Num primeiro olhar, podemos fazer pouco caso da virtude da temperança, pois, diante das demais virtudes cardeais – a prudência, a justiça e a fortaleza –, ela parece de cunho individual, enquanto as outras se direcionam ao bem da sociedade.

Porém, não é assim. Todas são extremamente importantes para o bem da comunidade humana, e a temperança, hoje, é o fundamento das outras três.

É só pela virtude da temperança que conseguiremos salvar o mundo e o que resta dele.

O ser humano deseja o infinito

A alma humana, diferente dos demais animais, foi criada para uma realidade superior.

Nosso lar é o Céu, e nosso desejo de obtê-lo é o responsável pela nossa sede do infinito.

É por isso que, ao direcionarmos este desejo do Céu para as coisas da terra, acabamos caindo no vício de querer sempre mais. Nada nos basta, nada nos sacia, dos prazeres aos lucros, da fome material à fome de poder.

Muitos dos problemas que temos, senão todos, desde injustiça social sistemática ao problema na camada de ozônio, são derivados da busca do ser humano pelo poder financeiro e tudo o que ele permite.

Observamos também a falta de respeito pela natureza, que é constituída de pequenas peças num mosaico enorme que deveria nos fazer entender melhor ao Criador, mas que vem sendo retaliada de forma gananciosa e avarenta.

A virtude da temperança

Neste panorama, onde milhares de convenções e reuniões são realizadas e pautas são discutidas, envolvendo desde órgãos pequenos aos maiores do mundo, como a ONU, nada se resolve sem a virtude da temperança.

Como ela regula nossa relação com os prazeres lícitos, ou seja, com aquilo que não é o mal em si mesmo, com a temperança teríamos mais controle sobre nossas ações de consumo e produção.

Além disso, a virtude da temperança tem outra propriedade: direcionar nosso desejo de infinito para a sua única resposta, Deus, que é infinito e eterno.

Sem a temperança, nos comportamos como avestruzes, com a cabeça enfiada na terra, tentando resolver problemas que exigem que se olhe para o Alto. Deveríamos desprender nossos olhos da terra e fixá-los no Céu.

Como alterar esse quadro geral de ganância?

Por isso, diante do sistema de injustiças e devaneios gananciosos que vivemos, mais do que nunca se faz necessária a prática da temperança pelos nossos governantes, pessoas públicas, influenciadores e potestades que elegemos para que nos governem na moda, na mídia.

No entanto, é uma grande ilusão acreditar que a adesão a essa virtude virá de cima.

Infelizmente, no topo da pirâmide humana da fama, do poder e do dinheiro, os vícios correm soltos e os pecados são abundantes, pois no topo estão as maiores tentações.

Porém, isto não pode ser desculpa para que cada um, em sua vida, deixe de praticar a virtude da temperança, pois, ao mesmo tempo em que ela é a resposta para o problema atual da humanidade, serve também como solução para os meus, os seus e os nossos problemas, por mais localizados e específicos que eles sejam.

Praticar a virtude da temperança nos dá controle sobre o que comemos, o que assistimos, nosso trabalho e nossas horas de lazer. Torna-nos mais felizes com o que possuímos, mais motivados para conseguir o que almejamos e mais compreensivos diante de nossos fracassos.

A temperança faz de nós melhores amigos, maridos, esposas, filhos, filhas e companheiros, pois quando o meu coração está no Céu, não me movo por interesse humano; sou fiel ao que acredito e respeito os processos dos outros.