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Espiritualidade


Menino Jesus: grandeza ou bondade?
 
PUBLICADO POR ARAUTOS - 19/12/2022
 
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Virtudes opostas e harmônicas

O mundo atual em contrastes marcantes. Para a política, ou o representante deve ser um populista bonachão, ou um intransigente impiedoso. Era o que narrava Napoleão: é fácil construir um trono de baionetas, mas o difícil é sentar-se nele. Assim, parece que ou conservamos uma bondade excessiva ou mantemos uma pose de durão e possessivo. Nesta perspectiva, parece dar-se o mesmo no Natal: no presépio, podemos enxergar Cristo como um rei ou como menino. Qual é o mais perfeito: um Jesus que manifesta grandeza ou que floresce em bondade?

A majestade do maior dos Reis

Eu quero começar convidando você, caro leitor, a deixar a sua imaginação voar até a gruta de Belém, no exato momento do nascimento de Jesus. Embora deitado em seu presépio e sendo ainda uma criança, aquele Menino possuía maior majestade, força e poder que todos os homens que existiram e que existirão até o fim dos tempos. É Ele o Rei de toda a glória, Criador do Céu e da Terra, Deus encarnado como homem, manifestando sua majestade feita de sabedoria, santidade, ciência e poder.

grandeza de cristoAgora, observe Nossa Senhora aos pés do Menino, também Ela como verdadeira Rainha, com uma dignidade e imponência tais que não precisava nem de roupas nobres nem de tecidos de qualidade para se fazer notar.

Para compararmos, conta-se, sobre Santa Teresinha, que ela era tão encantadora e imponente que o pai a chamava: “minha pequena rainha”. O jardineiro do Carmelo declarou, no processo de canonização, que viu certa vez uma freira, de costas, fazendo alguma tarefa, e essa freira era Santa Teresinha. Então lhe perguntaram: “Como é que, vendo-a de costas, o senhor sabia que era a Irmã Teresinha?” E o jardineiro respondeu: “Pela majestade dela, ninguém tinha a mesma majestade!”. Se assim era Santa Teresinha, como terá sido Nossa Senhora?

É importante lembrarmos como a majestade do Menino Deus se contrapõe à superficialidade dominante em nossos dias, que tenta tornar opacos os mistérios mais excelentes de nossa fé. Por isso, no Natal, devemos ver a majestade da Sagrada Família, que transforma, com a irradiação de suas virtudes, uma primitiva gruta num palácio, numa catedral!

O carinho e a inocência do mais querido irmão

Por outro lado, é preciso também que imaginemos novamente o Menino Jesus na manjedoura, sob o olhar extasiado de Nossa Senhora e de São José, tendo também a cada um de nós bem junto d’Ele, assim, como estiveram os pastores e os Reis Magos.

Em certo momento, Ele abre os olhos e olha para você. Seu olhar lúcido, puríssimo e inteligente penetra até o fundo de seu ser, enxergando profundamente as suas qualidades e os seus defeitos. 

Neste momento, com o seu olhar amoroso, Ele toca a sua alma, como tocaria, 33 anos depois, a alma de São Pedro, após Ele O negar três vezes, antes do galo cantar. Um olhar que o fez chorar amargamente e se arrepender pelo resto da sua vida.

Esse mesmo olhar provoca em você o arrependimento por seus pecados e faz com que você sinta horror aos seus defeitos. Mas, sobretudo, mostra o amor d’Ele por você, exalta as suas qualidades, e recorda a sua condição de Filho. Esse olhar o faz sentir-se destinado a um grau de santidade e de perfeição que você mesmo desconhece e até duvida poder atingir, mas que Ele sabe exatamente quando vai se manifestar. 

De repente, por um rogo amável de Nossa Senhora, o Menino sorri e, com esse sorriso, faz a distância desaparecer, o perdão invadir sua alma, e algo elevado e sublime lhe atrair. Como um bebê, Ele ainda não fala, mas, de alguma maneira, você O ouve pronunciar o seu nome, ou aquele apelido carinhoso usado apenas por sua família para se referir a você. Você vai ouvi-lo chamar você por esse nome e lhe dizer: 

“Eu te quis tanto e te quero tanto! Desejo tantas coisas para ti e perdoo-te tantas outras. Não penses mais nos teus pecados! E, em todas as ocasiões de tua vida, quando tiveres alguma dúvida, lembra-te desta condescendência, desta amabilidade e recorre a Mim, por meio de minha Mãe, que atender-te-ei. Serei teu amparo e tua força, e esse amparo e essa força hão de te levar ao Céu para reinares ao meu lado por toda a Eternidade”.

Qual Jesus devemos escolher: cheio de grandeza ou de bondade?

Para responder esta pergunta, precisamos esclarecer o que a doutrina chama de opostos harmônicos. Para São Tomás de Aquino, a virtude está no equilíbrio entre o exagero e a falta. Por exemplo, a verdadeira paciência está entre a explosão raivosa do irado e a passividade boba do mole.

Mas isso não quer dizer que, ao mesmo tempo que exista a virtude da paciência, não exista a virtude da indignação, que está também no meio termo entre na violência egoísta do orgulhoso e o unanimismo do preguiçoso. Ambos são virtudes, mas perfazem uma oposição que não contrasta, mas se alinha, se harmoniza face um mesmo absoluto, a vontade de Deus.

Assim, a grandeza e a bondade são irmãs, feitas para conviver em harmonia na mesma pessoa. Uma concepção equivocada leva à crença de que quem é majestoso tem que ser arrogante e desprezar os outros, e que o bondoso deve tolerar tudo e não se opor ao mal nem enfrentar os maldosos.

Não é assim. O Grande sabe respeitar a luz de Deus que cada homem porta, e sabe reconhecer, com admiração, o que cada um tem de mais brilhante, e trata-lo do mesmo modo. Por outro lado, o bondoso sabe reconhecer a própria vocação, e como é responsável por fazer sua luz brilhar sobre a terra, portando-se como tal. Por isso, grandeza e bondade são opostos harmônicos.

E o Menino Jesus tem em plenitude as duas faces: é rei, mas é também irmão. Sabe ver nossos defeitos e não compactuar com eles, mas sobretudo sabe nos dar mais uma chance, e mais uma, e mais uma. Neste Natal, que reconheçamos no presépio a grandeza do rei e a bondade do irmão unidas no mesmo homem.

 
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