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Espiritualidade


“Amai os vossos inimigos”?
 
AUTOR: AMANDA DE AVIZ LENTZ
 
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Se víssemos uma pessoa a quem muito amamos sendo maltratada, ou até difamada e ultrajada, agiríamos com indiferença? Ou nos apressaríamos em ajudá-la, apoiá-la e defendê-la? Analisemos o problema à luz das Sagradas Escrituras.

Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?” – perguntou Pedro. E o Divino Mestre respondeu: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 21-22).

Quantos ensinamentos Jesus nos deixou em relação à bondade que devemos ter no trato com aqueles que agem mal conosco! Porém, quando a ofensa não é feita à nossa pessoa, mas sim a Deus e à sua Santa Igreja, como devemos proceder? A julgar pelo próprio Evangelho, de um modo bem diferente…

Uma visão deturpada da virtude da misericórdia

Narra São João Evangelista que, quando Nosso Senhor encontrou no Templo de Jerusalém os negociantes de animais e os cambistas, “fez um chicote de cordas, expulsou todos do Templo, como também as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos trocadores e derrubou as mesas” (Jo 2, 15). E, a seguir, disse aos que vendiam as pombas: “Tirai isto daqui e não façais da casa de meu Pai uma casa de negociantes” (Jo 2, 16).

Alguém poderia pensar: “Mas por que agiu Jesus dessa forma? Como fica a virtude da misericórdia?”

O mencionado episódio em nada contradiz essa virtude que, como tantas outras, é compreendida de forma totalmente deturpada em nossos dias.

Deus Se manifesta ao mesmo tempo bondoso e severo. Acolhe o pecador desejoso de que ele se arrependa – e nisso consiste sua misericórdia –, mas tal atitude não significa que seja indiferente ao pecado, nem que esteja disposto a acolher as infâmias e abominações do faltoso sem se incomodar com elas ou exigir-lhe emenda. Não, Deus não age assim!

Dois exemplos tirados do Novo Testamento

Lembremos, por exemplo, as palavras cheias de fogo de São Pedro quando, em sua segunda epístola, descreve a “ruína repentina” que atrairão sobre si os “falsos doutores que introduzirão disfarçadamente seitas perniciosas” (2, 1):

“Muitos os seguirão nas suas desordens e serão desse modo a causa de o caminho da verdade ser caluniado. Movidos por cobiça, eles vos hão de explorar por palavras cheias de astúcia. Há muito tempo a condenação os ameaça, e a sua ruína não dorme. Pois se Deus não poupou os anjos que pecaram, mas os precipitou nos abismos tenebrosos do inferno onde os reserva para o julgamento; se não poupou o mundo antigo, e só preservou oito pessoas, dentre as quais Noé, esse pregador da justiça, quando desencadeou o dilúvio sobre um mundo de ímpios; se condenou à destruição e reduziu a cinzas as cidades de Sodoma e Gomorra para servir de exemplo para os ímpios do porvir; se, enfim, livrou o justo Ló, revoltado com a vida dissoluta daquela gente perversa […] é porque o Senhor sabe livrar das provações os homens piedosos e reservar os ímpios para serem castigados no dia do juízo” (2, 2-7.9).

Recordemos ainda a justiça anunciada por São Paulo contra os que se deixam levar pelas paixões desregradas, tal como os pagãos, pois “desprezar estes preceitos é desprezar não a um homem, mas a Deus, que nos deu o seu Espírito Santo” (I Tes 4, 8).

Não há uma terceira posição

E nós, como reagimos quando Deus é ofendido?

Se víssemos uma pessoa a quem muito amamos sendo maltratada, ou até difamada e ultrajada, agiríamos com indiferença, como se esse ato não nos importasse? Ou nos apressaríamos em ir ao seu encontro para ajudá-la, apoiá-la e defendê-la?

Pois bem, muitíssimo maior deve ser nosso zelo ao vermos os ímpios descritos por São Pedro agindo para tentar destruir, com palavras cheias de astúcia, a Verdade Encarnada. Se formos indiferentes a isso, acabaremos sendo coniventes com o mal praticado, participaremos do pecado por eles cometido e mereceremos a mesma punição.

Quando o ataque é contra Nosso Senhor e sua Igreja, e não contra nossa pessoa, jamais podemos ficar neutros: ou aderimos à causa de Cristo, dispostos a tudo fazer para o bem do seu Corpo Místico, ou, como Pilatos, estaremos permitindo, com nossa atitude passiva, uma nova crucifixão.

Cabe a cada um de nós escolher entre essas duas opções. Não há uma terceira posição. Qualquer ataque feito contra a Igreja, contra os seus Santos, doutrinas, Mandamentos e instituições, vulnera de algum modo o Corpo Místico de Cristo e deve ser considerado, portanto, como uma tentativa de atingir o próprio Deus.

“Também vos hão de perseguir”

Não tenhamos, entretanto, nenhuma ilusão. Se até o Filho de Deus foi perseguido e caluniado pelos homens, por que não o seremos também?

Não em vão disse Ele aos seus discípulos: “Se o mundo vos odeia, sabei que Me odiou a Mim antes que a vós. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus. Como, porém, não sois do mundo, mas do mundo vos escolhi, por isso o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: O servo não é maior do que o seu senhor. Se Me perseguiram, também vos hão de perseguir”
(Jo 15, 18-20).

E a fim de melhor preparar seus discípulos contra o ódio dos seus inimigos, o Divino Mestre repete um pouco mais adiante: “Eles vos expulsarão das sinagogas, e virá a hora em que todo aquele que vos tirar a vida julgará prestar culto a Deus. Procederão desse modo porque não conheceram o Pai, nem a Mim. Disse- -vos, porém, essas palavras para que, quando chegar a hora, vos lembreis de que vo-lo anunciei” (Jo 16, 2-4).

Não seguirei o exemplo dos ímpios!

Qual deve ser a reação de um verdadeiro discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo, vendo-O tão odiado e ofendido em nossos dias? Ajoelhar-se diante de um crucifixo e dizer: “Meu Senhor, não seguirei o exemplo que me destes de oferecer a outra face aos que me batem, pois não é a mim que esbofeteiam, mas sim a Vós. A vossa face encontra-se já desfigurada, chegou o momento de intervir!”

Quando o ofendido é Deus, deve-se repetir o imortal clamor do salmista: “Senhor, Deus justiceiro, Deus das vinganças, aparecei em vosso esplendor. Levantai- -Vos, Juiz da terra, castigai os soberbos como eles merecem. Até quando, Senhor, triunfarão os ímpios? Até quando se desmandarão em discursos arrogantes, e jactanciosos estarão esses obreiros do mal?” (Sl 93, 1-4).

Façamos nossas as abrasadas palavras de São Luís Maria Grignion de Montfort ao predizer os dias futuros em que católicos fiéis haveriam de enfrentar inúmeras perseguições: “Erguei-Vos, Senhor: por que pareceis dormir? Erguei-Vos em todo o vosso poder, em toda a vossa misericórdia e justiça”.1 Peçamos a Deus que, fazendo justiça contra essa “gente perversa” (II Pd 2, 7), abra o quanto antes o caminho para a implantação do Reino do Imaculado Coração de Maria prometido por Nossa Senhora em Fátima. ² (Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2019, n. 215, p. 34-35)

1 SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. Prière Embrasée, n.30. In: Œuvres Complètes. Paris: Du Seuil, 1966, p.687-688.

 
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