A mim é particularmente agradável transmitir minha cordial saudação ao senhor e aos participantes no XXVI Capítulo Geral, que constitui um momento de graça na vida dessa Congregação, já presente em todos os continentes.
Nele são chamados a confrontar-se a riqueza e a diversidade das experiências, das culturas e das expectativas dos salesianos, comprometidos em múltiplas atividades apostólicas, e desejosos de tornar cada vez mais eficaz seu serviço na Igreja.
O carisma de Dom Bosco constitui uma dádiva do Espírito para todo o povo de Deus, mas somente na escuta dócil e na disponibilidade à ação divina é possível interpretá-lo e torná-lo, inclusive neste nosso tempo, atual e fecundo.
O Espírito Santo, que em Pentecostes desceu abundantemente sobre a Igreja nascente, continua como vento a soprar onde quer, como fogo a derreter o gelo do egoísmo, como água a irrigar aquilo que é árido.
Derramando sobre os Capitulares a abundância dos seus dons, Ele alcançará o coração dos irmãos de hábito, fazendo-os arder com o seu amor, inflamando-os com o desejo de santidade, impelindo-os a se abrir à conversão e revigorando-os na sua audácia apostólica.
Os consagrados se tornam “sinais de contradição”
Os filhos de Dom Bosco pertencem à numerosa plêiade daqueles discípulos que Cristo consagrou a Si por meio do seu Espírito com um especial gesto de amor.
Ele os reservou para Si; por isso, o primado de Deus e da sua iniciativa deve resplandecer no testemunho desses filhos.
Quando renunciamos a tudo para seguir o Senhor, quando Lhe oferecemos o que temos de mais precioso, enfrentando todos os sacrifícios, não devemos nos surpreender se, como aconteceu com o Mestre Divino, nos tornamos “sinais de contradição”, porque o modo de pensar e viver da pessoa consagrada acaba por estar muitas vezes em contraste com a lógica do mundo.
Na realidade, isto é motivo de alívio, porque dá testemunho do fato de que o nosso estilo de vida é alternativo em relação à cultura do tempo e, nela, pode desempenhar uma função, de certa forma, profética.
Porém, em vista dessa finalidade, é necessário vigiarmos sobre as possíveis influências do secularismo, para que nos defendamos e possamos prosseguir ao longo do caminho empreendido com determinação, ultrapassando um “modelo liberal” de vida consagrada e levando uma existência inteiramente centrada no primado do amor a Deus e ao próximo.
A vital importância de inspirar-se no fundador
O tema escolhido para este Capítulo Geral é o mesmo do programa de vida espiritual e apostólica que Dom Bosco fez seu: “Da mihi animas, cœtera tolle”.
Nele está encerrada toda a personalidade do grande santo: uma profunda espiritualidade, o empreendimento criativo, o dinamismo apostólico, a laboriosidade incansável, a audácia pastoral e, sobretudo, a sua consagração incondicional a Deus e aos jovens.
Ele foi um Santo que teve duas únicas paixões: “a glória de Deus e a salvação das almas”. É de importância vital que cada salesiano se inspire continuamente em Dom Bosco, que o conheça, estude, ame, imite, invoque e faça própria a sua paixão apostólica, que jorra do Coração de Cristo.
Tal paixão é capacidade de se entregar, de se apaixonar pelas almas, de sofrer por amor, de aceitar com serenidade e alegria as exigências quotidianas e as renúncias da vida apostólica.
O mote “Da mihi animas, cœtera tolle” expressa em síntese a mística e a ascética do salesiano.
Não pode existir uma mística ardente sem uma ascese robusta que a sustente, e vice-versa; ninguém está disposto a pagar um preço elevado e exigente, se antes não descobriu um tesouro fascinante e inestimável.
Numa época de fragmentação e de fragilidade como a nossa, é necessário superar a dispersão do ativismo e cultivar a unidade da vida espiritual por meio da aquisição de uma mística profunda e de uma ascética sólida.
Esses procedimentos alimentam o compromisso apostólico e são garantia de eficácia pastoral. Neles deve consistir o caminho de santidade de todos os salesianos, e sobre eles deve se concentrar a formação das novas vocações à vida consagrada salesiana.
A lectio divina e a Eucaristia, vividas diariamente, são luz e força da vida espiritual do salesiano consagrado.
Ele deve alimentar seu dia com a escuta e a meditação da Palavra de Deus, ajudando, inclusive, os jovens e fiéis leigos a valorizá-la na sua vida quotidiana, e esforçando-se em seguida por traduzir em testemunho aquilo que é indicado pela Palavra.
