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Espiritualidade


Qual a relação entre a caridade e a fé?
 
AUTOR: REDAÇÃO
 
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Deus é amor

Ao considerarmos as virtudes teologias: fé, esperança e caridade, percebemos que as duas primeiras se entrelaçam com forte vínculo. A fé, crer sem ver, coaduna-se com a esperança, aguardando o prêmio a ser concedido. Aliás, da interação das duas ainda se sobressai em intensidade uma outra virtude, a confiança, a esperança multiplicada pela esperança cheia de fé. Neste panorama, entretanto, parece sobrar a caridade. Qual a relação dela para com a fé e a esperança?

Preceitos da caridade

Antes, porém, de falar de suas relações, é preciso pontuar quais são os preceitos que a virtude da caridade nos obriga. São dois: o primeiro para com Deus e o segundo para com o próximo. É a estes preceitos que Jesus se refere em seu evangelho: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos” (Mt 22, 36-40). Guardemos estas palavras de Cristo pois elas farão ainda mais sentido no final deste artigo.

A Deus temos uma Lei principal a seguir: seus dez mandamentos. Nossa caridade precisa alcançar a prática destes e a sua vivência alegre e motivada, pois de nada vale cumprir os preceitos da Lei se for de má vontade. Deus perscruta o coração e a mente; não podemos enganá-lo. Ao próximo, os principais deveres derivam-se nas obras de caridade, que se dividem em corporais e espirituais, e precisam ser constantemente praticadas, na medida do possível.

É preciso lembrar também que cada ser humano possui graus de proximidade, sendo errado, por isso, tirar o pão dos filhos para dar a um desconhecido. A caridade nos obriga, dirigida para os homens, a que atendamos primeiro a nossos deveres de estado. São eles, por exemplo, o casamento, paternidade ou maternidade, relações de sangue ou amizade.

Também cito uma subcategoria ao qual se dirige a caridade, e que está englobada no mandamento de amor ao próximo: a caridade para com a criação de Deus. Em primeiro lugar, a natureza e seus elementos são vestígios de Deus e de sua infinitude, e trata-la com ganância é desvirtuar essa imagem que o Senhor implantou nela. Em segundo, lembremos que o mundo, a sociedade que deixarmos afetará nossos filhos, netos e os netos deles, de modo que o dever de caridade para com os próximos também regula nosso uso da criação.

Como relacionar os preceitos da caridade com a fé?

São Tiago, em sua carta, proclama: “assim também a fé, por si só, sem obras, está morta” (Tg 2, 17). Dito isto, completa São Leão Magno, em uma de suas homilias, que estas obras ao qual o apóstolo se refere é a caridade. Deste modo, temos uma nova sentença: a fé sem a caridade é morta. Esta é a dependência mais sublime que possa haver, consistir a existência de uma na outra. Mas também tem um sentido prático: é só quando nossa crença em Deus é desinteressada, ou seja, por amor, que ela é realmente fé. Antes, com motivações escusas, sejam para limpar a consciência ou para aparecer diante dos outros, a fé é um vaso rachado que derrama todo o líquido das graças que são nela pousados.

Por isso Nosso Senhor cita a caridade como o maior, e senão o único mandamento da Lei; também São Paulo a elogia com todas suas forças: “ainda que eu falasse a língua dos anjos e dos homens, sem a caridade eu nada seria” (1 Cor 13). A caridade é o fundamento de uma crença verdadeira, que não desiste mesmo quando tudo parece perdido. Ela nos transforma em filhos, de fato, do Pai Eterno: cremos melhor em suas lições quando possuímos a caridade.

E a esperança, qual sua relação com a virtude do amor?

Falamos que a esperança multiplicada pela esperança dá em confiança, uma virtude mais intensa e mais constante. Pois a esperança tem um movimento mais passivo, enquanto a confiança, mais ativo; uma aguarda o prêmio, e a outra busca, persegue, corre atrás da recompensa. Mas não nos enganemos: o motor deste movimento inclinado para Deus e para a recompensa celeste é a caridade.

Sem ela, desmotivamo-nos com qualquer dificuldade, ficamos pelo caminho ao sinal de qualquer tropeço. E, quando caímos, se não fosse a caridade, não teríamos coragem de nos apresentar a Deus tal qual o Filho Pródigo. Se a fé e a esperança, na parábola, consistem na atitude que o filho pecador toma diante do pai, a caridade são seus pés que o movimentam e o levam de volta a casa paterna.

E não esqueçamos a definição que São João dá de nosso Criador: “Deus é amor”, enlevando de modo inédito esta virtude a maior categoria possível. Além disso, ela será a única que levaremos no pós vida das três virtudes teologais: a fé se transformará em visão, a esperança em realização, mas a caridade continuará.

 
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