Transcorridos 30 anos do falecimento do grande orador e pensador católico Plinio Corrêa de Oliveira, sua figura histórica continua despertando interesse.

Entretanto, para muitos daqueles que o conheceram, mais que o simples interesse, pemanecem os sentimentos que só poderiam ser suscitados por quem sempre foi tão coerente com os ideais da Fé Católica,  a qual  conheceu, admirou e a ela se entregou de coração.

Sentimentos contraditórios, porém, que  no passado como agora  vão da mais profunda admiração à aversão e ao ódio, sem deixar de passar pela inveja.

Tendo essa relidade em mente, vamos recordar algo da vida do Dr. Plinio, sem o intuito de esgotar o assunto, e deixando para a História um juízo objetivo sobre sua vida.

A figura marcante de Dr. Plinio na história do século XX

Plinio Corrêa de Oliveira nasceu em São Paulo, Brasil, em 13 de dezembro de 1908.

Era filho de Dr. João Paulo Corrêa de Oliveira, advogado procedente de uma ilustre família de Pernambuco, e de Da. Lucilia Ribeiro dos Santos Corrêa de Oliveira, oriunda da tradicional aristocracia paulista.

Passou sua infância e adolescência no sereno ambiente familiar, inserido na aprazível sociedade da São Paulo de outrora.

Ainda jovem, destacou-se como indiscutível líder católico, o que o levou a percorrer uma fulgurante carreira política, tornando-se conhecido em todo o país.

Assim sendo, aproveitou-se disso para fundar um movimento que lutasse pelos ideais da Igreja  que ele amava e queria servir , reunindo numerosos discípulos em torno de si e dedicando-se a transmitir a eles uma sólida formação doutrinária, bem como o espírito católico que o animava.

Todo homem tem uma missão dada por Deus 

Todo homem tem uma determinada missão a cumprir no desenrolar da História.

Portanto, mais do que uma simples análise de fatos concretos, a vida de Dr. Plinio merece ser considerada sob a perspectiva desse desígnio de Deus, a fim de se compreender sua pessoa, sua dedicação à Igreja, sua obra e sua gesta.

Analisando a História da humanidade, Dr. Plinio percebeu que ela vinha sendo corroída por uma longa crise, estabelecida no Ocidente ao longo dos últimos cinco séculos.

Esta crise foi designada por ele com o nome de Revolução.

Dr. Plinio via sua vocação nascer dentro desse contexto e percebia que ela deveria desenvolver-se exatamente quando a Revolução parecia atingir o auge de sua expansão e estar prestes a levantar seu estandarte vitorioso.

Defender a Igreja, lutar pela implantação do Reino de Deus e desempenhar um papel que até aquele momento não havia se manifestado na História: foi o que Dr. Plinio considerou que deveria ser tomado a peito por um verdadeiro filho da Santa Igreja.

Foi compreendendo isso que Dr. Plinio desejou ardentemente, com a força de sua convicção e contra o consenso de seu tempo, “segurar a correnteza” e “quebrar” a Revolução, para que, sobre seus escombros, fosse edificado o Reino de Maria prometido por Nossa Senhora em Fátima.

Por essa intenção, dedicou sua existência, disposto a oferecer a própria vida, se assim dispusesse a Divina Providência.

Ver a história de Plinio Corrêa de Oliveira sem considerar esse aspecto fundamental, que o mostra perseguindo o ideal de um chamado religioso, não é uma visualização correta.

Isso é o que precisa ser visto de um homem que chegou a expressar o desejo de um dia poder dizer: “Já não sou eu quem vivo, mas é a Igreja Católica que vive em mim!”

A atuação que marcou um século de História

Dr. Plinio iniciou sua ação pública ainda bem cedo.

Com 24 anos foi não só o mais jovem deputado eleito para a Assembleia Constituinte, em 1934, como também o mais votado de todo o Brasil.

Atuou de maneira decisiva para a aprovação das chamadas reinvindicações mínimas dos católicos. E seu potente poder de oratória foi ouvido nas seções da Constituinte e em outras reuniões da Assembleia, sempre em defesa dos princípios da Igreja.

