Um só coração e uma só alma

No dia 1º de novembro de 2024, dia de Todos os Santos, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, fundador dos Arautos do Evangelho, completou sua jornada na terra, aos 85 anos, com um percurso de vida abençoado e sempre disposto a fazer a vontade de Deus.

Nada mais justo que, neste artigo, vermos brevemente uma de suas maiores conquistas de estudo – e por que não dizer? – também um de seus principais objetivos de vida: a escrita e divulgação de sua maior obra acadêmica, a tese de doutorado em Teologia: O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira.

Anos de batalhas em torno da Causa Católica

Mons. João teve seu primeiro encontro com Dr. Plinio em meados de 1956, quando ainda contava 16 anos.

A partir daí, como convite para o apostolado e luta pelos ideais da Igreja, foram 68 anos de dedicação integral à Religião.

De leigo a sacerdote, de sacerdote a monsenhor prestigiado pela Santa Igreja – ele ganhou a medalha Pro Ecclesia et Pontifice, outorgada àqueles que desempenham um papel especial na nova era de evangelização –, Mons. João nunca desistiu de levar às maiores tribunas, fossem elas quais fossem, o atestado de santidade que pôde presenciar em mais de 40 anos de convívio com Dr. Plinio.

Para coroar estes esforços, veio a lume sua tese de doutorado prestado pela Pontifícia Universidade Bolivariana de Medellín, na Colômbia: O dom de sabedoria na mente, vida e obra de Plinio Corrêa de Oliveira.

Esta foi a sua maior obra acadêmica, pela relevância em seu objetivo de atestar a vida de Dr. Plinio.

Com a Libreria Editrice Vaticana, uma editora de moldes papais, Mons. João também pôde lançar a tese em uma coleção de cinco volumes, contando, de um modo um pouco mais leve, para o grande público, a vida de seu mestre, pai e orientador espiritual.

A obra procura “oferecer uma descrição minuciosa das moções do Espírito Santo na alma de Dr. Plinio, especialmente através do dom da sabedoria”, conforme pôde constatar Mons. João.

Volumes I, II e III: fundamentos e preparação

Nosso Senhor tinha como missão remir o gênero humano e entregar ao Pai a sua vida pela nossa.

Inumeráveis doutores esclarecem que um sacrifício seu, como o que houve na circuncisão, já seria suficiente para este objetivo.

Porém, Ele quis passar trinta anos no anonimato com sua Santa Mãe, e mais três anos pregando e alicerçando a obra que um dia fundaria, a Santa Igreja, entre seus Apóstolos e o povo que tanto amava, antes de sofrer sua Paixão.

São eventos distintos, mas que não podem ser entendidos separadamente: tudo o que aceitou viver e que plantou e cultivou foi um santíssimo prefácio de sua missão, o sofrimento na morte e a glória na Ressurreição.

Mutatis mutandis – ou seja, considerando as devidas proporções – a vida de Dr. Plinio teve um calvário do qual foi necessária toda uma preparação.

Nos três primeiros volumes da maior obra acadêmica de Mons. João, vemos o jovem Plinio já com dons e graças inefáveis que o circundavam.

Crescendo e se tornando um personagem de destaque nacional, Plinio se tornou o deputado mais jovem e mais votado de uma eleição; travou uma luta pelos ideais eclesiásticos no âmbito civil, defendendo o Brasil dos erros religiosos e doutrinários; e fundou uma obra que teria proporções continentais, a TFP.

Assim, nos três primeiros volumes, Mons. João disserta e mostra, com base nas próprias experiências, com excertos autobiográficos, como a vocação de Dr. Plinio era grande, católica, universal.

Além disso, nos traz a correspondência diária da missão que o Senhor lhe reservava e as bases que construiria para um dia configurar-se como um verdadeiro profeta.

Volume IV: Vítima expiatória

No volume quarto, Mons. João apresenta as grandes provações pelas quais Dr. Plinio teve que passar.

Muitas vezes, a falta de generosidade de seus mais próximos para com as graças de Deus levou ao amargo dissabor do desentendimento. Em um certo período, Dr. Plinio já não tinha mais certeza se a TFP, que criara para lutar pela Causa Católica, ainda existia.

Em 1975, sofreu um acidente de automóvel que lhe custou integridade física que lhe restara dos quase 70 anos que possuía. Deus queria dele um oferecimento.

Mons. João foi testemunha direta das maravilhas que se originaram depois do sofrimento de Dr. Plinio: uma revoada no apostolado, uma maior institucionalização, uma entrega sem limites aos ideais da Santa Igreja.

É a disposição ao sacrifício, como outrora Abraão ao levar Isaac à montanha, que conquistam de Deus as benevolências.

“Combati o bom combate”

O volume V nos narra o capítulo final da vida de Dr. Plinio.

As provações ainda não acabaram, e a luta é ainda mais acirrada: o inimigo queria triunfar sobre sua nobre alma e sobre a ilustre obra que fundara e regia.

Mas, ao final, Dr. Plinio sobe o seu Gólgota: em 1995 sofreu com um câncer, o que o levou aos últimos momentos, no início de outubro.

Uma de suas últimas frases foi: “Se cada membro do Grupo [TFP] soubesse o quanto lhe quero bem, isso seria suficiente para que viesse o Grand-Retour”.

Grand-Retour era uma forma de Dr. Plinio se referir a uma graça especial do Espírito Santo que mudaria as mentalidades e preparia a humanidade para o Reino de Maria, tese anunciada por São Luís Maria Grignion de Montfort.

Nada poderíamos deixar de esperar, de fato, de um homem que passou a vida toda em defesa de Deus e, por isso mesmo, de amor por aqueles que O buscam de sincero coração.

A introdução é, sim, o melhor encerramento

Mons. João começa a sua maior obra acadêmica citando o episódio do eremita Santo Antão que, quando vê que questionam a divindade de Cristo, se aproxima do púlpito e afirma, com incontestável firmeza: “Eu O vi! Eu O vi!”

O que era o raciocínio torcido de uns tantos hereges perante a experiência daquele que, por uma graça sem igual, pôde ver e conversar com o Homem-Deus? Menos que nada!

No momento atual, muitos ainda se levantam para questionar a Santa Igreja e sua doutrina sacrossanta sem o menor embasamento!

A oferta que Mons. João nos fez é fruto de sua própria experiência, de seus anos de testemunho e de privilegiada posição: a partir de 1967, com uma cirurgia feita por Dr. Plinio em consequência da diabetes, Mons. João esteve sempre como seu secretário e principal confidente.

Como não podem trinta anos de proximidade, fora os dez primeiros de convívio, serem uma referência certíssima da conduta de Dr. Plinio? 

Parafraseando Santo Antão, Monsenhor bradou: “Eu o vi! Eu o vi!”, constantemente.

Que saibamos dar-lhe isto de presente pela sua dedicação ao apostolado e ao ministério eclesiástico: mais fé, mais caridade, mais devoção, mais oração e mais dedicação ao Senhor, em honra também daquele que foi seu pai espiritual e que tudo suportou por Deus: Plinio Corrêa de Oliveira.