“A Eucaristia arrasta-nos no ato oblativo de Jesus. Não é só de modo estático que recebemos o Logos encarnado, mas ficamos envolvidos também na dinâmica da sua doação”.1
Conduzir uma vida simples, pobre, sóbria, essencial e austera: isto ajudará os salesianos a fortalecer sua resposta vocacional; diante dos riscos e das ameaças da mediocridade e do aburguesamento, isto levá-los-á a estar mais próximos dos necessitados e marginalizados.
A Igreja espera dos salesianos um audaz zelo evangelizador
A exemplo do seu amado Fundador, os salesianos devem arder de paixão apostólica. A Igreja universal e as Igrejas particulares em que estão inseridos esperam deles uma presença caracterizada por um impulso pastoral e por um audaz zelo evangelizador.
As Exortações Apostólicas pós-sinodais relativas à evangelização nos vários continentes poderão servir-lhes de estímulo e orientação para realizar, nos diversos contextos, uma evangelização inculturada.
A recente Nota doutrinal acerca de alguns aspectos da evangelização pode ajudá-los a aprofundar o modo de comunicar a todos, especialmente aos jovens mais pobres, a riqueza dos dons do Evangelho.
A evangelização seja a fronteira principal e prioritária da sua missão nos dias de hoje.
Ela apresenta compromissos multifacetados, desafios urgentes e campos de ação vastos, mas a sua tarefa fundamental consiste em propor a todos que levem uma existência humana como Jesus a viveu.
Nas situações plurirreligiosas e também nas secularizadas é necessário encontrar caminhos inéditos para fazer conhecer, de modo especial aos jovens, a figura de Jesus, a fim de que compreendam a sua fascinação perene.
Por conseguinte, na sua ação apostólica deve ser fulcral o anúncio de Jesus Cristo e do seu Evangelho, juntamente com o apelo à conversão, ao acolhimento da Fé e à inserção na Igreja; além disso, daqui nascem os caminhos de Fé e de catequese, a vida litúrgica e o testemunho da caridade diligente.
Sem educação não existe evangelização duradoura e profunda
O seu carisma coloca-os na situação privilegiada de poder valorizar a contribuição da educação no campo da evangelização dos jovens.
Efetivamente, sem educação não existe evangelização duradoura e profunda, não há crescimento nem maturação, não se verifica uma mudança de mentalidade e de cultura.
Os jovens nutrem desejos profundos de vida plena, de amor autêntico e de liberdade construtiva; contudo, muitas vezes, infelizmente as suas expectativas são atraiçoadas e não chegam a se realizar.
É indispensável ajudar os jovens a valorizar os recursos que têm dentro de si mesmos, como dinamismo e desejo positivo, colocá-los em contato com propostas ricas de humanidade e de valores evangélicos, animá-los a inserir-se na sociedade como uma parte ativa através do trabalho, da participação e do compromisso em prol do bem comum.
Isto exige daqueles que os orientam, a ampliação do compromisso educativo, com atenção às novas pobrezas juvenis, à educação superior e à imigração; além disso, requer que se preste atenção à família e ao seu envolvimento.
A propósito desse aspecto tão importante, pude refletir na Carta acerca da urgência educativa, que recentemente dirigi aos fiéis de Roma e que agora, idealmente, entrego a todos os salesianos.
Revigorar na Europa a proposta cristã
Desde a origem, a Congregação salesiana empenhou-se na evangelização em várias regiões do mundo: da Patagônia e da América Latina à Ásia e à Oceania, à África e a Madagascar.
Num período em que na Europa as vocações diminuem e os desafios da evangelização aumentam, a Congregação salesiana deve estar atenta a revigorar a proposta cristã, a presença da Igreja e o carisma de Dom Bosco nesse continente.
Assim como foi generosa a Europa enviando numerosos missionários ao mundo inteiro, agora também toda a Congregação, fazendo apelo especialmente às regiões ricas de vocações, esteja disposta no que se lhe refere.
Para prolongar no tempo a missão entre os jovens, o Espírito Santo levou Dom Bosco a dar vida a várias forças apostólicas animadas pelo mesmo espírito e irmanadas pelo mesmo compromisso.
Sinergia com leigos, famílias e jovens
Com efeito, as tarefas da evangelização e da educação exigem numerosas contribuições, que saibam agir em sinergia umas com as outras.
