Após uma forte chuva numa pequena cidade do interior, onde não havia arranha-céus para encobrir o horizonte, deparei-me com um lindo arco-íris.

Maravilhada, lembrei-me da história de Noé e da surpreendente afirmação que ouvi em idos tempos numa aula de catecismo: o arco-íris surgido no céu após o dilú­vio foi uma pré-figura de Nossa Senhora.

Recordemos um pouco a história narrada pelo Gênesis, para melhor compreendermos tão belo simbolismo.

Naquele tempo, o Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra […] Então Deus disse a Noé: “Faze para ti uma arca de madeira resinosa […] Eis que vou fazer cair o dilúvio sobre a terra […] Tudo que está sobre a terra morrerá. Mas farei aliança contigo: entrarás na arca com teus filhos, tua mulher, e as mulheres dos teus filhos. De tudo o que vive, de cada espécie de animais farás entrar na arca dois, macho e fêmea, para que vivam contigo”. 

O dilúvio caiu sobre a terra durante quarenta dias. […] As águas inundaram tudo com violência, e cobriram toda a terra, e a arca flutuava na superfície das águas. […] As águas cobriram todos os altos montes. […] Elas cobriram a terra pelo espaço de cento e cinquenta dias.

Depois do dilúvio, disse também Deus a Noé: “Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será mais destruída pelas águas do dilúvio […] Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre Mim e a terra”.

Decorridos alguns milênios – tendo o coração dos homens se voltado novamente para o mal e chegada a hora de misericórdia prevista pelos profetas – Deus enviou o seu próprio Filho para tirar a humanidade do dilúvio de iniquidade que inundava a terra, e convidar os homens para entrar na Nova Arca.

Não em uma arca material, construída por mãos humanas, mas sim, na Arca por excelência: a Santa Igreja edificada pelo próprio Filho de Deus feito Homem.

E para nos proteger e manter uma estreita aliança conosco, nos enviou também um arco-íris. Mas… que arco-íris?

Não um mero fenômeno natural mostrando sete cores, mas sim um arco-íris vivo: Maria, a Mãe de Deus, Aquela na qual os sete dons do Espírito Santo refulgem com inigualável magnificência.

Eis o que, no século XIV, Nossa Senhora, dirigindo-se a Santa Brígida, afirmou:

Eu Me estendo sobre o mundo em contínua oração, assim como sobre as nuvens está o arco-íris, que parece voltar-se para a terra e tocá-la com suas extremidades.

Este arco-íris, sou Eu mesma que, por minhas preces, abaixo-Me e Me debruço sobre os bons e os maus habitantes da terra.

Inclino-Me sobre os bons para ajudá-los a permanecerem fiéis e devotos na observância dos preceitos da Igreja; e sobre os maus, para impedi-los de irem adiante na sua malícia e se tornarem piores.

São Bernardino de Siena, ilustrando seu discurso sobre o Santo Nome de Maria, comenta:

Maria une e concilia a Igreja Triunfante à Igreja Militante. Seu nascimento anuncia que, doravante, existirá a paz entre o Céu e a terra.

Ela é o arco-íris dado pelo Senhor a Noé em sinal de aliança, e como penhor de que o gênero humano não será mais destruído. E por quê? Porque é Ela que trouxe à luz Aquele que é nossa paz.

Quanta consolação, quanta esperança nos evocam essas palavras! Neste mundo, em que somos peregrinos, sofrimentos, tentações e perplexidades são inerentes à nossa vida.

Contudo, em meio às dores e aflições, sempre vislumbramos a esperançosa figura de um incomparável arco-íris: Maria Santíssima!

É Ela quem nos guia em nossa peregrinação rumo à Pátria Celestial, ajudando-nos em todas as nossas necessidades e envolvendo-nos com seu maternal, constante e infatigável amor. 

Comenta o Pe. Jourdain em sua obra dedicada às grandezas de Maria:

O arco-íris alegra a terra e lhe proporciona uma chuva abundante e benfazeja. Do mesmo modo, Maria consola aos fracos, enchendo de júbilo os aflitos e inundando copiosamente os áridos corações dos pecadores, pela fecunda chuva de graça.

Confiantes e extremamente gratos por tão insondável proteção, procuremos amá-La, honrá-La, invocá-La e servi-La a cada momento de nossas vidas, propagando sempre uma devoção piedosa e sincera a Ela, que é o único e verdadeiro Arco-Íris que nos une ao seu Divino Filho, o instrumento de aliança entre Deus e os homens.