Desejo meditar convosco sobre um aspecto às vezes não suficientemente considerado, mas de grande relevância espiritual e pastoral: o valor pedagógico da Confissão sacramental.

Se é verdade que é sempre necessário salvaguardar a objetividade dos efeitos do Sacramento e a sua correta celebração, segundo as normas do Rito da Penitência, não é inoportuno ponderar sobre quanto ele pode educar a fé, tanto do ministro como do penitente.

A disponibilidade fiel e generosa dos sacerdotes à escuta das confissões, segundo o exemplo dos grandes santos da História, de São João Maria Vianney a São João Bosco, de São Josemaría Escrivá a São Pio de Pietrelcina, de São José Cafasso a São Leopoldo Mandić, indica-nos a todos o modo como o confessionário pode ser um “lugar” real de santificação.

Contemplar a obra de Deus misericordioso na História

De que modo o Sacramento da Penitência educa? Em que sentido a sua celebração tem um valor pedagógico, em primeiro lugar para os ministros?

Poderíamos começar a partir do reconhecimento de que a missão sacerdotal constitui um ponto de observação singular e privilegiado do qual, cotidianamente, nos é concedido contemplar o esplendor da Misericórdia divina.

Quantas vezes, na celebração do Sacramento da Penitência, o presbítero assiste a verdadeiros milagres de conversão que, renovando o “encontro com um acontecimento, com uma Pessoa”,[1] fortalecem a sua própria fé.

No fundo, confessar significa assistir a tantas “professiones fidei” quantos são os penitentes, e contemplar a obra de Deus misericordioso na História, ver concretamente os efeitos salvíficos da Cruz e da Ressurreição de Cristo, em todos os tempos e para cada homem. 

Não raro, somos postos diante de verdadeiros dramas existenciais, que não encontram uma resposta nas palavras dos homens, mas são abraçados e assumidos pelo Amor divino, que perdoa e transforma: “Mesmo que os vossos pecados fossem vermelhos como a púrpura, ficariam brancos como a neve!” (Is 1, 18).

Conhecer e, de certo modo, visitar o abismo do coração humano, até nos aspectos mais obscuros, se por um lado se põe à prova a humanidade e a fé do próprio sacerdote, por outro, alimenta nele a certeza de que a última palavra sobre o mal do homem e da História é de Deus, é da sua Misericórdia, capaz de renovar todas as coisas (cf. Ap 21, 5).

Profundas lições de humildade e de fé

Depois, quanto pode aprender o sacerdote de penitentes exemplares pela sua vida espiritual, pela seriedade com que realizam o exame de consciência, pela transparência no reconhecimento do pecado pessoal e pela docilidade ao ensinamento da Igreja e às indicações do confessor!

Da administração do Sacramento da Penitência podemos receber profundas lições de humildade e de fé! É uma exortação muito forte para cada sacerdote à consciência da própria identidade. 

Só em virtude da nossa humanidade, não poderíamos ouvir as confissões dos irmãos!

Se eles nos procuram, é somente porque somos presbíteros, configurados com Cristo Sumo e Eterno Sacerdote, e tornados capazes de agir no seu Nome e na sua Pessoa, tornar realmente presente Deus que perdoa, renova e transforma.

A celebração do Sacramento da Penitência tem um valor pedagógico para o sacerdote, em vista da sua fé, da verdade e da pobreza da sua pessoa, e alimenta nele a consciência da identidade sacramental.

A confissão educa o penitente para a humildade

Qual é o valor pedagógico do Sacramento da Penitência para os penitentes?

Devemos admitir previamente que ele depende, antes de tudo, da obra da Graça e dos efeitos objetivos do Sacramento da alma do fiel. 

Certamente, a Reconciliação sacramental é um dos momentos em que a liberdade pessoal e a consciência de si são chamadas a manifestar-se de modo particularmente evidente.

Talvez seja também por este motivo que, numa época de relativismo e de uma consciência consequentemente atenuada do próprio ser, se debilitou inclusive a prática sacramental. 

O exame de consciência tem um importante valor pedagógico: ele educa a considerar com sinceridade a própria existência, a confrontá-la com a verdade do Evangelho e a avaliá-la com parâmetros não apenas humanos, mas conferidos pela Revelação divina.

O confronto com os Mandamentos, com as Bem-Aventuranças e, principalmente, com o Preceito do amor, constitui a primeira grande “escola penitencial”.

No nosso tempo, caracterizado pelo barulho, pela distração e pela solidão, o diálogo do penitente com o confessor pode representar uma das poucas, se não a única ocasião para ser escutado verdadeiramente, e em profundidade.

Diletos sacerdotes, não deixeis de reservar o espaço oportuno para o exercício do ministério da Penitência no confessionário: ser acolhido e escutado constitui inclusive um sinal humano do acolhimento e da bondade de Deus em relação aos seus filhos. 

Além disso, a confissão integral dos pecados educa o penitente para a humildade, o reconhecimento da sua fragilidade pessoal e, ao mesmo tempo, para a consciência da necessidade do perdão de Deus e a confiança de que a Graça divina pode transformar a sua vida.

Quantas conversões começaram num confessionário!

Do mesmo modo, a escuta das admoestações e dos conselhos do confessor é importante para o juízo sobre os atos, para o caminho espiritual e para a cura interior do penitente. 

Não podemos esquecer quantas conversões e quantas existências realmente santas começaram num confessionário!

O acolhimento da penitência e a escuta das palavras “absolvo-te dos teus pecados” representam, enfim, uma autêntica escola de amor e de esperança, que orienta para a plena confiança em Deus Amor, revelado em Jesus Cristo, para a responsabilidade e o compromisso da conversão contínua. 

Caros sacerdotes, o fato de sermos nós os primeiros a experimentar a Misericórdia divina e de sermos os seus instrumentos humildes, educa-nos para uma celebração cada vez mais fiel do Sacramento da Penitência e para uma profunda gratidão a Deus, que “nos confiou o ministério da reconciliação” (I Cor 5, 18).

À Bem-Aventurada Virgem Maria, Mater misericordiæ e Refugium peccatorum, confio os frutos do vosso Curso sobre o Foro Interno e o ministério de todos os Confessores, enquanto vos abençoo com grande afeto.

 

Excerto do Discurso aos participantes no Curso promovido pela Penitenciaria Apostólica, 25/3/2011.

Nota
[1] Deus caritas est, n.1.