Esta semana continuamos a falar sobre a Igreja. Quando professamos a nossa Fé, afirmamos que a Igreja é Católica e Apostólica.

Mas qual é realmente o significado destas duas palavras, destas duas notas características da Igreja? E que valor têm elas para as comunidades cristãs e para cada um de nós?

Orientada para a evangelização de todos

Católica significa universal. Uma definição completa e clara é-nos oferecida por um dos Padres da Igreja dos primeiros séculos, São Cirilo de Jerusalém, quando afirma:

Sem dúvida, a Igreja é definida Católica, ou seja, universal, porque está espalhada por toda a parte, de lés a lés da Terra; e porque universalmente e sem falta ensina todas as verdades que devem chegar ao conhecimento dos homens, quer em relação às realidades celestiais, quer às terrestres.1

Sinal evidente da catolicidade da Igreja é que ela fala todas as línguas.

E este é simplesmente o efeito de Pentecostes (cf. At 2, 1 13): de fato, foi o Espírito Santo que tornou os Apóstolos e a Igreja inteira capazes de fazer ressoar a todos, até os confins da Terra, a Boa-nova da salvação e do amor de Deus.

Assim a Igreja nasceu Católica, isto é, “sinfônica” desde as origens, e não pode deixar de ser Católica, orientada para a evangelização e para o encontro com todos. 

Hoje, a Palavra de Deus lê-se em todas as línguas, todos dispõem do Evangelho para o ler na própria língua. E insisto sobre este conceito: é sempre bom ter conosco um Evangelho pequeno, no bolso, na bolsa, para ler um trecho durante o dia.

Isto faz-nos bem! O Evangelho é propagado em todas as línguas porque a Igreja, o anúncio de Jesus Cristo Redentor, está no mundo inteiro. É por isso que se diz que a Igreja é Católica, porque é universal.

Assente nos Apóstolos e missionária

Se a Igreja nasceu Católica, quer dizer que nasceu “em saída”, que nasceu missionária. Se os Apóstolos tivessem permanecido ali no Cenáculo, sem sair para anunciar o Evangelho, a Igreja seria apenas daquele povo, daquela cidade, daquele Cenáculo.

Mas todos saíram pelo mundo fora, desde o instante do nascimento da Igreja, da descida do Espírito Santo sobre eles. 

Por isso a Igreja nasceu “em saída”, ou seja, missionária. É isto que dizemos quando a qualificamos como Apostólica, porque o apóstolo é quem anuncia a Boa-nova da Ressurreição de Jesus.

Este termo recorda-nos que a Igreja, assente nos Apóstolos e em continuidade com eles – foram os Apóstolos que partiram e fundaram novas Igrejas, constituindo novos bispos, e assim no mundo inteiro, em continuidade.

Hoje, todos nós vivemos em continuidade com aquele grupo de Apóstolos que recebeu o Espírito Santo e depois “saiu” para pregar –, a Igreja é enviada a anunciar a todos os homens esta notícia do Evangelho, acompanhando-o com os sinais da ternura e do poder de Deus. 

Também isto deriva do evento de Pentecostes: com efeito, é o Espírito Santo que nos faz superar toda a resistência, vencer a tentação de nos fecharmos em nós mesmos, entre poucos escolhidos, e de nos considerarmos os únicos destinatários da bênção de Deus.

Se, por exemplo, alguns cristãos fazem isto, dizendo: “Nós somos os eleitos, só nós”, no final morrerão. Primeiro na alma e depois no corpo, porque não têm vida, não são capazes de gerar a vida, outras pessoas, outros povos: não são apostólicos. 

É precisamente o Espírito que nos leva ao encontro dos irmãos, até daqueles mais distantes em todos os sentidos, para que possam compartilhar conosco o amor, a paz e a alegria que o Senhor ressuscitado nos concedeu.

A Igreja precisa de muitos missionários

Que comporta, para as nossas comunidades e para cada um de nós, fazer parte de uma Igreja que é Católica e Apostólica?

Antes de tudo, significa preocupar-se com a salvação da humanidade inteira, sem nos sentirmos indiferentes ou alheios diante do destino de tantos dos nossos irmãos, mas abertos e solidários para com eles.

Além disso, significa ter o sentido da plenitude, da integridade e da harmonia da vida cristã, rejeitando sempre as posições parciais, unilaterais, que nos fecham em nós mesmos.

Fazer parte da Igreja Apostólica quer dizer estar conscientes de que a nossa Fé se encontra ancorada no anúncio e no testemunho dos próprios Apóstolos de Jesus, está ancorada lá, é uma longa cadeia que começa lá.

E por isso sentir-nos sempre enviados, mandados, em comunhão com os sucessores dos Apóstolos, para anunciar com o coração cheio de alegria Cristo e o seu amor por toda a humanidade. 

E aqui gostaria de recordar a vida heroica de numerosos missionários e missionárias que deixaram a sua pátria para ir anunciar o Evangelho noutros países, noutros continentes.

Dizia-me um Cardeal brasileiro que trabalha frequentemente na Amazônia, que quando vai a um lugar, a um povoado ou a uma cidade da Amazônia, visita sempre o cemitério e ali vê os túmulos dos missionários, sacerdotes, irmãos e irmãs que partiram para anunciar o Evangelho: apóstolos.

E pensa: todos eles podem ser canonizados agora, pois deixaram tudo para anunciar Jesus Cristo. 

Demos graças ao Senhor porque a nossa Igreja tem e teve muitos missionários, mas ainda precisa de muitos mais!

Demos graças ao Senhor por isso! Talvez no meio de tantos jovens, de tantas jovens que estão aqui, algum tenha a vontade de se tornar missionário: vá em frente! É bonito anunciar o Evangelho de Jesus! Que seja corajoso, seja corajosa!

Então, peçamos ao Senhor que renove em nós o dom do seu Espírito, a fim de que todas as comunidades cristãs e cada batizado sejam expressão da Santa Mãe Igreja Católica e Apostólica.

 

Excertos de Audiência geral, 17/9/2014.

1 SÃO CIRILO DE JERUSALÉM. Catequese XVIII, 23.