No terceiro domingo da Quaresma, a Santa Igreja elege o evangelho da Figueira Estéril para que seus fiéis o acompanhem. O que Jesus quer nos dizer contando esta parábola?
Como não é um texto tão fácil de ser lembrado, convém que contemos ela aqui: “Jesus disse então a seguinte parábola: ‘Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi procurar os frutos que nela houvesse, mas não os encontrou. Disse então ao vinhateiro: ‘Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira e não os encontro. Deves cortá-la. Porque há de estar ela a ocupar inutilmente a terra?’ Mas o vinhateiro respondeu-lhe: ‘Senhor, deixa-a ficar ainda este ano, que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo. Talvez venha a dar frutos. Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano’”.
Jesus nos presenteia com esta divina parábola com uma devida intenção. Se formos procurar nas Sagradas Escrituras em que ocasião ele se encontra, perceberemos que ele ia contra a corrente de sua época, que colocava culpa naqueles que sofriam algum acidente.
Várias vezes é Deus, através de seus profetas, no Antigo Testamento, que dá a verdadeira perspectiva: “não é porque os pais que comem uva verde que os dentes dos filhos ficam embotados”.
Ou seja, não é porque algo de mal acontece com alguém que necessariamente ele é um pecador.
É muito fácil colocar a culpa em alguém que se machuca seriamente, pois ninguém quer isso para si, o sofrimento, a resignação por aguentar um mal. “Portanto, além de me eximir da dor, saio como praticante do bem”, pensavam os judeus.
Não é, de certo modo, elaborar como alguns: “Deus vai me vingar! Espero que o universo retribua todo mal a você!”? Não acontece a tragédia apenas para quem anda mal. Cristo, sendo crucificado, não tinha nenhum pecado, e mesmo assim suportou as dores mais atrozes.
É necessário a correção deste modo de pensar, pois não é o que Cristo ou seu Divino Pai querem de seus amados filhos.
Então, se o pecador não é aquele que se acidenta, quem é o pecador?
É isso que Jesus responde na parábola: é aquele que não dá frutos. Aquele que, como a figueira, torna-se estéril para o plano divino. Que não evolui seus talentos, que não cresce na fé e na caridade.
Não dar frutos é ser inconstante. Pois é receber o dom de Deus, sua graça, mas não a corresponder, não gerar vida da Vida Divina; nesse sentido, a figueira estéril não estava plantada fora do jardim do agricultor; ela sorvia da boa água, da boa atenção de seu podador. Mas não dava nada em troca: na hora de ser pedido o retorno daquele que recebeu muito, ele se encontra de mãos vazias; encheu-as por várias vezes, mas deixou todo escapar, ou, pior, jogou tudo pelo ralo.
Mas a nossa inconstância tem uma cura: a constância de Deus. Ao mesmo tempo que Jesus é o dono, Ele também é o vinhateiro: “Mais um pouco, Senhor. Farei mais por essa alma, e ela dará os devidos frutos”.
Mesmo sendo tão perdidos, Nosso Senhor, Nossa Senhora, nossos anjos e santos intercessores tentam mais vezes. Eles são constantes, e sua constância ampara nossa inconstância. Hoje, devemos agradecer este divino favor de Deus.
Mas também devemos pedir pela nossa constância, pela nossa melhora, pois também tem o Senhor um tempo decretado: “Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano”. Onde estaremos nós no próximo terceiro domingo da Quaresma? Ainda seremos uma figueira estéril? É preciso que os preparemos muito para a hora do acerto das contas. E a melhor maneira para esta preparação é a oração. “Agora e na hora de nossa morte. Amém”. Que saibamos usar deste divino remédio enquanto ainda temos tempo.