Após uma forte chuva, ou mesmo depois do leve orvalho da madrugada, podemos contemplar gotas d’água refletindo a luz do Sol. Semelhantes a pequenas joias, tomam elas uma beleza própria que não tinham enquanto não refletiam tal luz.

Mas o que é o Sol comparado a uma gota d’água? Ele é uma estrela de especial grandeza, que aquece e ilumina a Terra, permitindo a vida em nosso planeta.

E uma gota d’água… que poderia haver de mais insignificante? Ela cai e logo se esvai, sem que se lhe dê maior importância.

Em relação ao oceano é nada! No entanto, pela ação dos raios solares, aquela pequenina gota passa a ser um espelho do Sol, a participar, de certo modo, da rutilante beleza do Astro Rei.

De maneira análoga, cada um de nós é como uma gota d’água. O homem, por si mesmo, é tão pequeno dentro do universo… Contudo, está chamado a fazer resplandecer nele algo infinitamente superior: o próprio Deus!

Sendo um reflexo da luz divina, enquanto criatura feita à sua imagem e semelhança, adquire um brilho superior quando as águas batismais se derramam sobre sua cabeça: é o fulgor do estado de graça. E o que há de mais belo do que uma alma em graça?

Deus ilumina tudo o que vemos, sejam as maravilhas da natureza ou as virtudes das almas santas. Todas as belezas desta Terra são como espelhos, nos quais podemos admirá-Lo e crescer no anelo de vê-Lo no Céu.

O vasto e tempestuoso mar, por exemplo, representa a grandeza divina; a garça branca, sua pureza; o amor de uma mãe, sua bondade. 

Ensina-nos São Paulo: “Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face” (I Cor 13, 12). Não obstante, como poderemos chegar a ser um perfeito espelho do Sol de Justiça, límpido e sem nenhuma mancha, para refletir sua imagem? 

O amor, diz São João da Cruz,1 torna o amante semelhante ao amado. É, pois, amando muito a Deus que nos tornaremos semelhantes a Ele.

Amando a Deus mais do que a nós mesmos – o que só é possível com o auxílio da graça –, desejaremos viver conforme a sua Lei e seremos a “luz do mundo” (Mt 5, 14) preconizada por Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho.

Assim, poderemos realizar em nós as palavras do Apóstolo: “Refletimos como num espelho a glória do Senhor e nos vemos transformados nesta mesma imagem, sempre mais resplandecentes, pela ação do Espírito do Senhor” (II Cor 3, 18).

 


1 Cf. SÃO JOÃO DA CRUZ. Subida del Monte Carmelo. L. I, c. 4, n. 3. In: Vida y Obras. 5. ed. Madrid: BAC, 1964, p. 371.