Maringá (Terça-Feira, 29/10/2013, Gaudium Press) "Envelhecer sem perder o valor". Este é o título do artigo de dom Anuar Battisti, arcebispo metropolitano da arquidiocese de Maringá, no Estado do Paraná, onde ele afirma que diante da condição do envelhecimento humano acompanha o medo de ser inútil, de se tornar um peso, de viver abandonado, na solidão das ausências daqueles que amamos. Para ele, nada é mais decepcionante do que chegar ao fim e ter a sensação de que não valeu a pena ter vivido.
De acordo com o prelado, a vida é um jogo de amor e dor e ninguém vive sem amar. Ele ressalta que amando fazemos da vida uma constante superação do humano, inclusive da dor, que amada e assumida como própria, se transforma em amor. Dom Anuar faz então um questionamento: Como se preparar para viver a complicada sensação de inutilidade? Segundo ele, não existe receita pronta e sim caminhos que durante o passar dos anos vamos aprendendo a percorrer.
Outra questão levantada pelo arcebispo é que nesta escola da vida nem sempre estamos preparados para aprender as lições que a inutilidade nos prepara, pois é difícil aceitar o delicado tempo da inutilidade. O prelado explica que é preciso viver com dignidade esse terreno perigoso, mas necessário de sentir-se inútil. Ele ainda enfatiza que uma graça a pedir a Deus é que, quando chegar a velhice e perdermos a utilidade, que tenhamos alguém ao nosso lado que nos ame de verdade.
"Só será capaz de amar aquele que depois da inutilidade descobrir o valor da velhice. Nunca seremos valorizados pelo que fazemos e sim pelo que somos. Ninguém, mesmo que tenha construído os mais belos edifícios, escrito as mais belas obras literárias, ter deixado o acervo cultural mais importante, vai ser amado pelo que fez e sim por aquilo que é. O valor não se conquista, ele existe, e por ele vale a pena viver", acrescenta.
Conforme dom Anuar, perdemos muito tempo atrás de coisas, de superficialidades, de aparências e máscaras acobertando o que de mais belo possuímos: a capacidade de amar, mesmo na inutilidade da vida. "A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca" (Carlos Drumond de Andrade).
Por fim, o arcebispo avalia de que nada adianta ganhar o mundo, quando perdemos a eternidade. Ele acredita que o eterno só existirá se formos abertos em acolher no difícil terreno da vida, o valor e não utilidade. Dom Anuar ainda lembra o próprio Jesus que, em tom de despedida, entrega uma nova lei, resumo de todas as leis: "Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei a vocês, vocês devem amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos" (Jo 13,34-35).
"Queira Deus de que ao chegar ao fim, sem ser útil e completamente alheio do momento presente, tenha alguém que seja capaz de nos olhar e dizer: Eu te amo, conte comigo, não sei viver sem você. Envelhecer sim, mas nunca perder o valor", conclui o prelado. (FB)