Por esse motivo, os salesianos empenharam nessa obra um elevado número de leigos, famílias e jovens, despertando entre eles vocações apostólicas que conservem vivo e fecundo o carisma de Dom Bosco.
É preciso propor a estes mesmos jovens o fascínio da vida consagrada, a radicalidade da sequela de Cristo obediente, pobre e puro, o primado de Deus e do Espírito, a vida fraterna em comunidade, a dedicação total pela missão.
Os jovens são sensíveis a propostas de compromisso exigente, mas têm necessidade de testemunhas e de guias que saibam acompanhá-los na descoberta e no acolhimento desse dom.
A vocação dos irmãos coadjutores
Nesse contexto, sei que a Congregação está dedicando uma atenção especial à vocação do salesiano coadjutor, sem a qual ela perderia a fisionomia que Dom Bosco desejou incutir-lhe.
Sem dúvida, trata-se de uma vocação não fácil, que deve ser discernida e acolhida; ela brota mais facilmente onde são promovidas entre os jovens as vocações laicais apostólicas e quando se lhes oferece um testemunho jubiloso e entusiasta da consagração religiosa.
O exemplo e a intercessão do Beato Artemide Zatti e de outros venerados Irmãos coadjutores, que despenderam a sua existência pelo Reino de Deus, obtenham também nos dias de hoje para a família salesiana a dádiva de tais vocações.
Pontifícia Universidade Salesiana
É de bom grado que aproveito este ensejo para dirigir um agradecimento à Congregação salesiana pelo trabalho de investigação e de formação que ela desempenha na Pontifícia Universidade Salesiana, onde se formaram e foram professores também alguns dos meus mais estreitos e estimados colaboradores.
Ela possui uma identidade que lhe advém do carisma de Dom Bosco e oferece a toda a Igreja uma contribuição original e específica.
É a única entre as Universidades Pontifícias que dispõe de uma Faculdade de Ciências da Educação e de um Departamento de Pastoral Juvenil e Catequética, coadjuvados pelas contribuições oferecidas por outras faculdades.
Em vista de um estudo que recorra à diversidade das culturas e esteja atento à multiplicidade dos contextos, é para desejar que nela se incremente a presença de docentes provenientes de toda a Congregação.
Na emergência educativa que existe em numerosas regiões do mundo, a Igreja tem necessidade do contributo de estudiosos que aprofundem a metodologia dos processos pedagógicos e formativos, a evangelização dos jovens, a sua educação moral, elaborando em conjunto respostas aos desafios da pós-modernidade, da interculturalidade e da comunicação social e, contemporaneamente, procurando ir ao encontro das famílias.
O sistema preventivo de Dom Bosco e a tradição educativa salesiana estimularão certamente a Congregação a propor uma pedagogia cristã atual, inspirada no carisma específico que lhe é próprio.
A educação constitui um dos pontos fulcrais da questão antropológica hodierna, para cuja solução a Pontifícia Universidade Salesiana, estou certo disto, não deixará de oferecer uma preciosa contribuição.
Tornar Dom Bosco presente no meio dos jovens
Senhor reitor-mor, a tarefa que está diante da Congregação salesiana é árdua, mas também exaltante: com efeito, cada um dos membros da vossa grande família religiosa é chamado a tornar Dom Bosco presente no meio dos jovens do nosso tempo.
Em 2015 celebrareis o bicentenário do seu nascimento, e com as opções que fareis neste Capítulo Geral, já dareis início à preparação das celebrações deste importante acontecimento jubilar.
Que isto vos sirva de encorajamento para serdes cada vez mais “sinais credíveis do amor de Deus pelos jovens” e para fazer com que os jovens sejam verdadeiramente a esperança da Igreja e da sociedade.
A Virgem Maria, que Dom Bosco vos ensinou a invocar como Mãe da Igreja e Auxílio dos Cristãos, vos ajude nos vossos propósitos. “É Ela que faz tudo”, repetia Dom Bosco no final da sua vida, referindo-se a Maria.
Portanto, Ela continuará a ser a vossa guia e mestra, e ajudar-vos-á a transmitir “o carisma de Dom Bosco”.
Ela será para a vossa Congregação e para toda a família salesiana, para os educadores e, sobretudo, para os jovens, Mãe e Estrela da Esperança.
Enquanto chamo a vossa atenção para estas minhas reflexões, vos renovo a expressão da minha gratidão pelo serviço que prestais à Igreja e, enquanto vos asseguro a minha oração constante, concedo-vos de coração, senhor reitor-mor, aos participantes na assembléia capitular e a toda a família salesiana uma especial bênção apostólica.