Silêncio e meditação, juntas, são indispensáveis para nossa salvação
A meditação silenciosa acontece quando se unem indissoluvelmente a regra do calar e a viva ocupação do meditar.
Uma sem a outra não basta para a nossa salvação.
Em verdade, o silêncio sem meditação é morte, sepultura de um homem ainda vivo. A meditação sem o silêncio é ineficaz, inútil. É como um homem agitando-se fechado em uma sepultura…
Para que serve permanecer com a língua calada, se a vida ou a consciência estão em tempestade?
Essas palavras, registradas por Rodolfo, filho espiritual de São Romualdo, refletem algo da pessoa do fundador da Congregação Camaldulense da Ordem de São Bento.
Pesou-lhe na consciência ter testemunhado um duelo
Nascido em Ravena (possivelmente em 952 ou 956), Romualdo foi um jovem de nobre estirpe que vivia entregue às ambições familiares: caça, combates, diversões…
Tinha ele vinte anos quando foi obrigado, sob pena de ser deserdado, a presenciar um duelo no qual seu pai foi vencedor, ao matar o adversário – um parente – com quem tinha uma rixa pessoal envolvendo a posse de uma propriedade.
Esse acontecimento causou profunda impressão em Romualdo, que decidiu fazer quarenta dias de penitência – o que era previsto para duelantes, apesar de Romualdo não ter participado ativamente da disputa –, sendo então acolhido em um mosteiro existente nas proximidades onde se estendeu por quase três anos, em meio ao fervor religioso e à austeridade monástica, para a qual sentiu-se inclinado.
Progressos na vida espiritual
Mesmo sendo ainda um noviço, Romualdo começou a apontar falhas em alguns monges relapsos, que não seguiam a Regra (de São Bento). Estes, como vingança, tentaram atirá-lo pela janela, porém sem o conseguir.
Posteriormente ele partiu, com permissão do abade, para viver com um eremita, chamado Marino, nas proximidades de Veneza, o qual o disciplinava por qualquer negligência, mínima que fosse, o que foi de grande importância na edificação espiritual de Romualdo.
O Santo queria, do fundo do coração, ter intimidade com Cristo na contemplação, alimentando-se da meditação e da oração contínua, além da participação na Eucaristia.
Descobriu que a solidão não o afastava dos irmãos, da vida eclesial ou dos pobres, mas o firmava mais ainda na comunhão e solidariedade para com todos.
Integração da vida cenobítica com a vida eremítica
São Romualdo estabeleceu várias comunidades, o que posteriormente constituiria a Congregação Camaldulense (nome derivado do local onde foi fundado um dos eremitérios, Camaldoli, que se tornou a casa-mãe da família religiosa): monges levando uma vida ao mesmo tempo comunitária e em solidão, ou seja, uma feliz conjugação da vida cenobítica com a vida eremítica.
Lamentosa queixa com efeito exorcístico
Certa vez, em um dos ciclos de intensas agressões do demônio – incomodado pelo florescimento da obra –, exclamou Romualdo: Grande Jesus, amado Jesus, por que me abandonastes? Entregaste-me inteiramente nas mãos do inimigo?
Essa lamentosa queixa na qual mencionou o nome de Jesus teve efeito exorcístico sobre os espíritos malignos que o atormentavam, os quais imediatamente se retiraram, sentindo-se Romualdo cheio de doçura e compunção, chegando a verter lágrimas de alegria.
O ladrão não chegou a usufruir do roubo
Em uma das regiões por onde o monge Romualdo esteve, estreitou ele amizade com um camponês que o ajudava em algumas necessidades, ainda que tivesse de dividir alguns víveres que tinha nos limites de sua pobreza (era mais rico em amor e caridade do que em bens).
Esse camponês foi vítima de um roubo: um conde se apoderou de uma vaca que possuía para com ela se banquetear. Tomando conhecimento do fato, Romualdo enviou um mensageiro para suplicar a devolução do animal, mas a resposta foi prepotente e arrogante: o conde mandou dizer que naquele mesmo dia saborearia a carne da vaca subtraída.
Já no primeiro pedaço tragado o nobre se engasgou e não conseguiu engolir nem expelir a carne, findando-se ali a sua vida.
Expansão da obra e morte de Romualdo
Solicitado a enviar alguns monges para atuar na evangelização da Polônia, dois membros de sua instituição foram mortos, o que estimulou Romualdo a posteriormente partir para a Hungria com outros discípulos, tendo como expectativa o martírio.
Mas, tornando-se enfermo e movido pela voz de Deus, retornou à Itália, onde algum tempo depois entregou a alma ao Criador aos 75 anos de idade.
Aberto o túmulo cinco anos após sua morte, seu corpo estava incorrupto, o que também foi constatado em outras ocasiões.
Sua canonização deu-se em 1595.
Espiritualidade camaldulense
“Regrinha de ouro”, eis o nome dado por um dos discípulos de São Romualdo ao ensinamento de seu fundador.
Eis alguns trechos:
Fica sentado na tua cela, como no paraíso.
Expele da memória o mundo inteiro e joga-o atrás de ti.
Fica vigilante e atento aos bons pensamentos como um bom pescador aos peixes.
Se tu, que és noviço, não consegues entender tudo, ora aqui e ora lá, procura rezar os Salmos com o coração e entendê-los com a mente. E quando na leitura começas a distrair-te, não desanimes deixando de meditar, mas esforça-te para voltar à atenção.
Antes de tudo, coloca-te na presença de Deus com atitude humilde, como quem está na presença do imperador.
Esquece-te totalmente e fica aí como uma criancinha, contente só com a graça de Deus. Pois, se a mãe não dá, ela não tem o que comer, e a comida mesma não tem sabor.