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Evangelho do 4º Domingo da Quaresma
 
AUTOR: MONS. JOÃO SCOGNAMIGLIO CLÁ DIAS, EP
 
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Recebendo afavelmente um potencial discípulo, Jesus, o primeiro evangelizador da História, procura prepará-lo com cuidado e tato didático para ser capaz de crer na sua divindade.

O Evangelho do 4º Domingo da Quaresma é a parte final da conversa noturna havida entre Jesus e Nicodemos. Antes deste encontro, havia Ele realizado o milagre das Bodas de Caná e expulsado os vendilhões do Templo.

Crescia o número dos convertidos, pois todos comprovavam a grandiosidade de Jesus “à vista dos milagres que fazia” (Jo 2, 23). Entretanto, não era íntegra como deveria ser a fé daqueles admiradores, porque as esperanças do povo judeu estavam voltadas para um Messias politizado, carregado de dotes humanos, segundo o conceito mundano da época. Por isso “Jesus mesmo não Se fiava neles” (Jo 2, 24). Se alguns chegavam a discernir os aspectos sobrenaturais de Jesus, faltava-lhes, contudo, a proporcionada abnegação e entrega para segui-Lo incondicionalmente.

Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho

Jesus é paulatino no seu doutrinar. “Nemo summus fit repente”, diz um antigo provérbio latino: as grandes obras não se fazem repentinamente. Estava diante d’Ele um homem convicto de que só a Lei salva, e era preciso conduzi-lo a aceitar a verdadeira via da salvação: a fé em Jesus. Mais uma vez, transparece a delicadeza do Divino Mestre, preparando-o para o passo subsequente. Ele não fala de imediato em salvação, mas sim em “vida eterna”, tal como o fará mais tarde ao revelar o Sacramento da Eucaristia (cf. Jo 6). E apesar disso, nessa outra ocasião, em face de verdade tão ousada, “muitos dos seus discípulos, ouvindo-O, disseram: ‘Isto é muito duro! Quem o pode admitir?’” (Jo 6, 60).

“Pois Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que não morra todo o que n’Ele crer, mas tenha a vida eterna”.

Maldonado tece belas considerações sobre este versículo, começando por ressaltar a força da afirmação empregada por Jesus para referir-Se ao grande amor de Deus pelos homens. Ao usar o termo “mundo”, o Divino Mestre dilata os limites da aplicação desse amor muito além das fronteiras do povo judeu, “com o qual pelo menos tinha uma como que obrigação por razão da Aliança”.

Com efeito, esse amor de Deus por nós não poderia ser maior. Se Ele nos tivesse dado todos os Anjos somados ao universo inteiro, nada seria em comparação com o que na realidade nos entregou. O Pai bem sabia que, ao nos dar seu Filho Unigênito, oferecia-nos o Céu e a própria participação em sua vida divina (cf. Rm 8), pois Jesus é um Herdeiro dadivoso ao extremo. Maior manifestação de bondade é impossível!

Qual o objetivo de Deus ao nos dar seu Filho Unigênito?

Ademais, o Pai não no-Lo deu em parte, e sim ― muito pelo contrário ― por inteiro e sem reserva. As graças de Jesus, seus méritos, seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, todo Ele inteiro é nosso. Ele é nosso Rei, nossa Cabeça, nosso Modelo, nosso Mestre, nossa Causa. Qual o objetivo de Deus ao nos dar este infinito dom?

“De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele”.

Algumas traduções usam o verbo julgar e não condenar. Realmente, no latim encontramos ut iudicet mundum. Ora, para os judeus — conforme nos explica Maldonado — os dois verbos tinham o mesmo significado de castigar. Dada a manifestação do grande poder de Jesus através de seus numerosos milagres (cf. Jo 3, 2), Nicodemos se aproxima d’Ele tomado de forte temor reverencial. De fato, Jesus devia produzir em seus circunstantes um misto de atração e de temor.

Por ser a Grandeza, Ele arrebata e ao mesmo tempo impõe respeito. Para um espírito culto e inteligente como Nicodemos, a compreensão da magna figura do Mestre — sobretudo depois das revelações que Ele fez, sintetizadas nos versículos anteriores — fê-lo imaginar o castigo de que um tal Profeta seria portador.

Como entender que Jesus não veio para condenar o mundo?

Como entender, então, que Jesus afirme não ter sido enviado para condenar o mundo? Quem nos responde é São João Crisóstomo:

“Duas serão as vindas de Cristo. Uma que já se realizou, a outra sucederá no futuro. A primeira não foi para castigar nossos pecados, mas para perdoá-los. A segunda, pelo contrário, não será para perdoar, e sim para julgar o mal que tenhamos cometido.

Ele diz a propósito da primeira: ‘Não vim para julgar, mas para salvar o mundo’. E da segunda: ‘Quando venha o Filho na glória de seu Pai, porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda’ (Mt 25, 31.33). ‘Uns irão para a vida, os outros para o suplício eterno’ (Mt 25, 46).

Também a primeira vinda poderia ter sido com o fim de um juízo, em estrito rigor de justiça. […] Porém, sendo indulgente, não quis pedir contas, senão que ofereceu o perdão. Se então houvesse feito justiça, todos teriam sido castigados: ‘Todos pecaram e estão privados da glória de Deus’ (Rm 3, 23), diz o Apóstolo”.

Não permitais, ó meu Jesus, que eu faça parte dos que odeiam a luz

Jesus, em sua infinita bondade, quis o melhor dos efeitos para a alma de Nicodemos ao longo desta conversa noturna, a qual passou para a História e hoje se desenrola diante de meus olhos, nesta Liturgia.

Quando eu me coloco no lugar de Nicodemos, brotam no fundo de meu coração anseios de adoração, arrependimento e súplica, em face dessa Luz que veio ao mundo:

“Não permitais, ó meu Jesus, que eu faça parte dos que odeiam a luz. Fazei com que eu creia ‘no nome do Filho Unigênito de Deus’. Por Maria Santíssima, eu Vos peço, concedei-me a graça de uma plena dor de minhas faltas, considerando-me o maior de todos os pecadores, sem jamais perder a confiança no ilimitado valor de vosso preciosíssimo Sangue. Aumentai minha esperança, minha fé e meu amor a Vós, para que, na vossa luz, eu possa vir a contemplar a Luz por toda a eternidade. Amém”.

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