A fé, presente nas vossas terras desde os primórdios da Igreja (cf. At 8, 26-40), foi alimentada e renovada ao longo dos anos por missionários devotos.
Estes, impulsionados pelo amor de Cristo, proclamaram o Evangelho a fim de que “aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (II Cor 5, 15).
Hoje necessitamos deste espírito missionário para anunciar a mensagem salvífica da nova vida em Cristo a toda a sociedade.
Não só a quantos não a conhecem, mas também aos fiéis, a fim de que possam sentir mais uma vez o vigor do Evangelho e ser encorajados a encontrar modos sempre novos e criativos para viver e celebrar a sua fé.1
Sede pais bons e generosos para com os vossos sacerdotes
Esta grande tarefa de evangelização, que vos é confiada como sucessores dos Apóstolos, podeis desempenhá-la, sobretudo, em comunhão com os vossos sacerdotes.
Uno-me a vós na gratidão para com os sacerdotes que servem as vossas Igrejas locais, quer os que cresceram nas vossas comunidades, quer os que vieram como missionários.
Através do seu ministério sacramental e da sua pregação, como também através das suas obras caritativas, estes sacerdotes tornam visível a presença de Cristo e manifestam o seu amor pela humanidade.
Se devem ser anunciadores santos e eficazes do Evangelho, é essencial, porém, que eles mesmos sejam constantemente evangelizados.
Isto deveria acontecer em primeiro lugar no seminário, através de uma formação humana, espiritual, intelectual e pastoral integral.
Esta formação ajudará a instilar nos sacerdotes para toda a vida o amor pela oração, pela aprendizagem e pelo sacrifício de si. Mas eles precisam também do vosso interesse ativo pela sua vida e pelo seu ministério.
Exorto-vos a serdes pais bons e generosos para com os vossos sacerdotes, presentes e atentos às suas necessidades humanas e espirituais, e à sua formação permanente no sacerdócio.
Além disso, é importante que seja favorecida uma fraternidade autêntica entre os sacerdotes, a fim de que possam acompanhar-se reciprocamente no seu ministério e carregar os fardos uns dos outros.
Deste modo, poderão responder de forma mais generosa à graça de Deus na sua vida e dar testemunho da alegria do discipulado cristão.
Ação de graças pelo labor dos religiosos e religiosas
A missão da Igreja na Etiópia e na Eritreia foi levada em frente com o apoio de numerosos religiosos e religiosas que, ao longo de muitas gerações, cooperaram generosamente para a edificação das vossas comunidades locais.
Muitos deixaram a própria terra e família para se estabelecerem no Corno da África e unir-se aos religiosos locais a fim de ensinar aos jovens, de assistir os doentes e de responder às questões pastorais das vossas comunidades.
Ao fazê-lo, refletiram o rosto misericordioso de Cristo e ajudaram as vossas Igrejas a viver o Evangelho.
Uno-me a vós na ação de graças a Deus Onipotente por estes religiosos e religiosas, do passado e do presente, pelo seu sacrifício e serviço indispensáveis.
Como parte do vosso ministério episcopal, peço-vos para encorajar e apoiar os seus esforços constantes a fim de servir as necessidades espirituais e materiais atuais do povo da Etiópia e da Eritreia.
A obra de evangelização não é reservada ao clero e aos religiosos
Como indicou claramente o Concílio Vaticano II, a obra de evangelização não é reservada ao clero e aos religiosos, mas compete a todos os fiéis cristãos, que são chamados a proclamar o amor salvífico que experimentaram no Senhor Jesus.2
Aprecio os esforços que realizastes a fim de criar novas oportunidades para a formação catequética dos fiéis e para ir ao encontro dos jovens.
Daqueles que se encontram naquele momento decisivo da sua vida em que são desafiados a aprofundar a sua relação com Cristo e com a sua Igreja e em que procuram construir uma família própria.
Perante os numerosos desafios na sociedade contemporânea – entre os quais uma cultura cada vez mais secularizada e sempre menos oportunidades de um trabalho digno –, é fundamental que homens e mulheres, leigos sábios e comprometidos guiem os jovens no discernimento da direção que devem dar à própria vida e garantir-se um futuro.
Para uma abordagem catequética mais eficaz é importante também continuar a identificar e a preparar líderes leigos qualificados, a fim de ajudar a formar os fiéis e, desta maneira, tornar presente “a fragrância da presença solidária de Jesus e o seu olhar pessoal”.3
Generosos programas sociais inspirados no Evangelho
Queridos irmãos Bispos, juntamente com os sacerdotes, os religiosos, as religiosas e os fiéis leigos das vossas Igrejas locais, sois chamados a espalhar esta fragrância de Cristo na Etiópia e na Eritreia (cf. II Cor 2, 14).
Muitos anos de conflito e de contínuas tensões, além de uma pobreza generalizada e condições de seca, causaram tanto sofrimento às pessoas.
Agradeço-vos pelos generosos programas sociais que, inspirados no Evangelho, ofereceis em colaboração com as diversas entidades religiosas, caritativas e governamentais, que visam aliviar este sofrimento.
Penso em particular nas numerosas crianças que servis, as quais sofrem a fome e ficaram órfãs por causa da violência e da pobreza.
Penso também nos jovens que, como muitos amigos seus e familiares, gostariam possivelmente de fugir do próprio país em busca de oportunidades e correm o risco de perder a vida em viagens perigosas.
E naturalmente devemos sempre recordar os numerosos idosos que, entre tantas dificuldades, podem facilmente ser esquecidos.
Os vossos esforços em relação a eles, que dão um testemunho tão forte do amor de Deus entre vós, são uma graça extraordinária para as pessoas.
Na vossa preocupação amorosa para com os pobres e oprimidos, continuai a procurar novas oportunidades para cooperar com as autoridades civis na promoção do bem comum.
Ciente das dificuldades que deveis enfrentar e das bênçãos que recebestes, uno-me a todos vós na oração por uma nova efusão de graça sobre a amada Igreja na Etiópia e na Eritreia.