem tem um papel decisivo dentro dos insondáveis desígnios da Providência. Pois o Filho só poderia glorificar o Pai por meio da humildade: humilhando-Se, rebaixando-Se, tomando a condição de servo, revestindo-Se de nossa frágil e débil natureza — exceto no pecado.
Ora, esta Humildade, que é o próprio Cristo por substância, encontra eco perfeito em Maria Santíssima. Na cena da Anunciação, a Virgem Imaculada — concebida sem pecado, adornada de todas as virtudes — responde com a mais pura humildade: “Eis a escrava do Senhor; faça-se em Mim segundo a vossa palavra.” Assim, a história do Verbo Encarnado e a história de Maria principiam simultaneamente, ambas sustentadas pela mesma virtude. Ele, a Humildade substancial; Ela, a humildade por excelência na ordem da graça e da participação.
III - É indispensável viver em oração
O encontro do Arcanjo Gabriel com Nossa Senhora dá-se em circunstâncias muito significativas: Maria Santíssima encontrava-Se em oração. Concebida sem pecado original, enriquecida já no primeiro instante de sua existência com a ciência infusa, desde o claustro materno de Santa Ana, Ela rezava com plena consciência.
Nosso Senhor Jesus Cristo, igualmente, ofereceu à humanidade o exemplo constante da oração. Recolhia-Se às montanhas, afastava-Se para estar a sós com o Pai e, nos momentos culminantes de sua missão redentora, como no Horto das Oliveiras, quis enfrentar a dor e a Paixão em diálogo íntimo com o Pai eterno.
Se a oração foi indispensável para Aquela que é Imaculada e para o próprio Filho de Deus feito homem, quanto mais necessária o é para nós. Devido à queda de nossos primeiros pais, carregamos em nós uma tendência para o mal que só pode ser vencida pela graça. Ora, até mesmo para observar a lei natural, precisamos do auxílio divino. Muito mais, então, para observar a Lei de Deus e praticar as virtudes, faz-se imprescindível a graça.
Todavia, certas graças só se obtêm mediante a súplica. Daí a necessidade absoluta de viver em oração. A oração, segundo a clássica definição, é precisamente esta elevação da alma a Deus.
Nossa Senhora rezou ininterruptamente durante toda a sua vida. Nosso Senhor, sendo Deus, rezou por cada um de nós. Contemplou, desde sua eternidade, cada batizado, cada alma chamada à salvação, e intercedeu para que acolhêssemos as graças que nos seriam oferecidas. Se hoje vivemos na fé, é porque Cristo rezou por nós.
A oração é, pois, o exercício terreno daquilo que será nossa eterna ocupação no Céu: contemplar a Deus face a face, na visão beatífica. Para vivermos eternamente em oração, o único caminho seguro é habituarmo-nos, já nesta vida, a viver dela. Santo Afonso Maria de Ligório sintetiza com força esta verdade: “Quem reza se salva; quem não reza se condena.”
IV- Humildade, virgindade e castidade: virtudes da Anunciação
Na cena da Anunciação, além da humildade, brilha de modo extraordinário a virgindade de Maria. Ao ouvir do Anjo que seria Mãe de Deus, Maria apresenta apenas uma objeção: o voto de virgindade que fizera.
A virgindade e a castidade exigem vigilância, espírito de sacrifício e imolação interior. A falta de castidade degrada a alma, conduzindo-a à escravidão do pecado. A história confirma: a corrupção dos costumes precedeu o Dilúvio e levou Roma pagã à ruína.
Maria Santíssima, pela sua virgindade imaculada, atraiu sobre Si o beneplácito divino, tornando-Se Mãe de Deus e Mãe dos homens. Sua pureza, unida à humildade, resplandece como virtude fundamental da Anunciação.
É significativo ainda que o próprio Arcanjo Gabriel, superior por natureza, dirija a Maria a saudação: “Ave, cheia de graça!”. Reconhece assim que a plenitude da graça em Maria supera a de todos os anjos e santos. Este ato de veneração do Anjo para com a Virgem Imaculada manifesta a sublime grandeza de Maria e, ao mesmo tempo, a humildade de Gabriel.
Assim, a cena da Anunciação nos apresenta, com extraordinária eloquência, as virtudes da humildade, da virgindade e da castidade. Virtudes que resplandecem em Maria, convidando-nos a imitá-La. E para vivê-las, indispensável é a oração.
Oração final
Ó Maria, Rainha do Universo e verdadeira Mãe de Deus, glória e grandeza maior não existe senão a Vossa divina maternidade. Entretanto, Vós, que fostes cumulada de tão excelsa dignidade, reconheceis com perfeição o Vosso nada, por serdes pura criatura. Assim, aquilo que o mundo de hoje falsamente imagina — como se grandeza fosse contrária à humildade — em Vós encontra a mais bela e harmoniosa união. Grandeza possuís, mas dela fazeis serviço; humildade tendes, e dela dais o mais perfeito exemplo.
Além disso, ó Virgem puríssima, fostes Virgem antes, durante e depois do parto, pois Deus quis, em Vós, exaltar a virtude da castidade, mostrando quanto Ele a ama e deseja vê-la resplandecer em seus filhos.
Humildade e grandeza, castidade perfeitíssima: eis precisamente as virtudes de que o mundo moderno mais carece. Senhora, tende compaixão de nós! Concedei-nos a graça de sermos humildes, mesmo quando nos sejam confiadas grandes funções ou cargos. Concedei-nos a graça de sermos castos, ainda que tenhamos de atravessar este século marcado pelo pecado. Protegei-nos, ajudai-nos, amparai-nos!
Assim seja.
(Texto sem revisão do autor)