A evangelização – e, portanto, a Nova Evangelização – comporta também o anúncio e a proposta moral. O próprio Jesus, precisamente ao pregar o Reino de Deus e o seu amor salvífico, fez apelo à fé e à conversão (cf. Mc 1, 15).
E Pedro, com os outros Apóstolos, ao anunciar a Ressurreição de Jesus de Nazaré de entre os mortos, propõe uma vida nova a viver, um “caminho” a seguir para ser discípulo do Ressuscitado (cf. At 2, 37-41; 3, 17-20).
Procurar o modelo na Virgem Mãe de Deus e nos Santos
Tanto ou mais ainda que pelas verdades da Fé, é ao propor os fundamentos e os conteúdos da moral cristã que a Nova Evangelização manifesta a sua autenticidade, e, ao mesmo tempo, expande toda a sua força missionária, quando se realiza com o dom não só da palavra anunciada, mas também da palavra vivida.
É particularmente a vida de santidade, resplandecente em tantos membros do povo de Deus, humildes e, com frequência, despercebidos aos olhos dos homens, que constitui o caminho mais simples e fascinante.
Onde é permitido perceber imediatamente a beleza da verdade, a força libertadora do amor de Deus, o valor da fidelidade incondicional a todas as exigências da Lei do Senhor, mesmo nas circunstâncias mais difíceis.
Por isso, a Igreja, com a sua sábia pedagogia moral, sempre convidou os crentes a procurarem e a encontrarem nos Santos e Santas, e, em primeiro lugar, na Virgem Mãe de Deus “cheia de graça” e “toda santa”, o modelo, a força e a alegria para viver uma vida conforme aos Mandamentos e às Bem-aventuranças do Evangelho.
A vida moral possui o valor de um “culto espiritual”
A vida dos Santos, reflexo da bondade de Deus – d’Aquele que “só é bom” –, constitui não apenas uma verdadeira confissão de Fé e um impulso para comunicar aos outros, mas também uma glorificação de Deus e da sua infinita santidade.
Uma vida santa leva assim à sua plenitude de expressão e atuação o tríplice e unitário munus propheticum, sacerdotale et regale, que cada cristão recebe como dom no renascimento batismal “da água e do Espírito” (Jo 3, 5).
A sua vida moral possui o valor de um “culto espiritual” (Rm 12, 1; cf. Fl 3, 3), que brota e se alimenta daquela fonte inesgotável de santidade e glorificação de Deus que são os Sacramentos, especialmente a Eucaristia.
Com efeito, ao participar no sacrifício da Cruz, o cristão comunga do amor de doação de Cristo, ficando habilitado e comprometido a viver esta mesma caridade em todas as suas atitudes e comportamentos de vida.
Na vida moral, revela-se e atua-se ainda o serviço régio do cristão: quanto mais ele, com a ajuda da graça, obedece à lei nova do Espírito Santo, tanto mais cresce na liberdade, à qual é chamado através do serviço da verdade, da caridade e da justiça.
A evangelização nunca será possível sem a ação do Espírito
Na raiz da Nova Evangelização e da vida moral nova, que aquela propõe e suscita com os seus frutos de santidade e de missionação, está o Espírito de Cristo, princípio e força da fecundidade da santa Mãe Igreja, como nos recorda Paulo VI: “A evangelização nunca será possível sem a ação do Espírito Santo”1
Ao Espírito de Jesus, acolhido pelo coração humilde e dócil do crente, se devem, pois, o florescimento da vida moral cristã e o testemunho da santidade na grande variedade das vocações, dos dons, das responsabilidades e das condições e situações de vida.
É o Espírito Santo – anotava Novaciano, nisto exprimindo a autêntica Fé da Igreja –
Aquele que deu firmeza aos corações e às mentes dos discípulos, que os iniciou nos mistérios evangélicos, que os iluminou nas coisas divinas.
Por Ele revigorados, não temeram as prisões nem as correntes pelo nome do Senhor; antes, subjugaram as próprias potências e tormentos do mundo, armados já e reforçados por seu intermédio, dotados que foram com os seus dons que este mesmo Espírito reparte e envia como joias à Igreja, Esposa de Cristo.
É Ele, de fato, que na Igreja suscita os profetas, instrui os mestres, guia as línguas, realiza prodígios e curas, produz obras admiráveis, concede o discernimento dos espíritos, confere os encargos de governo, sugere os conselhos, reparte e harmoniza os restantes dons carismáticos, tornando, assim, por toda a parte e em tudo plenamente perfeita a Igreja do Senhor”2
No contexto vivo desta Nova Evangelização, destinada a gerar e a nutrir “a fé que atua pela caridade” (Gal 5, 6), e em relação com a obra do Espírito Santo, podemos agora compreender o lugar que, na Igreja, comunidade dos crentes, compete à reflexão que a teologia deve desenvolver sobre a vida moral, assim como podemos apresentar a missão e a responsabilidade própria dos teólogos moralistas. [...]
É nosso dever comum, e nossa graça comum, ensinar os fiéis
A responsabilidade pela fé e pela vida de fé do povo de Deus pesa duma maneira peculiar e precisa sobre os Pastores, como nos lembra o Concílio Vaticano II:
Entre os principais encargos dos Bispos ocupa lugar preeminente a pregação do Evangelho. Os Bispos são os arautos da Fé que para Deus conduzem novos discípulos.
Dotados da autoridade de Cristo, são doutores autênticos, que pregam ao povo a eles confiado a Fé que se deve crer e aplicar na vida prática; ilustrando-a sob a luz do Espírito Santo e tirando do tesouro da Revelação coisas novas e antigas (cf. Mt 13, 52), fazem-no frutificar e solicitamente afastam os erros que ameaçam o seu rebanho (cf. II Tim 4, 1-4)”3
É nosso dever comum e, antes ainda, nossa graça comum, ensinar aos fiéis, como Pastores e Bispos da Igreja, aquilo que os conduz pelo caminho de Deus, tal como fez um dia o Senhor Jesus com o jovem do Evangelho.
Ao responder à sua pergunta: “Que devo fazer de bom para alcançar a vida eterna?”, Jesus apontou para Deus, Senhor da criação e da Aliança; lembrou os mandamentos morais, já revelados no Antigo Testamento.
Então, indicou o seu espírito e radicalidade, convidando a segui-Lo na pobreza, na humildade e no amor: “Vem e segue-Me!”. A verdade desta doutrina teve a sua chancela sobre a Cruz no Sangue de Cristo: tornou-se, no Espírito Santo, a nova lei da Igreja e de cada cristão.
Esta “resposta” à questão moral está confiada por Jesus Cristo de um modo particular a nós, Pastores da Igreja, chamados a torná-la objeto do nosso magistério, e, portanto, no cumprimento do nosso munus propheticum.
Ao mesmo tempo, a nossa responsabilidade de Pastores, quanto à doutrina moral cristã, deve ser atuada também na forma do munus sacerdotale.
Isto realiza-se quando distribuímos aos fiéis os dons da graça e da santificação, como meio para obedecer à Lei santa de Deus, e quando, com a nossa assídua e confiante prece, sustentamos os crentes, para que sejam fiéis às exigências da Fé e vivam conforme ao Evangelho (cf. Col 1, 9-12).
A doutrina moral cristã deve constituir, sobretudo hoje, um dos âmbitos privilegiados da nossa vigilância pastoral, do exercício do nosso munus regale.