Quando se estuda a literatura italiana, um dos primeiros textos que se encontra nas antologias é precisamente o Cântico do Irmão Sol, ou “das criaturas”, de São Francisco de Assis: “Altissimo, onnipotente, bon Signore…”.
Um livro admirável que nos fala de Deus
Este cântico ressalta o justo lugar que se deve reservar ao Criador, Àquele que chamou à existência toda a grande sinfonia das criaturas: “…tue so’ le laude, la gloria e l’honore et onne benedictione… Laudato sie, mi’ Signore, cum tucte le Tue creature”.
Justamente, estes versos fazem parte da vossa tradição cultural e escolar.
Mas constituem antes de tudo uma oração, que educa o coração para o diálogo com Deus, levando-o a ver em cada criatura o sinal do grande Artista celeste, como lemos inclusive no belíssimo Salmo 19:
Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos… Não é uma língua nem são palavras, cujo sentido não se entenda, porque por toda a terra se espalha o seu ruído, e até aos confins do mundo a sua voz (v. 1.4-5).
Frei Francisco, fiel à Sagrada Escritura, convida-nos a reconhecer na natureza um livro admirável, que nos fala de Deus, da sua beleza e da sua bondade.
Pensai que o Pobrezinho de Assis pedia sempre ao frade do convento, encarregado do quintal, que não cultivasse todo o terreno para as hortaliças, mas que deixasse uma parte para as flores, aliás, que cuidasse de um bonito canteiro de flores, para que as pessoas ao passarem elevassem o pensamento a Deus, Criador de tanta beleza.[2]
É preciso respeitar na Criação o vestígio do Criador
Estimados amigos, tendo em consideração com estima as mais importantes investigações e descobertas científicas, a Igreja nunca deixou de recordar que, respeitando o vestígio do Criador em toda a criação, é possível compreender melhor a nossa verdadeira e profunda identidade humana.
Se for vivido bem, este respeito pode ajudar a juventude a descobrir também talentos e atitudes pessoais, e, portanto, a preparar-se para uma determinada profissão, que procurará realizar sempre no respeito pelo meio ambiente.
Com efeito, se no seu trabalho o homem esquecer que é colaborador de Deus, pode violar a Criação e provocar danos que têm sempre consequências negativas também sobre o homem, como infelizmente vemos em várias circunstâncias.
Hoje mais do que nunca, parece-nos claro que o respeito pelo meio ambiente não pode esquecer o reconhecimento do valor da pessoa humana e da sua inviolabilidade, em cada fase da vida e em todas as condições.
O respeito pelo ser humano e o respeito pela natureza são uma só coisa, mas ambos só podem crescer e adquirir a sua justa medida, se nós respeitarmos o Criador e a sua criação na criatura humana e na natureza.
Amados jovens, a este propósito, estou convicto de encontrar em vós aliados, verdadeiros “guardiães da vida e da criação”.
Importância da educação no campo da ecologia
E agora gostaria de aproveitar esta ocasião para dirigir uma palavra específica também aos professores e às Autoridades aqui presentes. Gostaria de ressaltar a grande importância da educação, inclusive neste campo da ecologia.
Foi de bom grado que aceitei a proposta deste encontro, precisamente porque ele empenha numerosos estudantes muito jovens, porque tem uma clara perspectiva educativa.
Com efeito, já é evidente que não existe um futuro bom para a humanidade na Terra, se não nos educarmos todos para um estilo de vida mais responsável em relação à criação.
E friso aqui a importância da palavra “criação”, porque a frondosa e maravilhosa árvore da vida não é fruto de uma evolução cega e irracional, mas esta evolução reflete a vontade criadora do Criador, além da sua beleza e bondade.
Este estilo de responsabilidade aprende-se antes de tudo na família e na escola. Por conseguinte, encorajo os pais, os dirigentes escolares e os professores a promoverem concretamente uma atenção educativa e didática constante, com esta finalidade.
Além disso, é indispensável que este trabalho das famílias e das escolas seja sustentado pelas instituições prepostas, que hoje estão bem representadas aqui.
Caros amigos, confiemos estes pensamentos e estas aspirações à Virgem Maria, Mãe de toda a humanidade.
Neste Tempo de Advento, no qual acabamos de entrar, Ela nos acompanhe e oriente para reconhecer em Cristo o centro do cosmos, a luz que ilumina cada homem e cada criatura.
E São Francisco nos ensine a cantar, com toda a criação, um hino de louvor e de ação de graças ao Pai celestial, doador de todas as dádivas.