Terminado seu mandato de deputado, enquanto líder do Movimento Católico em São Paulo, lutou pela Igreja com todas as forças de sua alma, e sua influência percorreu todo o Brasil.

A bem da verdade, a receptividade maior ou menor dessa influência pelas pessoas dependia do grau de recusa que tivessem às solicitações do espírito do mundo. Por isso, muitos o rejeitavam e se fechavam a ele, a suas ideias e a sua influência, enquanto outros o aclamavam com ardor.

“O Legionário”, um jornal de repercussão internacional

Para desenvolver um apostolado eficaz, o jovem Plinio transformou um simples jornal paroquial, O Legionário, num influente semanário de repercussão internacional, a partir do qual revelou ao mundo o singular carisma do qual foi dotado pela Providência.

Quando o nazifascismo era um perigo real e iminente para o Brasil, foi Dr. Plinio quem denunciou  pelas páginas de O Legionário  esse perigo que se levantava com força, a fim de que os católicos não se deixassem iludir por falsas soluções dele emanadas.

Já como primeiro presidente da Ação Católica de São Paulo, foi o jovem Plinio quem delatou, com o acerto de um tirocínio inspirado e cheio de amor à Igreja, os incipientes erros que ameaçavam mudar a face imaculada da Santa Igreja, para os quais ninguém ainda abrira os olhos totalmente.

É bom recordar que a essência da missão profética, ao contrário do que de ordinário se acredita, não consiste apenas em fazer vaticínios, mas, sobretudo, em indicar aos homens os rumos da Providência e em contemplar a visão que Deus tem dos fatos.

Nesse sentido, esta foi uma característica proeminente em toda a ação de Dr. Plinio, embora ele também fizesse previsões… E quantas ele fez!

Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica

Em 12 de maio de 1940, Dr. Plinio foi nomeado presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica de São Paulo, um fruto de seu prestígio enquanto líder católico íntegro.

Ao cumprir esse encargo, ele procurou deitar toda a sua energia na formação de uma elite católica capaz de influenciar a sociedade e mudar os rumos da história do Brasil.

Assim como a Revolução tem seus próprios tipos humanos que lhe servem de modelo, apesar de esconder que isso é feito de forma intencional, Dr. Plinio queria constituir algo análogo para a Contra-Revolução da Igreja.

Um plano que não foi realizado…

Ao contrário do que se esperava, esses planos foram, aos poucos, postos de lado.

Com enorme dor, ele constatava que, quanto mais os frutos abundantes da Ação Católica se faziam notar sob seu comando, mais se esfriava a receptividade de uma parte do clero e das lideranças laicas em relação à sua pessoa.

Simultaneamente, aqueles que o precederam na direção da Ação Católica, cada vez mais confirmados em sua adesão à heterodoxia, eram apoiados de modo crescente.

Dr. Plinio sabia muito bem que seus adversários tentariam desarticular todo o seu apostolado, mas, levado por seu amor e fidelidade à Igreja e por sua veneração ao sacerdócio, isso lhe parecia impossível.

Ele não ousava admitir a hipótese de tal iniciativa partir de membros do Episcopado e assim se referiu a isso em certa ocasião:

Esse foi um momento terrível para mim.

Dúvida, isso nunca me causou, graças a Deus; mas uma dilaceração que só começou a se apaziguar quando eu percebi que não era algo nascido da Igreja, e sim uma penetração do espírito do mal nela.

Afinal, a Igreja amada por mim sempre permanecera igual a si mesma em todos os séculos.

Um livro “kamikaze”

Movido por sua fidelidade a toda prova à Santa Igreja, Dr. Plinio resolveu desmascarar essa heresia suspicaz e velada, ainda que pusesse em risco seu futuro pessoal.

Ninguém até então tivera o discernimento do mal em sua totalidade, e menos ainda a coragem de delatá-lo.

Nasceu, assim, no espírito de Dr. Plinio a ideia de escrever uma obra consagrada à cabal exposição e denúncia dos erros enquistados na Ação Católica que se alastravam por toda a Igreja:

Era preciso que um brado de alarme se erguesse, e que se operasse o esforço convergente de quantos discerniam o mal, para o revelar de uma vez. Grito de alarme, toque de reunir: surgiu o livro “Em defesa da Ação Católica”.

