A Igreja nos convida, sobretudo no tempo da Quaresma, a atender ao chamado divino da penitência.
Por amor a Jesus Cristo, além dos sacrifícios impostos pelo peso da vida cotidiana, nós podemos oferecer a Deus alguns atos de mortificação.
No período da Quaresma, o jejum e a abstinência estão entre as obrigações que a Igreja instituiu para os fiéis.
O que é jejum?
É uma "forma de penitência que consiste na privação de alimentos". Essa é a definição do Código de Direito Canônico, livro das leis que orienta a Igreja Católica.
Assim sendo, o jejum também consiste em uma forma de mortificar o corpo para fortalecer o espírito na luta contra as tentações do pecado.
Não é somente se privar de algo. Trata-se de oferecer a Deus um ato aliado a uma intenção, com um objetivo específico. A Igreja instrui seus filhos a como praticar esse ato.
O jejum exigido na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa, por exemplo, é parcial, não total; deve-se fazer três refeições leves: café da manhã, almoço e jantar. Nesse período há somente consumo de água nos intervalos.
Agora que você sabe o que é o jejum, já pode conhecer mais profundamente sobre como pratica-lo no seu dia-a-dia da.
O que é abstinência?
Sobre a abstinência, o Direito Canônico diz que "consiste na escolha de uma alimentação simples e pobre".
A Tradição da Igreja indica a abstenção de carne vermelha e de aves, juntamente com seus derivados. Exceção feita dos peixes e frutos do mar.
Deve-se observar a abstinência nos seguintes dias:
- Quarta-feira de Cinzas (obrigatório);
- Sexta-feira Santa da Paixão (obrigatório);
- Todas as sextas-feiras da Quaresma (recomendável);
- Todas as sextas-feiras do ano (obrigatório – mas, no Brasil, há uma orientação específica da CNBB que trataremos logo abaixo).
Sobre a abstinência em todas as sextas-feiras do ano
No Brasil, a CNBB permite que os católicos substituam a abstinência de carne para todas as sextas-feiras do ano por alguma outra penitência, como obras de caridade ou práticas de piedade.
Então, atenção: você pode até decidir comer carne, mas deve fazer penitência nesses dias.
Quem, de livre vontade e livre consciência, não respeitar a abstinência obrigatória, peca gravemente. Deve se arrepender e confessar.
Quem está obrigado a fazer jejum e abstinência?
Pelas orientações da Igreja, estão obrigados ao jejum os que tiverem completado 18 anos até os 59 completos. Os outros podem fazer, mas sem obrigação.
Já a abstinência é obrigatória para todos os maiores de 14 anos.
Os doentes, crianças menores de 14 anos, pessoas com problemas mentais, mulheres grávidas ou que amamentam e aqueles que têm restrições alimentares podem descumprir a norma.
O verdadeiro espírito da penitência quaresmal
É preciso recordar que esta abstinência de carne é feita para honrar o sacrifício do Senhor ao morrer na Cruz para limpar nossos pecados.
Desde a antiguidade, a carne vermelha foi símbolo de opulência e celebração. Por isso, consumi-la durante a Quaresma não combinaria com o sentimento de reflexão e humildade desta época litúrgica.
Em sua Suma Teológica, São Tomás de Aquino explica que o consumo de carne vermelha também dá mais prazer, já que ela é mais saborosa. Abster-se dela seria mostra de um grande sacrifício.
Por que pode comer peixe em dia de abstinência?
Como escreveu São Paulo:
“Nem todas as carnes são iguais: uma é a dos homens e outra a dos animais; a das aves difere da dos peixes” (I Cor 15, 39).
Nesse sentido, São Tomás de Aquino adverte que o frango também proporciona prazer.
Talvez não tanto quanto o da carne vermelha, mas ele é um animal de “sangue quente” e da terra, diferenciando-se do peixe.
“O jejum foi instituído pela Igreja com a finalidade de frear as concupiscências da carne, que considera os prazeres do tato relacionados à comida e ao sexo”.
Portanto, a Igreja proibiu aos que jejuam os alimentos que dão mais prazer ao paladar, além de serem um incentivo à luxúria.
E, em relação aos frutos do mar, como moluscos e crustáceos? Alguns membros do clero acreditam que a ostra e a lagosta devem ficar fora da lista de carnes permitidas na Quaresma, já que, embora aquáticos, também são associados ao luxo e ao extremo prazer.
Quanto aos derivados animais - ovos, leite e queijo -, também há divergências dentro da Igreja.
Alguns os consideram pertinentes, pois não são o animal em si; mas outros dizem que é preferível substituí-los.
Em resumo: a carne permitida às sextas-feiras da Quaresma e na Quarta-feira de Cinzas é aquela que provém do mar, dos lagos e dos rios, com algumas exceções. Assim como Jesus deu sua carne e sangue por nós, jejuar é uma mostra de gratidão.
Explicado isso, é importante dizer que, embora o peixe possa ser consumido, seu preparo deve ser simples.