Até onde vai o limite da caridade? Um Santo uma vez pronunciou: “A medida de amar é amar sem medidas”.
São Raimundo Nonato, celebrado pela Santa Igreja no final de agosto, dá mostras dessa entrega sem reserva. Por Santos, príncipes ou Cardeais?
Não, seu amor era direcionado sobretudo a escravos, pobres cristãos que caíam nas mãos de inimigos da fé, os muçulmanos.
Mas antes de contarmos esta história, vejamos como foi a vida do jovem Raimundo.
Nascimento e vida na solidão
São Raimundo nasceu em 1200, uma época auge para a Cristandade europeia e para a Santa Igreja. Era o que descrevia o Papa Leão XXIII: “Houve tempo em que a filosofia do Evangelho governava os Estados”.
De fato, será na união com seu grande amigo, que por sinal também é santo, que sua vocação ficará mais clara e seu heroísmo mais eficiente.
Ao nascer, São Raimundo foi retirado do corpo já sem vida da mãe, que falecera um tanto antes do menino vir ao mundo. Por isso ficou conhecido como Nonato, que em latim significa “não nascido”, ou, adaptando, nascituro de mãe não viva.
Portanto, São Raimundo Nonato conhecia a dor e o sofrimento de ser privado de um dos seres mais carinhosos da existência humana, a mãe.
Tal fato será importante na missão que veremos cumprir em seus verdes anos.
Ao crescer com saúde, o menino começou a se admirar pelo silêncio dos monges e sua vida contemplativa. A admiração se transformou em desejo, que rapidamente se consolidou em propósito: “Serei parte dos ministros da Santa Igreja!”
Mas seu pai, percebendo no jovem Raimundo um bom tino para negócios e talento para barganhar ofertas, não quis perdê-lo, ou assim pensava ele. Como medida necessária, mandou seu filho para cuidar de um enorme pedaço de terra que possuía.
São Raimundo se tornou fazendeiro; sua vida era cuidar das obrigações que o sítio de sua família lhe impunha.
Mas, ao contrário de enfraquecer seu desejo, esta função só fez aumentá-lo; o silêncio que havia ali, a calma, a ordem natural, tudo fazia São Raimundo viver em oração.
Assim, quando se sentiu preparado, foi até seu pai e formalizou seu desejo. Seria monge e sacerdote!
Delineamento da vocação
Inicialmente se dedicando com valentia aos estudos, São Raimundo alcançou grande ciência na doutrina; porém, logo percebeu que não seria um acadêmico.
Tendo sido ordenado sacerdote em 1224, já na Ordem que seu amigo, São Pedro Nolasco, fundara, entrega-se de corpo e alma ao seu ideal: resgatar os cativos cristãos presos na África.
Como havia muitas batalhas na Península Ibérica, dado os reinos cristãos e mouros que ali se instalavam serem altamente bélicos e poderosos, muitos trabalhadores cristãos eram tirados de sua família, feitos reféns e torturados nos cárceres.
Aos nobres, podia-se fazer a troca por ouro ou por outros cavaleiros muçulmanos caídos em batalha; porém, aos mais simples, que padeciam por sua fé e eram postos em inúmeros sofrimentos para deixarem de ser cristãos, quem os salvaria?
Por isso, São Pedro Nolasco havia criado a Ordem de Nossa Senhora das Mercês: seriam católicos que, de livre e espontânea vontade, trocariam de lugar com os presos.
Estes, que iriam livres, estavam com a vontade alicerçada na Lei do Senhor, e então era mais difícil que sucumbissem às pressões mouras.
De qualquer modo, que vocação sublime esta de dar-se como escravo em lugar de outros!
São Raimundo foi ao norte da África, e seu ardor de sagrado negociante libertou inicialmente 150 cristãos, que puderam voltar às suas famílias!
Trabalhou por quinze longos anos, até que, percebendo as autoridades inimigas seu empenho, foi preso.
Porém, sua fé era tão grande e seu conhecimento, tão profundo que muitos carcereiros árabes começaram a pedir o Batismo católico!
Como represália a tal ação, o emir mandou que sua boca fosse perfurada e um cadeado de ferro fosse posto em seus lábios. É a crueldade pagã e mortal que tanto fez mal aos que só faziam o bem.
Liberdade e queda de São Raimundo Nonato
Porém, quando foi liberto São Raimundo Nonato, após oito meses de intensos maus-tratos, este foi chamado a ser conselheiro do Papa! Seria criado Cardeal e estaria quase à máxima altura na Cristandade medieval.
Mas ele não conseguiu resistir: os ferimentos e torturas abalaram sua saúde de tal forma que São Raimundo ficou muito doente.
Caindo de cama com uma ardentíssima febre, no ano de 1240, após quarenta anos de vida e dezesseis de seara apostólica, entregou sua alma a Deus.
Hoje, São Raimundo é invocado como padroeiro dos nascituros, já que ele mesmo foi um exemplo disto. Sua intercessão também é solicitada por aqueles que se veem presos pelas amarras do vício e do pecado.
Que o grande Raimundo Nonato também nos ajude a chegar neste limite de amor ao próximo, a mesma prescrição de Jesus no Evangelho: “Amai-vos como Eu vos amei”.
Se Ele nos amou a ponto de entregar sua vida por nós, São Raimundo seguiu com exatidão esta regra.
Que sejamos hoje melhores cristãos, mais dignos deste título, mais ardorosos apóstolos da Lei de Deus e melhores para nossos amigos e amados.