O livro foi apoiado e prefaciado pelo Núncio Apostólico no Brasil, Dom Benedetto Aloisi Masella; e, na mesma ocasião da publicação do Em defesa da Ação Católica, o Santo Padre Pio XII lançou a Encíclica Mystici Corporis, que denunciava muitos dos erros apontados por Dr. Plinio em sua obra.

Aos olhos da Opinião Pública seria uma imprevista aprovação das ideias que, injustamente, lhe valeriam entre alguns o epíteto de herege.

Por isso, um lance que parecia ser um suicídio não o foi.

O “kamikaze”, ao colidir no ponto certo, havia abatido a nave adversária.

Um período de catacumba e ostracismo

A partir do fim da década de 1940 inicia-se um período denominado por Dr. Plinio como de ostracismo.

Seu amor pela Esposa de Cristo o havia levado a ser considerado um pária nas fileiras católicas.

Esses anos de isolamento e perseguição implacável, ele os transpôs acompanhado de um pequeno grupo de oito seguidores, antigos redatores de O Legionário.

Com estes reminiscentes, Dr. Plinio daria início à constituição de sua obra, não isenta de enormes dificuldades e trágicos episódios.

Foi nas décadas de 1950 e 1960 que o “Grupo de Plinio” teve um grande incremento, com a adesão de novos membros provenientes de famílias de imigrantes.

A injeção de sangue novo daria um impulso à consideração enlevada da missão de Dr. Plinio por parte de pessoas livres dos filtros que a comparação social e certa inveja de alguns de seus primeiros seguidores impunham até aquele momento.

A graça de Genazzano: sorriso e promessa de cumprimento da vocação

Dr. Plinio recebeu de presente, no dia 16 de dezembro de 1967, uma estampa de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, cópia do miraculoso afresco que lá se encontra desde o século XV.

Absorto, encantado e verdadeiramente emocionado, Dr. Plinio contemplou a estampa sem dela desviar o olhar, mantendo um silêncio apenas interrompido por exclamações:

“Que imagem magnífica! Impressionante, extraordinária! Mas que maravilha! Como Ela é comunicativa! Olhem, parece que Ela quer falar. Ela mudou de cores. Agora tem outra expressão! Como é bondosa, maternal! Ela sorri, disposta a ajudar! Não há palavras, não se sabe o que dizer!”

Dr. Plinio chamará doravante este episódio de “graça de Genazzano”.

Disse ele mais tarde:

Ao contemplar a imagem eu tive a sensação única, inconfundível, de que o olhar d’Ela se animava, me fitava e me dava segurança.

Não foi uma visão ou revelação, mas era como se Ela falasse comigo: “Meu filho, não se perturbe. Confie, porque sua obra será concluída e você cumprirá por inteiro sua missão”.

Morto, Dr. Plinio continua vivo em sua obra: tornou-se imortal!

À medida que a idade avançava, a fé de Dr. Plinio na certeza da vitória da Contra-Revolução crescia, impulsionando-o a dar mais de si, a ponto de mostrar uma sede insaciável de sacrificar-se.

Ele desejava derramar todo o sangue que lhe fosse pedido, a fim de, com ele, irrigar o solo do Reino que Nossa Senhora prometeu em Fátima.

Devido a tudo isso, nos derradeiros meses de vida de Dr. Plinio, falecido a 3 de outubro de 1995, uma ideia consolava aos que o seguiam: mesmo morto, de alguma forma, ele viveria. 

Um homem de sua estatura moral não poderia desaparecer nas brumas da História como tantos outros. Ele tinha que continuar agindo, favorecendo aqueles que o seguiam e a realização de sua vocação.

Dr. Plinio deixava a existência e entrava para História. Ele tornou-se imortal em sua obra. 

Nela, o seu espírito continua vivo e ativo, e, com o auxílio da Medianeira de todas as graças, a quem ele tanto amava, continuará vivo pelos séculos futuros.