As temáticas que enfrentais nestes dias têm como denominador comum a educação e a formação, que constituem hoje um dos desafios mais urgentes que a Igreja e as suas instituições são chamadas a enfrentar. 

Parece que a obra educativa se tornou cada vez mais árdua pois, numa cultura que com demasiada frequência faz do relativismo o próprio credo, falta a luz da verdade, ­aliás é considerado perigoso falar da verdade, insinuando assim a dúvida sobre os valores básicos da existência pessoal e comunitária.

Por isso, é importante o serviço que prestam no mundo numerosas instituições formativas que se inspiram na visão cristã do homem e da realidade: educar é um ato de amor, exercício da “caridade intelectual”, que requer responsabilidade, dedicação e coerência de vida. 

O trabalho da vossa Congregação e as escolhas que fareis nestes dias de reflexão e de estudo certamente contribuirão para responder à atual “emergência educativa”. 

A voz do Senhor só se ouve se houver silêncio

A vossa Congregação, criada em 1915 por Bento XV, há quase cem anos realiza a sua obra preciosa ao serviço das várias Instituições católicas de formação.

Entre estas, sem dúvida, o seminário é uma das mais importantes para a vida da Igreja e, por conseguinte, exige um projeto formativo que tenha em consideração o contexto antes mencionado. 

Várias vezes realcei o modo como o seminário representa uma etapa preciosa da vida, no qual o candidato ao sacerdócio faz a experiência de ser “discípulo de Jesus”.

Para este tempo destinado à formação, é exigido um determinado destaque, um certo “deserto”, porque o Senhor fala ao coração como uma voz que só se ouve se houver silêncio (cf. I Rs 19, 12).

Mas é exigida também a disponibilidade para viver juntos, amar a “vida de família” e a dimensão comunitária, que antecipam aquela “fraternidade sacramental” que deve caracterizar cada presbítero diocesano.[1]

E que eu quis evocar inclusive na minha recente Carta aos seminaristas: “Uma pessoa não se torna sacerdote sozinha. É necessária a ‘comunidade dos discípulos’, o conjunto daqueles que querem servir a Igreja de todos”.

Orientar no uso correto e positivo dos meios informáticos

Nestes dias estais estudando também o esboço do documento sobre a Internet e a formação nos seminários. A internet, pela sua capacidade de superar as distâncias e de colocar as pessoas em contato recíproco, apresenta grandes possibilidades para a Igreja e a sua missão.

Com o necessário discernimento para um uso inteligente e prudente, é um instrumento que pode servir não só para os estudos, mas também para a ação pastoral dos futuros presbíteros nos vários campos eclesiais, como a evangelização, a ação missionária, a catequese, os projetos educativos e a gestão das instituições. 

Também neste campo é de extrema importância poder contar com formadores adequadamente preparados para que sejam guias fiéis e sempre atualizados, a fim de orientar os candidatos ao sacerdócio no uso correto e positivo dos meios informáticos. […]

Teologia, Sagrada Escritura e oração

Além disso, iniciastes uma revisão de quanto prescreve a Constituição Apostólica Sapientia christiana sobre os estudos eclesiásticos, relativos ao direito canônico, aos Institutos Superiores de Ciências Religiosas e, recentemente, à filosofia. 

A teologia é um setor sobre o qual se deve refletir particularmente. É importante tornar cada vez mais sólido o vínculo entre a teologia e o estudo da Sagrada Escritura, de modo que esta seja realmente a sua alma e coração. [2]

Contudo, o teólogo não deve esquecer de ser também aquele que fala a Deus. Portanto, é indispensável manter estreitamente unidas a teologia e a oração pessoal e comunitária, especialmente litúrgica.

A teologia é scientia fidei e a oração alimenta a fé. Na união com Deus, de qualquer modo, o mistério é saboreado, faz-se próximo, e esta proximidade é luz para a inteligência. 

Universidades católicas: identidade bem delineada e abertura à totalidade

Gostaria de realçar também a conexão da teologia com as outras disciplinas, considerando que ela é ensinada nas Universidades católicas e, em muitos casos, nas civis.

O beato John Henry Newman falava de “círculo do saber”, circle of knowledge, para indicar que existe uma interdependência entre os vários ramos do saber; mas Deus e só Ele tem relação com a totalidade do real; consequentemente, eliminar Deus significa interromper o círculo do saber. 

Nesta perspectiva as Universidades católicas, com as suas bem delineadas identidade e abertura à “totalidade” do ser humano, podem desenvolver uma obra preciosa para promover a unidade do saber, orientando estudantes e professores para a Luz do mundo, a “luz verdadeira que a todo o homem ilumina” (Jo 1, 9).

São considerações válidas também para as escolas católicas. Antes de tudo, é preciso ter coragem para anunciar o valor “amplo” da educação, para formar pessoas sólidas, capazes de colaborar com os outros e dar sentido à própria vida.

Hoje fala-se de educação intercultural, objeto de estudo inclusive na vossa Plenária.

Neste âmbito, requer-se uma fidelidade corajosa e inovativa, que saiba conjugar consciência clara da própria identidade e abertura à alteridade, pelas exigências do viver juntos nas sociedades multiculturais. 

A formação dos educadores deve incluir os aspectos religioso e espiritual

Também para este fim, emerge o papel educativo do ensino da Religião Católica como disciplina escolar em diálogo interdisciplinar com as outras.

De fato, ele contribui largamente não só para o desenvolvimento integral do estudante, mas inclusive para o conhecimento do outro, para a compreensão e o respeito recíproco. 

Para que tais objetivos sejam alcançados deve-se prestar particular atenção à formação dos dirigentes e formadores, não só sob o ponto de vista profissional, mas também religioso e espiritual, a fim de que, com a coerência da própria vida e o envolvimento pessoal, a presença do educador cristão se torne expressão de amor e testemunho da verdade.

 

Excertos do Discurso aos participantes na Plenária da Congregação para a Educação Católica, 7/2/2011.

[1] Cf. Presbyterorum ordinis, n.8.
[2] Cf. Verbum Domini, n.31.