Não é a primeira vez que o Conselho para os Leigos organiza um Seminário para os Bispos sobre os movimentos laicais. Recordo bem o de 1999, ideal prolongamento pastoral do encontro do meu amado Predecessor, João Paulo II, com os movimentos e as novas comunidades, realizado em 30 de maio do ano anterior.

Como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, tomei parte pessoalmente no debate. Tive oportunidade de estabelecer um diálogo direto com os Bispos, um intercâmbio franco e fraterno sobre muitas questões importantes.

O despertar de um vigoroso impulso missionário

Analogamente, o Seminário de hoje quer ser uma continuação do encontro que eu próprio tive, em 3 de junho de 2006, com uma ampla representação de fiéis pertencentes a mais de cem novas associações laicais.

Nessa ocasião indiquei na experiência dos movimentos eclesiais e das novas comunidades o “sinal luminoso da beleza de Cristo, e da Igreja, sua Esposa”.1

Dirigindo-me “aos queridos amigos dos movimentos”, exortei-os a serem cada vez mais

escolas de comunhão, companheiros a caminho nos quais se aprende a viver na verdade e no amor que Cristo nos revelou e comunicou por meio do testemunho dos Apóstolos, no seio da grande família dos seus discípulos”. 2

Os movimentos eclesiais e as novas comunidades são uma das mais importantes novidades suscitadas pelo Espírito Santo na Igreja, pela atuação do Concílio Vaticano II.

Difundiram-se precisamente ao abrigo da assembléia conciliar, sobretudo nos anos seguintes, num período cheio de entusiasmantes promessas, mas marcado também por difíceis provas.

Paulo VI e João Paulo II souberam acolher e discernir, encorajar e promover a inesperada irrupção das novas realidades laicais que, em variadas e surpreendentes formas, voltavam a dar vitalidade, fé e esperança a toda a Igreja.

Realmente, já então davam testemunho da alegria, da razoabilidade e da beleza de ser cristãos, mostrando-se gratos por pertencer ao mistério de comunhão que é a Igreja.

Assistimos ao despertar de um vigoroso impulso missionário, movido pelo desejo de comunicar a todos a preciosa experiência do encontro com Cristo, entendida e vivida como a única resposta adequada à profunda sede de verdade e de felicidade do coração humano.

“Peço-vos para irdes ao encontro dos movimentos com muito amor”

Ao mesmo tempo, como não dar-se conta de que uma tal novidade ainda espera ser adequadamente compreendida à luz do plano de Deus e da missão da Igreja nos cenários do nosso tempo?

Precisamente por isso sucederam-se numerosas intervenções de convocação e de orientação por parte dos Pontífices, que deram início a um diálogo e a uma colaboração cada vez mais aprofundados, a nível de muitas igrejas particulares.

Foram superados não poucos preconceitos, resistências e tensões.

Falta executar a importante tarefa de promover uma comunhão mais amadurecida de todos os componentes eclesiais, para que todos os carismas, no respeito da sua especificidade, possam contribuir plena e livremente para a edificação do único Corpo de Cristo.

Apreciei muito o fato de ter sido escolhida, como programa do Seminário, a exortação por mim dirigida a um grupo de Bispos alemães em visita ad limina, que hoje novamente vos proponho, a todos vós, Pastores de tantas igrejas particulares: “Peço-vos para irdes ao encontro dos movimentos com muito amor” (18/11/2006).

Quase poderia dizer que nada mais tenho a acrescentar! A caridade é o sinal distintivo do Bom Pastor: ela torna influente e eficaz o exercício do ministério a nós confiado.

Ir com muito amor ao encontro dos movimentos e das novas comunidades estimula-nos a conhecer adequadamente a sua realidade, sem impressões superficiais ou opiniões restritivas.

Ajuda-nos também a compreender que os movimentos eclesiais e as novas comunidades não são um problema ou um risco a mais que se soma às nossas já pesadas incumbências. Não!

Eles são um dom do Senhor, um precioso recurso para enriquecer com os seus carismas toda a comunidade cristã. Por isso não deve faltar um acolhimento confiante que lhes dê espaços e valorize as suas contribuições na vida das Igrejas locais.

Dificuldades ou incompreensões sobre questões particulares não autorizam o fechamento. O “muito amor” inspire prudência e paciência.

A nós, Pastores, pede-se acompanhar de perto, com solicitude paterna, de modo cordial e sábio, os movimentos e as novas comunidades, para que possam pôr generosamente a serviço da utilidade comum, de maneira ordenada e fecunda, os numerosos dons de que são portadores.

E que aprendemos a conhecer e apreciar: o impulso missionário, os itinerários eficazes de formação cristã, o testemunho de fidelidade e de obediência à Igreja, a sensibilidade para com as necessidades dos pobres, a riqueza de vocações.

Discernir e guiar os carismas, sem sufocá-los

A autenticidade dos novos carismas é garantida pela sua disponibilidade a submeter-se ao discernimento da autoridade eclesiástica.

Numerosos movimentos eclesiais e novas comunidades foram já reconhecidos pela Santa Sé e por isso são, sem dúvida, considerados um dom de Deus para toda a Igreja.

Outros, ainda em fase nascente, requerem a prática de um acompanhamento ainda mais delicado e vigilante da parte dos Pastores das igrejas particulares.

Quem está chamado a um serviço de discernimento e de direção não pretenda impor-se arbitrariamente aos carismas, mas, pelo contrário, guarde-se do perigo de sufocá-los (cf. I Ts 5, 19-21), resistindo à tentação de uniformizar aquilo que o Espírito Santo quis multiforme a fim de contribuir para a edificação e a dilatação do único Corpo de Cristo, que o mesmo Espírito torna firme na unidade.

Consagrado e assistido pelo Espírito de Deus, em Cristo, Cabeça da Igreja, o Bispo deverá examinar e provar os carismas, para reconhecer e valorizar o que é bom, verdadeiro e belo, o que contribui para o incremento da santidade dos indivíduos e das comunidades.

Quando forem necessárias intervenções de correção, sejam também elas expressões de “muito amor”.

Os movimentos e as novas comunidades mostram-se ufanos da sua liberdade associativa, da fidelidade ao seu carisma, mas também demonstraram saber bem que fidelidade e liberdade são garantidas, e certamente não limitadas, pela comunhão eclesial, da qual os Bispos, unidos ao Sucessor de Pedro, são ministros, guardas e guias.

Amados irmãos no Episcopado, no final deste encontro exorto-vos a reavivar em vós o dom que recebestes com a vossa consagração (cf. II Tm 1, 6).

O Espírito de Deus nos ajude a reconhecer e guardar as maravilhas que Ele próprio suscita na Igreja, em benefício de todos os homens.

Confio a Maria Santíssima, Rainha dos Apóstolos, as vossas Dioceses e concedo-vos de todo o coração uma afetuosa Bênção Apostólica, que estendo aos sacerdotes, aos religiosos, às religiosas, aos seminaristas, aos catequistas e a todos os fiéis leigos.

E estendo especialmente, hoje, aos membros dos movimentos eclesiais e das novas comunidades presentes nas Igrejas confiadas aos vossos cuidados.

 

Discurso aos participantes do Seminário de Estudo promovido pelo Pontifício Conselho para os Leigos, 17/5/2008 — Tradução Arautos do Evangelho)

1 Cf. Mensagem aos Participantes do Congresso de 22 de maio de 2006.
2 Ibidem.