“Como poderei retribuir ao Senhor todos os seus benefícios para comigo?” (Sl 115, 12).

A Igreja de Ímola se congrega comovida para reencontrar-se na celebração e adoração do Corpo e Sangue de Cristo. Cada um de nós, neste momento, está ciente de ser esperado pelo Senhor: foi Ele próprio quem preparou esta ceia ritual, para nós e para todos.

É um encontro único e irrepetível, no qual Ele quer revelar-nos seu amor como nunca antes o tinha feito. Não se trata apenas de uma rememoração da Última Ceia ou do sacrifício da Cruz, mas do “grande Sacramento”, no qual os símbolos e gestos contêm e comunicam realmente, agora, o que eles significam.

O perigo de reduzir a Missa a uma refeição entre amigos

Como menciona o trecho evangélico aqui proclamado, na oração de bênção por Ele pronunciada como chefe da família, durante a ceia pascal, Jesus reapresentou todas as obras maravilhosas realizadas por Deus para os descendentes de Abraão, Isaac e Jacó: a libertação do povo da escravidão, a travessia do Mar Vermelho, a Aliança do Sinai...

Nossa participação no rito eucarístico, irmãos e irmãs, seja cada vez mais consciente, sem limitar-se a um único aspecto, sobretudo sem restringir-se ao cumprimento de um preceito, para não empobrecer os gestos do Senhor e privá-los de sua eficácia atual; para não perder a ocasião de entrar cada vez mais em relação também entre nós.

De modo particular, pode-se correr o risco de reduzir a Missa a uma refeição entre amigos, talvez no louvável desejo de evitar — como se diz — celebrações excessivamente formais.

O risco já estava presente na primeira comunidade  cristã, como observou o Apóstolo Paulo. O calor do afeto entre aqueles que se reúnem para a Missa não provém de sua cordialidade, mas de sua fé, que transborda em amor a Jesus e aos irmãos.

Tal amor não é obstaculizado, mas, ao contrário, é aumentado pela veneração com a qual participamos de todo o rito, especialmente no momento em que nos aproximamos do altar para receber, nos lábios ou nas mãos, o Corpo e o Sangue do Senhor.

Exortemo-nos uns aos outros, nesta noite, a manter uma atitude de profundo respeito, e nos submetamos às regras rituais, pois elas são expressivas e nobilitadas por uma tradição que contribui para alimentar a união entre os participantes.

Aos sacerdotes, aos diáconos e aos outros ministros encarregados de distribuir o Pão e o Vinho Eucarístico, compete também a missão de instruir os presentes sobre o modo de recebê-Lo, de venerá-Lo, permanecendo em recolhimento, e de agradecer pessoalmente ao Senhor.

É necessário testemunhar publicamente a fé no Santíssimo Sacramento

Caros irmãos e irmãs, não tenhamos a pretensão de manter só para nós um tão grande dom: com o ritual da procissão que faremos dentro em breve, vamos mostrar em público e transportar em triunfo pelas ruas da cidade o Santíssimo Sacramento, para que todos possam vê-Lo e serem olhados por Jesus, aproximarem-se d’Ele, embora dando-se conta disso apenas vagamente.

O que está prescrito pelas normas canônicas não é tanto um ato de adoração, quanto um gesto missionário e de intercessão, a fim de que Jesus, conforme seu ardente desejo, Se revele plenamente a quantos ainda não O conhecem, a todos que O negligenciam, aos que se afastaram, mas, no fundo do coração, sentem saudades d’Ele.

Saibamos que Ele deseja chegar a todos: preparemos-Lhe o caminho com a nossa devoção! Que tal devoção seja simples, sem pressa nem timidez.

Convite a visitar cotidianamente o tabernáculo

Atrevo-me a sugerir uma última coisa: que cada um, durante esta noite de festa e de intimidade com Jesus, se pergunte quanto tempo consegue dedicar-Lhe, durante quanto tempo consegue manter o pensamento comovido pela sua presença.

Talvez eu lhes cause um estremecimento: “Como? Devo ir à igreja todos os dias e permanecer algum tempo diante do tabernáculo? Ideias e costumes de outras épocas. Além do mais, as igrejas estão todas fechadas, sobretudo à noite”.

Pois bem, julgo de fato que Jesusnos espera pacientemente, e que devemos encontrar um meio de fazer-Lhe uma visita diária. Ele tem tanto a nos dizer, sobretudo a nos dar, que não Se dá por vencido, mesmo se sempre fugimos...

É belo estarmos aqui e passarmos juntos esta vigília: façamos com que nossa participação na Missa e na Adoração Eucarística seja cada vez mais frequente, caso nos assalte a suspeita de termos caído no ativismo.

Peçamos ao Espírito Santo a graça de reavivar continuamente em nós a necessidade de intimidade com Jesus e de proximidade com quem vive conosco. Que a Virgem Santíssima, da qual somos ostensivamente devotos, nos ensine com a ajuda dos ministros sagrados, dos catequistas, dos zeladores, a dar este importante passo à frente.

 
Extraído de: Homilia na Solenidade de Corpus Christi na Catedral de Ímola, 4/6/2015 – Texto original disponível em www.imola.chiesacattolica.it