Queridos amigos, vos preparais para ser apóstolos com Cristo e como Cristo, para serem companheiros de viagem e servidores dos homens.
Como haveis de viver estes anos de preparação? Em primeiro lugar, devem ser anos de silêncio interior, de oração permanente, de estudo constante e de progressiva inserção nas atividades e estruturas pastorais da Igreja.
Igreja, que é comunidade e instituição, família e missão, criação de Cristo pelo seu Espírito Santo e simultaneamente resultado de quanto a configuramos com a nossa santidade e com os nossos pecados.
Assim o quis Deus, que não se incomoda de tomar pobres e pecadores para fazer deles seus amigos e instrumentos para redenção do gênero humano.
A santidade da Igreja é, antes de mais nada, a santidade objetiva da própria pessoa de Cristo, do seu Evangelho e dos seus Sacramentos, a santidade daquela força do alto que a anima e impele.
Nós devemos ser Santos para não gerar uma contradição entre o sinal que somos e a realidade que queremos significar.
A tarefa em que o sacerdote há de gastar toda sua vida
Meditai bem este mistério da Igreja, vivendo os anos da vossa formação com profunda alegria, em atitude de docilidade, de lucidez e de radical fidelidade evangélica, bem como numa amorosa relação com o tempo e as pessoas no meio de quem viveis.
É que ninguém escolhe o contexto nem os destinatários da sua missão.
Cada época tem os seus problemas, mas Deus dá em cada tempo a graça oportuna para os assumir e superar com amor e realismo.
Por isso, em toda e qualquer circunstância em que se encontre e por mais dura que esta seja, o sacerdote tem de frutificar em toda a espécie de boas obras, conservando sempre vivas no seu íntimo aquelas palavras do dia da sua Ordenação com que se lhe exortava a configurar a sua vida com o mistério da Cruz do Senhor.
Configurar-se com Cristo comporta, queridos seminaristas, identificar-se sempre mais com Aquele que por nós Se fez servo, sacerdote e vítima.
Na realidade, configurar-se com Ele é a tarefa em que o sacerdote há de gastar toda a sua vida. Já sabemos que nos ultrapassa e não a conseguiremos cumprir plenamente, mas, como diz São Paulo, corremos para a meta esperando alcançá-la (cf. Fl 3, 12-14).
Imitai a Cristo em sua caridade até o fim
Mas Cristo, Sumo Sacerdote, é igualmente o Bom Pastor, que cuida das suas ovelhas até ao ponto de dar a vida por elas (cf. Jo 10, 11).
Para imitar nisto também o Senhor, o vosso coração tem de ir amadurecendo no Seminário, colocando-se totalmente à disposição do Mestre.
Dom do Espírito Santo, esta disponibilidade é que inspira a decisão de viver o celibato pelo Reino dos Céus, o desprendimento dos bens da Terra, a austeridade de vida e a obediência sincera e sem dissimulação.
Pedi-Lhe, pois, que vos conceda imitá-Lo na sua caridade até o fim para com todos, sem excluir os afastados e pecadores, de tal forma que, com a vossa ajuda, se convertam e voltem ao bom caminho.
Pedi-Lhe que vos ensine a aproximar-vos dos enfermos e dos pobres, com simplicidade e generosidade.
Afrontai este desafio sem complexos nem mediocridade, mas antes como uma forma estupenda de realizar a vida humana na gratuidade e no serviço, sendo testemunhas de Deus feito homem, mensageiros da dignidade altíssima da pessoa humana e, consequentemente, seus defensores incondicionais.
Edificai com a vossa conduta, aos vossos irmãos
Apoiados no seu amor, não vos deixeis amedrontar por um ambiente onde se pretende excluir Deus e no qual os principais critérios por que se rege a existência são, frequentemente, o poder, o ter ou o prazer.
Pode acontecer que vos desprezem, como se costuma fazer com quem aponta metas mais altas ou desmascara os ídolos diante dos quais muito se prostram hoje.
Será então que uma vida profundamente radicada em Cristo se revele realmente como uma novidade, atraindo com vigor a quantos verdadeiramente procuram Deus, a verdade e a justiça.
Animados pelos vossos formadores, abri a vossa alma à luz do Senhor para ver se este caminho, que requer coragem e autenticidade, é o vosso.
Isto é, avançando para o sacerdócio só se estiverdes firmemente persuadidos de que Deus vos chama para serem seus ministros e plenamente decididos a exercê-lo obedecendo às disposições da Igreja.
Com esta confiança, aprendei d’Aquele que Se definiu a Si mesmo como manso e humilde de coração, despojando-vos para isso de todo o desejo mundano, de modo que não busqueis o vosso próprio interesse, mas edifiqueis, com a vossa conduta, aos vossos irmãos, como fez o santo padroeiro do clero secular espanhol São João de Ávila.
Animados pelo seu exemplo, olhai, sobretudo, para a Virgem Maria, Mãe dos sacerdotes. Ela saberá forjar a vossa alma segundo o modelo de Cristo, seu divino Filho, e vos ensinará incessantemente a guardar os bens que Ele adquiriu no Calvário para a salvação do mundo.
